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Mais dez trapalhadas: leitores (e Camus) enriqueceram a lista
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Boris Feldman é mineiro, formado em Engenharia e Comunicação. Foi engenheiro da fábrica de peças para motores Metal Leve e editor de diversos cadernos de automóveis. Escreve a coluna sobre o setor automotivo no O POVO e em diversos outros jornais pelo país. Também possui quadro sobre veículos na rádio O POVO/CBN

Mais dez trapalhadas: leitores (e Camus) enriqueceram a lista

Famoso escritor francês esteve por aqui nos anos 1950 e disse que os motoristas brasileiros são "alegres loucos ou frios sádicos"
Tipo Opinião

Muitos leitores também se manifestaram sobre o motorista brasileiro, acrescentando outras trapalhadas às mencionadas em nossa última coluna. Aliás, até o escritor francês Albert Camus se assustou com o nosso trânsito...

Luzes – São muitos os motoristas que não dão a menor pelota para os outros na estrada ou na cidade quando o assunto são os faróis. Que vivem desregulados. Ou se desregularam por excesso de peso no porta-malas ou caçamba e o motorista não teve o cuidado de acionar o ajuste. Incomodam também os originais substituídos por leds, xênon ou semi-holofotes instalados irregularmente.

Infração – O esperto não se preocupa com congestionamentos na rodovia. Afinal – pensa ele – acostamento é exatamente para eu ultrapassar todos estes trouxas esperando aí nas faixas centrais. E não hesitam em acelerar pelo acostamento. Acabam formando outra fila, que vai impedir a passagem dos carros de socorro como bombeiros ou ambulâncias.

Fila? É possível a conversão à esquerda numa avenida, com semáforo. E enquanto fechado, forma-se uma fila de carros aguardando o verde. Mas tem sempre o esperto que passa por todos e, próximo ao semáforo, "espreme" os que aguardavam pacientemente, fura a fila, converte e vai em frente...

"Preferência" – Tem motorista que não vacila em acionar a seta direcional para mudar de faixa na avenida ou na estrada. E acha que por isso não precisa se preocupar com os outros carros vindo por ela. Afinal – pensa o esperto – se eu sinalizei, então tenho a preferência para entrar ou mudar de faixa. Quem vem nela que reduza para que eu possa entrar...

Cinto – Por incrível que pareça, o cinto do banco traseiro ainda não é afivelado pela maioria dos passageiros. Estatísticas da polícia rodoviária revelam que nem a metade de quem vai atrás se protege com ele. Pois acham ser obrigatório apenas nos bancos dianteiros. "Então, – perguntam – para quê usá-lo atrás, se tem o encosto do banco dianteiro me protegendo?”. Mas, além de nada proteger, cinto é obrigatório para todos os passageiros.

Mínima – O código de trânsito é muito claro: proibido circular numa rodovia a uma velocidade inferior à metade da máxima. E o que mais se vê são carros rodando a 40km/h ou 50km/h em estradas em que a máxima é de 110km/h. São, em geral, aqueles chatos que rodam na faixa da esquerda sem dar passagem para os que chegam mais rápidos. Ou vão reduzindo a velocidade em plena rodovia à procura de alguma placa ou sinalização. Ou até para facilitar que o passageiro tire uma foto do local. Pode?

Diferença – Há quem argumente que a maioria dos acidentes na estrada não é provocada pela velocidade em excesso, mas pela diferença dela entre dois carros. Se um deles, por exemplo, vem a 110 km/h atrás de outro que reduz subitamente para 40 km/h (em função de um radar, por exemplo...), é batida certa.

Cristal – São muitos os "descuidados" que decidem converter à esquerda ou à direita sem acionar as setas direcionais. Ou de desligá-las após a conversão. Como se o motorista que vem atrás tivesse uma bola de cristal para adivinhar suas intenções...

Psicopatas – O volante infelizmente não opera transformações na postura ou no caráter do indivíduo. Egoísta não fica generoso nem selvagem vira civilizado. Aliás, pelo contrário, o motorista até revela facetas até então ocultas ou muito discretas de sua personalidade quando assume a direção. Surgem ao volante psicopatas, egoístas, confusos e valentões. A propósito, disso, Camus também se manifestou...

Loucos – O famoso escritor francês Albert Camus (1913-1960), Prêmio Nobel de Literatura, esteve no Brasil na década de 1950 e suas impressões de viagem foram publicadas no livro Camus, o Viajante. Ele esteve em Porto Alegre, São Paulo, Rio, Salvador e Recife, numa época em que o país ainda engatinhava em termos de trânsito, automóveis e motoristas. Apesar disso, ele relata suas impressões sobre nossas ruas: "Os motoristas brasileiros ou são alegres loucos ou frios sádicos. A confusão e a anarquia deste trânsito só são compensadas por uma lei: chegar primeiro, custe o que custar".

Imaginem só o tamanho do seu espanto se repetisse a visita em tempos mais recentes...

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