Tesla ainda é tonto e confunde lua com semáforo. Erra o trem. E congestiona o trânsito
Boris Feldman é mineiro, formado em Engenharia e Comunicação. Foi engenheiro da fábrica de peças para motores Metal Leve e editor de diversos cadernos de automóveis. Escreve a coluna sobre o setor automotivo no O POVO e em diversos outros jornais pelo país. Também possui quadro sobre veículos na rádio O POVO/CBN
Não existe ainda a comercialização de veículos autônomos, pois os que rodam são experimentais. A Tesla já oferece opcionalmente o Autopilot, um conjunto de dispositivos de assistência à condução que o tornam semiautônomo, mas que ainda exige a presença do motorista. E preocupada com os acidentes ocorridos com estes automóveis, alguns fatais.
Lua ou semáforo?
Outro dia, um Tesla vinha à noite nos EUA quando subitamente acendeu o alerta para o motorista reduzir a velocidade devido à luz amarela na esquina seguinte. Não tinha nem semáforo nem esquina, pois o que os radares do Tesla detetaram foi, no céu meio enevoado, uma belíssima lua amarelada.
Recentemente, outro Tesla estava na famosa ponte 25 de abril, em Lisboa. Ela tem dois andares: no superior, duas pistas para automóveis e uma ferrovia no inferior.
Subitamente, sem nenhuma razão aparente, o Tesla teve os freios automaticamente acionados e estancou na pista. Formou-se um enorme congestionamento e, por sorte, nenhuma batida entre os carros. Depois de muita pesquisa, descobriu-se o porquê da inexplicável freada.
Seus sensores perceberam um trem (ou "comboio", como o chamam os portugueses) na mesma direção, vindo em sentido contrário. E estancaram o Tesla para evitar o acidente. Que jamais aconteceria, pois o trem vinha no andar de baixo.
Faixa de pedestre?
Especialistas dizem que algumas situações dificilmente serão percebidas pela eletrônica, mesmo com seu aperfeiçoamento.
Um dos exemplos é um pedestre no passeio – ou calçada – numa esquina, prestes a atravessar a rua: só um motorista percebe se ele vai avançar ou não pelo asfalto.
Outro problema que desafia os engenheiros é a diferença entre as regras e costumes de diversos países. Um dos mais simples de resolver é a direção do lado direito, que ainda existe em mais de 50 países, além da Inglaterra.
E ainda é mais complicado adequar um carro autônomo para a legislação específica e costumes de alguns países. Nos EUA, por exemplo, a indicação "Pare" numa esquina é respeitada a ferro e fogo. Mas não é assim em todo o mundo.
Um carro autônomo deve – teoricamente – parar para o pedestre que inicia a atravessar a faixa. Mas corre o risco – no Brasil – de levar uma batida se o automóvel que vem atrás tiver um motorista ao volante...
Outro desafio é dotar o carro autônomo de "ouvidos": como perceber sirenes de ambulâncias ou dos bombeiros? Buzinas ou gritos de socorro e alerta? O instituto Fraunhofer, de Oldenberg (Alemanha), já se antecipou a essa necessidade e desenvolveu o protótipo de um "sistema auditivo veicular".
Confiabilidade é eterna?
Ainda mais preocupantes são os resultados de uma pesquisa realizada pela entidade alemã TÜV Rheinland que existe há 150 anos, uma das principais especialistas em testes de sistemas e tecnologias do mundo, com mais de 20 mil funcionários.
O foco principal era determinar a confiabilidade dos sistemas avançados de assistência ao motorista que equipam automóveis modernos e sofisticados. Permanência na faixa, alerta de carro na outra, frenagem automática, manter distância do veículo à frente e vários outros, que irão em conjunto possibilitar a existência do carro autônomo.
Os testes utilizaram, para a pesquisa, um destes sistemas de assistência, o de permanência na faixa da estrada e simularam seu envelhecimento para investigar as interferências de diversos fatores em sua confiabilidade. Que se reduziu ao longo tempo por desgaste natural, calibração incorreta das câmeras, impactos de pedras no parabrisa ou sua substituição e outros.
A pesquisa, feita em parceria com um laboratório inglês especialista em trânsito (TRL), apontou uma perda de eficiência destes aparelhos no decorrer do tempo e estimam ocorrer, em 2029, cerca de 800 mil acidentes em estradas europeias provocados por seu desempenho reduzido.
Esses são alguns dos problemas percebidos na vulnerabilidade de dispositivos atuais já presentes nos automóveis. Por outro lado, com a presença efetiva da internet 5G, vários deles serão amenizados ou resolvidos com o avanço da comunicação entre veículos, da sinalização viária para os automóveis e do controle de trânsito para os motoristas.
Seja lá como for, ainda estamos distantes do carro autônomo. E a permissão para sua comercialização se fará em etapas, por países e regiões.
O Brasil, com certeza, não está no topo da fila...
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