LatinNCAP esconde suas aberrações sob a bandeira da segurança
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Boris Feldman é mineiro, formado em Engenharia e Comunicação. Foi engenheiro da fábrica de peças para motores Metal Leve e editor de diversos cadernos de automóveis. Escreve a coluna sobre o setor automotivo no O POVO e em diversos outros jornais pelo país. Também possui quadro sobre veículos na rádio O POVO/CBN
LatinNCAP esconde suas aberrações sob a bandeira da segurança
Jornalista argentino também desconfia dos critérios estabelecidos pelo Sr. Furas, secretario da entidade
Foto: Reprodução/Autopapo
Imagem de apoio ilustrativo
Eu não acredito nos resultados dos testes feitos LatinNCAP para aferir o nível de proteção aos ocupantes dos automóveis comercializados no Brasil. Seus critérios são nebulosos, mal explicados e a entidade uruguaia se contradiz em suas próprias avaliações. E descobri a companhia de um jornalista argentino que também questiona a seriedade de seu comportamento.
A gota d'água que fez entornar o balde foi o crash-test - em julho deste ano - de um Jeep Renegade (resto de estoque) encontrado numa loja do Panamá. Um modelo que, quando lançado em 2015, recebeu cinco estrelas do LatinNCAP.
Enquanto o novo Renegade, fabricado desde 2022, tem seis airbags, o testado tinha apenas dois. Natural o péssimo resultado: perdeu quatro das cinco estrelas que ganhara. Obvio que o LatinNCAP não trata com imparcialidade todas as fábricas presentes na região. A versão original do VW Virtus produzida no Brasil recebeu cinco estrelas da entidade uruguaia. Depois, testou uma nova versão fabricada na Índia, também aprovada.
E a produzida no Brasil? Neste caso, os uruguaios não acharam necessário realizar testes, mas apenas uma "auditoria" para comprovar que o carro brasileiro recebera as mesmas alterações introduzidas na Índia, como se todos os componentes do carro indiano fossem idênticos aos nossos...
Recebo uma saraivada de críticas cada vez que questiono o LatinNCAP. Há que diga que "ruim com ela, pior sem ela". A imprensa brasileira pouco se preocupa com seus mal explicados critérios e publica sem questionar seus resultados muitas vezes enganosos e tendenciosos.
Argentino também desconfia
Mas apareceu outro jornalista que estranhou o procedimento do LatinNCAP, o argentino Martin Simacourbe (AutoWeb) que também faz duras críticas aos uruguaios. Ele analisou os modelos testados pela entidade uruguaia desde que se instalou (2010) e afirma que ela não trata as marcas igualmente.
Diz que, por exemplo, em cinco anos (2013 a 2017), foram testados 10 modelos da GM, "um volume que não se repetiu em nenhuma outra montadora. E que oito deles receberam zero estrela, um ficou com 3 e outro com 4".
A partir de 2018, o jornalista percebeu que a GM "quis limpar sua imagem depois de tantos resultados ruins" e decidiu então "bancar" (pagar) os testes de oito novos modelos que receberam um pilha de estrelas, verdadeira "constelação" dos uruguaios. E que sequer criticaram o Chevrolet Aveo vendido no Mexico somente com dois air bags e sem ESP.
Tracker: aprovado mesmo com incêndio!
O jornalista argentino estranha também a súbita mudança de critério do LatinNCAP: “Recentemente um Chevrolet Tracker recebeu cinco estrelas mesmo apesar de um incêndio durante os testes, o que jamais teria sido perdoado em outro modelo”. (O sistema pirotécnico de disparo do cinto provocou um incêndio no interior do carro, segundo a própria entidade).
Martin ressalta que a nova vítima dos uruguaios é a Stellantis e suas suspeitas se confirmaram há alguns meses, a partir do teste estapafúrdio com o Jeep Renegade encontrado do Panamá. Ele aponta objetivamente que "a régua não é a mesma para todas", pois os uruguaios acusaram a Jeep de anunciar um teste realizado há mais de cinco anos mas "se esqueceu" de que a Volkswagen fez o mesmo com o Virtus na Colombia.
Continua afirmando que “o LatinNCAP parece fazer vista grossa com a VW, com quem ‘se dá muito bem’ desde que surgiu a entidade”. E lembra que anunciou as cinco estrelas do novo Virtus produzido na Índia, logo confirmado com uma unidade brasileira enquanto na Argentina e em outros países se vendia o modelo anterior, sem nenhuma explicação.
Não perdoou também a absoluta falta de critério da entidade ao jogar um antigo Peugeot Partner Patagonico (de três gerações atrás) contra um Peugeot Rifter (não vendido na Argentina), de projeto novo. "Oxalá, (diz ele) sejam tão exigentes com a nova VW Amarok".
Martin Simacourbe encerra sua excelente matéria afirmando que "há tempos tenho a sensação de que o LatinNCAP denuncia quem tem vontade de denunciar (motivado sabe-se lá porquê) e não pela realidade dos fatos. Eles devem ter suas razões para este procedimento. Mas eu tenho as minhas para pensar que nem tudo é tão altruísta como nos vendem".
Resultado fidedigno? Só pagando!
Para fechar o ano com "chave de ouro": no último teste divulgado em 2023, ela conferiu apenas 2 estrelas ao Fiat Pulse. Mas ela se confunde ao explicar o critério, pois declara “boa proteção” na maioria dos itens considerados nos testes de impacto. Ou seja, o carro foi aprovado no crash-test mas perdeu pontos em critérios subjetivos, como o do dispositivo ADAS.
A fábrica, consultada, acusa a entidade uruguaia de testar um modelo não mais produzido, mais ou menos como no caso do Renegade. Informou à LatinNCAP já estar fabricando uma versão mais completa em termos de segurança, mas os uruguaios exigiram mais uma vez – como no caso do Renegade – que a Stellantis patrocinasse o teste (pela bagatela de 500 mil euros) se tivesse interesse em que fosse testado o novo modelo.
Aliás, para que um carro da Volkswagen, no dia de seu lançamento à imprensa, já tivesse sido contemplado com cinco estrelas pelo Sr. Furas, só mesmo com um teste “patrocinado” pela fábrica. Pois o modelo obviamente ainda não estava disponível nas concessionárias.
Fosse minimante ético, o LatinNCAP faria constar em seu site se o teste foi realizado às expensas do fabricante ou dela própria. Por essas e por várias outras, avalizo integralmente as desconfianças de Martin Simacourbe em relação ao LatinNCAP pois seus critérios são cada vez mais duvidosos e nem sempre a segurança é prioridade para seu Secretário Geral, sr. Alejandro Furas.
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