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Por que o carro flex é uma lorota ecológica?
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Boris Feldman é mineiro, formado em Engenharia e Comunicação. Foi engenheiro da fábrica de peças para motores Metal Leve e editor de diversos cadernos de automóveis. Escreve a coluna sobre o setor automotivo no O POVO e em diversos outros jornais pelo país. Também possui quadro sobre veículos na rádio O POVO/CBN

Por que o carro flex é uma lorota ecológica?

Ele completa 20 anos mas ainda não é solução para reduzir efetivamente as emissões de carbono (CO2)
Etanol: esquecido pelos donos de carro flex.  (Foto: Ilustração: Ernani Abrahão | AutoPapo)
Foto: Ilustração: Ernani Abrahão | AutoPapo Etanol: esquecido pelos donos de carro flex.

O etanol foi para o tanque do automóvel com o plano “Pro-álcool” do governo federal lançado em 1977. Foi um sucesso e as vendas do carro com o combustível derivado da cana de açúcar chegaram a 98% do
mercado doméstico. Quem tinha motor a gasolina o convertia para o etanol.

Mas o sonho durou pouco mais de dez anos e virou pesadelo no final da década de 80, quando o combustível verde faltou nos postos e formaram-se extensas filas de motoristas arrependidos. A maioria fez a conversão reversa: do etanol para gasolina. Foi a derrocada do carro a álcool.

A eletrônica solucionou o problema e tornou possível lançar em 2003 o carro flex, que aceita ambos os combustíveis. Eliminou então o receio do motorista de se tornar novamente refém das inconstâncias de humor dos produtores de etanol.

Mas as estatísticas não deixam margem a dúvidas: é uma falácia afirmar que o flex é solução para a descarbonização, pois, apesar de ele representar 85% da nossa frota, a gasolina ainda representa 70% das vendas nos postos.

Carro “limpo” de fato

Soluções que reduziriam de fato as emissões veiculares a partir do álcool:

1 – Incentivar o motor que só queima etanol. Ele já foi desenvolvido por algumas fábricas e a Stellantis já o tem quase pronto na prateleira. Mas todas aguardam o momento correto para oferecê-lo ao mercado: quando governo e usineiros se entenderem e o mercado perder o receio do álcool.

2- Aumentar a competitividade do etanol e induzir o motorista a abastecer com ele o carro flex, reduzindo seus impostos e aumentando os da gasolina, para que a diferença dos preços seja realmente interessante.

Atualmente, o custo menor do álcool apenas compensa seu maior consumo, pois seu preço na bomba é de cerca de 70% da gasolina, sem vantagem real para o bolso do motorista. Por isso, até que seja atraente
de fato e reduza o custo do km rodado, a gasolina ainda tem a preferência do mercado.

A vantagem deste caminho é contemplar todos os carros flex que já circulam. A desvantagem é – por aumentar o imposto da gasolina - pesar no bolso de quem ainda é obrigado a abastecer com ela os modelos com mais de 20 anos de fabricação, que representam quase 4 milhões de carros. Mas poderia se tornar uma vantagem se o governo arquitetasse um plano para incentivar seu sucateamento.

Vantagens do motor a etanol

Eficiência - Ele já está praticamente pronto nas prateleiras de algumas fábricas. Como não exigiria uma calibragem especial para receber também a gasolina, poderia ter maior eficiência e extrair todo o potencial do etanol, aumentando o desempenho e reduzindo consumo.

Limpo – O etanol tem apenas 1/3 do teor de carbono em relação à gasolina e, por isso, mantem os motores mais limpos, livres de carbonização. Diminui também o impacto ambiental até porque a cana de
açúcar, ao crescer no campo, ainda elimina parte do CO2 expelido pelo escapamento.

Mais barato – Menor custo de produção pois não exige o software nem os sensores necessários para ajustar seu funcionamento ao combustível no tanque.

Descarbonização – O motor a combustão já não está com os dias contados? A solução não será o carro elétrico? Depende. Em termos de eficiência, o motor convencional já deveria estar há muitos anos no museu, pois é um “perdulário” e só aproveita de 30 a 40% da energia contida em cada litro de combustível no tanque. O resto é jogado no lixo em forma de calor. O elétrico tem eficiência superior a 90%.

Entretanto, em termos de controle ambiental, acredite se quiser, um carro híbrido abastecido com etanol emite menos CO2 (86 g/km) que o elétrico recarregado com energia “suja” (95 g/km). Na Europa, por exemplo, onde ela vem, em geral, de usinas a carvão, diesel ou gás. Ou seja, a poluição é transferida do carro para o campo.

O resumo da ópera é que, carro híbrido com motor flex abastecido com etanol é a melhor solução para a limpeza ambiental, já existe um com esta configuração no Brasil, o Toyota Corolla, e outros estão a caminho.

Por outro lado, carro flex abastecido com gasolina ou elétrico recarregado com energia “suja” não passam de uma solução hipócrita para a descarbonização do mundo.

Mais Boris? autopapo.com.br

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