Logo O POVO+
Americanas e a incontabilidade financeira
Foto de Beatriz Cavalcante
clique para exibir bio do colunista

Jornalista formada em Comunicação Social pela Universidade Federal do Ceará (UFC). É editora digital de Economia do O POVO, onde começou em 2014. Atualmente, cursa MBA em Gestão de Negócios e está andamento de Certificação Internacional em Marketing Digital pela ESPM

Americanas e a incontabilidade financeira

O inexplicável explicável erro da gigante varejista
Tipo Notícia
Crise motivou fechando do Centro de Distribuição (Foto: FÁBIO LIMA)
Foto: FÁBIO LIMA Crise motivou fechando do Centro de Distribuição

.

A incontabilidade financeira das Americanas é ao mesmo tempo explicável e sem explicação. Primeiro que não tem como se alegar inocência ou desconhecimento diante de tamanho rombo anunciado de R$ 20 bilhões por Sérgio Rial na semana passada. Frisando que esse montante pode ser ainda maior.

Como uma das consequências imediatas, o descumprimento de contratos e de vencimentos antecipados e de dívidas. Inclusive, a dívida prevista em documento judicial é de R$ 40 bilhões.

Do lado do inexplicável, André Leite, gerente de portfólio da Kairós Capital, em análise ao mercado, lembra que a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), em 2016, já havia alertado para esse tipo de operação.

Na prática, a empresa não registrou a despesa financeira que teve com a operação de antecipação para o fornecedor. Lembrando que são milhares principalmente pelo e-commerce da varejista.

Aí entramos na parte explicável. André exemplifica que se a Americanas comprou R$ 100 do fornecedor no prazo de 90 dias, o banco anteciparia R$ 90 para o fornecedor e a empresa pagaria R$ 100 no prazo acordado.

Portanto, a gigante do varejo teria que registrar R$ 90 como custo de mercadoria vendida e os R$ 10 como despesa financeira, mas este último valor não estava sendo computado e isso aconteceu por anos.

"Tivemos 7-10 anos com lucros artificialmente maiores, dividendos e JCP (juros sobre capital próprio) pagos sobre um lucro que não houve e os executivos receberam seus bônus sobre um resultado fake", frisa André na análise.

Os efeitos da irresponsabilidade recaíram sobre a bolsa de valores (B3) que fechou a segunda-feira em queda de 1,54% e reverberou em outras empresas, como os bancos. Fundos de investimentos atrelados à AMER3 também foram bastante prejudicados e assim seus investidores.

Somente ontem, as ações das Americanas caíram acima de 38% e chegaram a R$ 1,94. No mês, o desastre na AMER3 chega a 79,9% de derretimento dos papéis da varejista.

Mas muitos acham que o prejuízo fica somente no mercado de capitais. Este, interligado com a chamada economia real, chegará ao consumidor. Muitos esperam ávidos até por promoções, mas o que de fato está na lista da espera é o corte de empregos e a redução das lojas. Por enquanto, a Americanas respira a ritmos ofegantes.

Aracati

Em visita ao O POVO, o prefeito de Aracati, Bismarck Maia, antecipou à coluna a instalação do Grupo Mateus no município. Já adquiriu terreno, localizado na entrada da cidade, no sentido de quem vai às praias, vizinho ao hospital.

"Esse é um investimento para ter mais de 300 empregos diretos com faturamento de R$ 18 milhões". Segundo Bismarck, eles também esperam atingir atacadistas localizados a até 300 quilômetros de Aracati.

Bate-pronto com Igor Lucena, novo presidente do Corecon-CE

De chegada ao Conselho Regional de Economia do Ceará (Corecon-CE), cuja solenidade de posse será na quinta-feira, 19 de janeiro, Igor Lucena, novo a comandar a entidade, concede entrevista à coluna sobre os pleitos para 2023, as economias nacional e local e como desvincular a imagem dele da política.

Igor Lucena vai assume a Presidência do Conselho Regional de Economia no CE(Foto: divulgação )
Foto: divulgação Igor Lucena vai assume a Presidência do Conselho Regional de Economia no CE

O POVO - Quais são os seus pleitos como presidente do Corecon?

Igor Lucena - Há dois pleitos principais: da porta para dentro e da porta para fora. Para dentro, quando a pessoa se forma no direito tem aquela fotinha clássica da carteirinha da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) com orgulho.

Vamos retomar e que as pessoas que se formem batam foto com a carteira e tenham orgulho dentro do Conselho. Temos uma quantidade baixa de economistas que se formam, e essas pessoas não estão dentro do Conselho por diversos motivos.

O principal motivo é porque não se sentem representados, não conseguem ver objetivos claros. A gente tem o dever de casa muito grande do ponto de vista de classe para fortalecer o quadro do conselho em uma renovação.

Acho que a minha própria eleição foi motivo de renovação. Não foi pela minha idade, 33 anos, mas porque tenho uma espécie de mix de atividades, sou professor, sou empresário, trabalho com o terceiro setor, setor de cultura, consigo transitar dentro de setores econômicos, que as pessoas veem como distantes, na academia.

OP - Qual o montante de concludentes que se registra no Corecon?

Igor - Não chega a 10% dos concludentes que se associam ao Conselho. E você tem hoje várias, excelentes, e grandes mentes econômicas do nosso Estado, que já fizeram parte no passado, e que não estão no conselho. E por vários motivos, discordâncias. Muitas vezes, o Conselho tomou opiniões partidárias, o que, na minha opinião, é nefasto para um conselho de classe, seja para um lado ou para um outro.

Não se pode ter posição política, ser chapa branca, temos que mostrar que somos um Conselho de visão técnica e não de política partidária. Vamos abolir de uma maneira total qualquer tipo de político-partidária. O Conselho de Economia tem de tratar de economia.

Para fora da porta, os economistas novos, que não estão no conselho, precisam entender o pensamento coletivo dentro do conselho.

OP - Haverá aumento da contribuição do economista?

Igor - Aumento de valores para registro não vai ser feito. Estamos vendo revisão com valores diferenciados para estudantes se cadastrem antes mesmo de terminar o curso e pode ser a partir do primeiro semestre.

OP - Qual o montante de aumento de registros no Corecon, visto que são cerca de 2 mil economistas atualmente?

Igor - Nossa ideia é que no fim da gestão tenhamos pelo menos incremento de 20%. Mas mais importante do que isso é tornar um hábito as pessoas estarem nos cursos e já entrarem dentro do Conselho.

OP - O Conselho vai divulgar relatórios?
Igor - Vamos divulgar relatórios econômicos periódicos, cartas abertas sobre os pensamentos. É inadmissível que no ano passado não falamos sobre os impostos, diminuição do PIS/Cofins, da alíquota de ICMS sobre transportes, telecomunicações, energia e combustíveis.

O Conselho precisa se posicionar seja sobre questões fiscais, monetárias, se são positivas ou negativas. O debate sobre Taxa do Lixo o Conselho vai se posicionar.

Temos também de nos aproximar ao setor produtivo e esse setor produtivo tem bastante dúvida desse cenário, da análise de indicadores.

O Conselho precisa ser um órgão não só consultivo, mas precisa se posicionar e mostrar que dentro do seu posicionamento há indicadores e visões baseados na lógica, na teoria econômica clássica e principalmente dentro de um arcabouço atual da situação brasileira e mundial.

OP - Qual será a periodicidade dos relatórios?

Igor - O de conjuntura será mensal e que abordem visão global, nacional e local e como essas mudanças geoeconômicas, geopolíticas afetam o nosso mundo, sejam empreendedores e consumidores no Brasil.
E faz parte do projeto lançarmos cartas abertas sempre que tiver algum impacto econômico.

A gente está tendo agora a saída das primeiras medidas econômicas do Governo Federal. Serão cartas não só internamente mas na grande mídia, com cartas lançadas de um ou dois dias depois de um fato econômico de impacto da sociedade.

OP - Quando devem começar a sair os relatórios?

Igor - Tivemos a primeira reunião no começo de janeiro e a ideia é que tenhamos a primeira edição ainda em fevereiro, até o fim do mês.

OP - Qual a sua avaliação sobre a economia do Brasil?

Igor - Todo início de governo precisa ter uma certa necessidade de urgência. Quando o presidente Bolsonaro assumiu, as pessoas não lembram, mas a nossa urgência era a necessidade de fazer a reforma da Previdência. A gente tinha um gasto estratosférico e que isso passou basicamente quase seis meses do mandato.

O que acontece hoje é a mesma coisa. Temos uma necessidade urgente de o ministro (Fernando) Haddad (da Fazenda) apresente um plano crível, que seja exequível e que traga confiança dos agentes do ponto de vista que os gastos públicos tenham um arcabouço fiscal.

Ou seja, por mais que neste ano a gente tenha um déficit e o ano que vem também, mas que no longo prazo a nossa tendência de taxas de juros caiam, porque a razão dívida PIB vai cair. Esse é um ponto principal.

Hoje mesmo a equipe econômica deu um indicativo de que tem como objetivo 0 ou 1 aprovar a reforma tributária. Isso é uma excelente informação.

Eu vejo como um cenário positivo, porque no cenário externo a situação está cada vez pior. A tendência é que a União Europeia cresça 0%, a economia americana ainda está desacelerando e vai continuar desacelerando até o fim do ano. A ideia é crescimento em torno de 0,5%.

E a China que iria crescer 6% provavelmente vai crescer 5,1%, 4,8%.

Então o Brasil historicamente é controlado por esses três players. Se essas nações caem, o Brasil cai. A única maneira de o Brasil ter crescimento mínimo neste ano seria através de reformas.

O fato de estarmos com equipe econômica querendo fazer reforma, principalmente a tributária é fundamental.

Se o governo Lula fizer a reforma tributária vai ser o grande feito dele. O governo Bolsonaro teve dois grandes feitos: a independência do Banco Central e a reforma da Previdência.

Isso significa que, o governo brasileiro, depois de dezenas de anos, conseguiu pegar três reformas importantes. Então mostra visão de tentar de fato modernizar o estado brasileiro.

Mas o crescimento econômico de 2022 provavelmente vai ficar em 3% e esse ano não vai chegar em 1%. Então a gente precisa da reforma.

Outro desafio importante é que o Brasil gasta mais de R$ 200 bilhões por ano em subsídios fiscais. Está na hora de a gente entender se esses subsídios são necessários. Se tiver empresas que somente sobrevivem no Brasil porque têm subsídio fiscal?... Às vezes você está dando subsídio de R$ 20 bilhões para um setor que talvez esse valor fosse mais útil para outra área.

E também temos a visão de que temos de produzir tudo. Podemos importar. A indústria nova está na indústria do conhecimento.

OP - Quais os desafios do Ceará?

Igor - O maior ativo do Ceará não são nossas belezas naturais é a nossa capacidade não só de empreender, mas de formação de estudantes é alta. O problema é reter essas pessoas.

No Ceará, um dos pontos positivos é que Fortaleza se tornou a cidade mais rica do Nordeste. A gente sempre ficou atrás de Salvador e Recife.

Neste sentido, o sistema cooperação entre União, Estado e município foram fundamentais, como a gente ter privatizado antes o Aeroporto de Fortaleza para uma empresa de alta qualidade como a Fraport.

Isso foi feito no sistema de parceiras com o Governo Federal, parte do dinheiro veio do Banco do Nordeste, a prefeitura fez isenções na área tributária, o Governo reduziu ICMS sobre o querosene de aviação.

Foi um conjunto de incentivos que transformou a cidade. Então mostra que isso transforma realidades. A história das estruturas do hub foi fundamental.

Agora precisa para Fortaleza e Região Metropolitana trazer mais empresas. Quando vem uma Amazon, vem uma cadeia produtiva que complementa para atender a empresa.

Estamos atraindo investimentos internacionais mas temos de fazer o transbordamento de outros setores econômicos em torno desses investimentos.

Agora do ponto de vista do Ceará há concentração e infelizmente o Interior é muito mais pobre. É preciso ter uma descentralização de grandes investimentos produtivos e que a riqueza não fique somente na Capital.

Esse é o ponto: Fortaleza continuar a se desenvolver, mas não ser uma esponja que suga tudo. O interior precisa desse nível de investimento.

A violência em Fortaleza explodiu porque não tem oportunidades no Interior.

OP - O Corecon quer fazer uma gestão apartidária, mas o que falar para as pessoas que ainda o veem com uma imagem vinculada ao plano econômico do Capitão Wagner na época de campanha, em que você estava com Geraldo Luciano, Marcos Holanda, e também do seu pai (Gaudêncio Lucena), que é emedebista?

Igor - É um ponto de vista muito claro: a partir do momento que eu sou eleito pela classe dos economistas, o meu ponto de vista tem que ser baseado no que eu aprendi como economista.

Tecnicidade do ponto de vista claro e desenvolvimento da parte econômica e empresarial. Eu não posso labutar em partes partidárias ou não. Agora, opiniões pessoais minhas não serão ditas dentro de um conselho.

Isso não significa que você tem dentro dos conselhos como um todo opiniões pessoais. Dentro dos conselhos você tem opiniões mais à direita ou à esquerda, isso obviamente vai existir.

Agora, o posicionamento oficial meu como presidente do conselho e também do próprio Corecon será sempre do que é melhor para a economia, nã vai a uma visão política ou outra.

Isso ocorre basicamente em toda instituição. É importante dizer que todo ser humano é animal político, tem seus lados e suas visões. Agora, a partir do momento que eu me sento à cadeira, meu objetivo é representar a classe e ao que ela interessa.

A minha visão sempre vai ser hortodoxa. Em nenhum momento vou me portar de maneira heterodoxa para lado A ou B.

Mais notícias de Economia

Foto do Beatriz Cavalcante

Ôpa! Tenho mais informações pra você. Acesse minha página e clique no sino para receber notificações.

O que você achou desse conteúdo?