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Entrevista com João Kepler: "A pergunta é: Como me torno essencial?"
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Jornalista formada em Comunicação Social pela Universidade Federal do Ceará (UFC). É editora digital de Economia do O POVO, onde começou em 2014. Atualmente, cursa MBA em Gestão de Negócios e tem Certificação Internacional em Marketing Digital pela ESPM e DMI da Irlanda

Entrevista com João Kepler: "A pergunta é: Como me torno essencial?"

Para o CEO do Equity Group e um dos principais investidores-anjo do País, o brasileiro já está preparado para empreender e inovar frente aos desafios que já enfrenta
Palestrantes do evento Equity Tour (Foto: Cecília Cindy/Fabula Marketing/Divulgação)
Foto: Cecília Cindy/Fabula Marketing/Divulgação Palestrantes do evento Equity Tour

Na semana que passou, a coluna foi conferir o evento Equity Tour, no Hotel Gran Marquise, a convite da contadora Adriana Queiroz (de branco), fundadora da Wert Consultoria.

A ocasião reuniu diversos empresários de segmentos de academia a tecnologia. A ideia do evento, promovido pela SME The New Economy, era promover uma mudança de mentalidade em relação a sair do operacional e começar a pensar em valor de mercado, crescimento estruturado e construção de ativos.

Na programação de mais de oito horas estava João Kepler (terno cinza), CEO do Equity Group e um dos principais investidores-anjo do País. Ele concedeu entrevista e revelou que conversa com quatro empresas do Ceará, com potencial para inovação.

O POVO - O Nordeste foi considerado a segunda região mais inovadora, segundo pesquisa do Sebrae sobre startups. A partir desta pesquisa, como enxerga a Região?

João Kepler - O Nordeste tem muitas oportunidades e muitos desafios. Vai ter muitas oportunidades exatamente porque tem desafio. O empreendedor, quanto ele entende isso, ele começa a desenvolver soluções para resolver esse problema.

Então, a inovação acontece quando essa fórmula existe. Não é criar nada novo… É melhorar e ampliar o que já existe. Muitas empresas no Nordeste estão ainda com a cabeça na velha economia. Quando a gente entra na nova economia, as empresas do Nordeste, sejam tradicionais ou não. Elas agora têm uma grande oportunidade de abraçar e inovar e construir um cenário na nova economia. 

OP - O que citas de modelo aqui da Região? 

João Kepler - Aqui no Ceará tem Moinhos, tem grandes empresas de bolacha… Agora, já se vê que há empresas pequenas e muito inovadoras. Um dos exemplos que investi aqui foi a Agenda Edu. Ela representa exatamente isso… Uma solução para a escola sem ter a escola. Ela criou uma solução que resolveu o problema de comunicação de pais, alunos e escola.

Esta solução terminou sendo vendida, mas ela tem um crescimento e um valor de mercado gigante, muito mais do que uma empresa, muitas vezes, que tem estrutura maior. 

OP - Qual o perfil que buscas para o seu fundo, para mentoria?

João Kepler - Tenho 16 anos de investimento. Então, eu tenho muita experiência. E me chamam de mentor, às vezes, porque não é só um investimento. É uma orientação, é participar de um evento desse, é deixar uma experiência.

Tenho um fundo de venture capital, que são startups, e tem o fundo de private equity, que são empresas normais. Mas eu não sou mentor, eu sou investidor e eu procuro negócios que façam sentido para o meu portfólio, que sejam sinérgicos.

No caso da Bossa (Invest), que vamos fazer nove anos, a gente investe no pequeno negócio, no começo, como investidor Anjo, pré-seed.

A gente investe em startups, basicamente, que resolvem o problema de empresas, que é o B2B (negócios para negócios). O nosso foco é continuarmos a investir em torno de 10 empresas por mês. No private equity, acredito que são cerca de 80 empresas.

OP - A maioria Sul, Sudeste?

João Kepler - A gente está conversando com algumas empresas daqui também. Não tenho esse problema de barreira.

Vejo com muito a oportunidade para mim. Um empresário, ele tem que entender que a minha participação, é a participação do que a gente chama smart money.

OP - Sim, o seu livro…. 

João Kepler - Exatamente…. Se for uma empresa tradicional, ela tem que ter a cabeça na nova economia, então, o que faço a cada 40 dias? Eu junto em São Paulo 50 empresários. A gente faz uma imersão de dois dias. Então, a partir dali, a gente se conhece. E ali vejo e eu faço uma triagem do que posso investir e no que eu não posso investir.

A maneira de se relacionar comigo é indo para essa imersão para você aprender, entender como trabalho, como penso, para ver se vai fazer sentindo o seu negócio.

Por exemplo, aqui hoje, em Fortaleza, tem quatro empresas que estou conversando…

OP - Quais?

João Kepler - Estou conversando com a empresa Helder Montenegro, estou conversando com a empresa Central de Geradores e outras empresas. Estou conversando com quatro empresas

OP - Qual é o setor que mais inova? 

João Kepler - Hoje dá para inovar e ir para a nova economia em qualquer setor. Quem está inovando é quem entende os níveis de consciência, quem amplia sua consciência para entender a oportunidade e não mais a necessidade. Porque o empresário está muito acostumado a caixa, Ebitda, lucro, faturamento, venda. O que mais tem além disso?

O que mais isso pode agregar valor para o teu negócio? Então, para mim não é o quanto você fatura hoje, é o quanto você vai gerar de impacto e faturamento amanhã.

OP - E o que queres gerar de impacto e mudar a mente do empresário aqui em Fortaleza?

João Kepler - Quero exatamente mudar essa chave do empresário para ele tirar a cabeça apenas do dinheiro, da necessidade do dinheiro, e para ele entender que para ele prosperar, ele precisa prosperar tudo. Os outros, os clientes, os fornecedores, o mercado… Ele tem de gerar impacto. Gerar impacto não estou falando só de impacto social, de doação, ele tem que gerar impacto como um todo.

Qual o valor que ele vai ter no futuro, por conta disso tudo, desse agregado? E claro que a tecnologia está embarcada nisso. Uma empresa de locação de geradores, o que ela pode fazer além do que locar gerador?

OP - Ele tem que vender além do produto….

João Kepler - Que ele possa agregar valor além do produto e fazer coisas além do que ele vende, porque não é o produto e o serviço que ele vende. É a solução do problema que ele está resolvendo. Parece a mesma coisa, mas não é.

OP - E quando se personaliza o serviço?

João Kepler - Sim, de uma forma, mas quando você personaliza você não escala. Escalar é crescer receita sem crescer despesa.

OP - Qual o segredo para se escalar serviços e ir além da mera personalização? Quais os serviços hoje mais escaláveis?

João Kepler - Qualquer tipo de serviço: contabilidade, advogado, qualquer tipo de serviço. Principalmente o autônomo que não tem nenhuma amarra. Uma empresa hoje, você imagina, ela é um transatlântico, um navio, difícil de dar uma curva, tem hierarquia. 

Com o autônomo é mais simples, porque ele não tem essa estrutura engessada. Não estou dizendo que o grande não faz, mas o autônomo não tem esse peso todo.

OP - Como avalia hoje a inovação no ambiente de negócios do Brasil, que não está apartado do global, que também enfrenta dificuldades, porque a gente também pode vender para fora...

João Kepler - A gente também pode vender para fora e deve. Tenho vários investimentos lá fora. E eu sempre digo que quando tem crise é quando a gente mais cresce. Porque existem oportunidades que ninguém vê, mas quando você está na crise é quando as oportunidades surgem.

Você quando está na crise, no buraco, você não sai dele.

João Kepler - E como enxergar?

Quando você só se junta com gente que fala só de coisa ruim, você se junta a ele. Ah, mas esse cara está falando isso porque ele tem muito dinheiro…. Não é, se você fica com pessoas que querem crescer, vibra em outra energia. E a energia é solução. A energia é oportunidade. Os empresários que vibram nessa energia conseguem fazer do limão uma limonada.

A mensagem é: se você for essencial para o teu público, ele te compra. Ele te busca, ele vai querer você. A pergunta é: Como me torno essencial? Como apresento a minha solução como resolvedora daquele problema.

E aí a crise mundial é mais oportunidade. Porque o brasileiro já empreende com um problema nas costas. Quem empreende no Brasil, com toda a nossa dificuldade, empreende em qualquer lugar do mundo.

A gente já está preparado, a gente já casca-grossa. Não tem que ficar preocupado. Vai entrar governo, vai mudar governo e você fica focado nisso? Vai mudar dólar, vai subir… E você fica focado nisso e fica focado em crise. 

Tem negócios que são atrelados ao dólar que sofrem, mas se eu tiver algo atrelado o que eu ia fazer com isso? Eu ia buscar alternativas e eu não ia ficar sofrendo com a situação. 

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