Metanol é toxico e corrosivo, mas pode estar no tanque do seu automóvel
Boris Feldman é mineiro, formado em Engenharia e Comunicação. Foi engenheiro da fábrica de peças para motores Metal Leve e editor de diversos cadernos de automóveis. Escreve a coluna sobre o setor automotivo no O POVO e em diversos outros jornais pelo país. Também possui quadro sobre veículos na rádio O POVO/CBN
Metanol é toxico e corrosivo, mas pode estar no tanque do seu automóvel
É perigosíssimo, mas não faltam postos desonestos e irresponsáveis que o misturam ao combustível
O pior da história é que tanto o etanol como o metanol são bem recebidos pelo motor.
O etílico vem da cana, milho e outros vegetais. O metílico é obtido, em geral, do gás. O primeiro, sem água (anidro), é adicionado à nossa gasolina. Ou vendido com 8% de água (hidratado) na bomba.
O metanol é um álcool que deveria ser utilizado exclusivamente na indústria, como matéria prima ou solvente para a produção de desinfetantes, resinas acrílicas, fibras de poliéster, biodiesel e na indústria farmacêutica.
Mas o metanol vai parar também no posto misturado à gasolina (ou etanol), pois custa muito mais barato que o etanol.
É importado, em geral, dos Estados Unidos, com permissão específica da ANP para a indústria que comprove sua necessidade no processo produtivo. Entretanto, é desviado e fornecido diretamente a algumas distribuidoras que o acrescentam no combustível a ser fornecido nos postos.
A ANP flagra estes desvios, algumas vezes pelas próprias estatísticas que acusam as distorções entre o volume da matéria prima e do produto final. E flagra caminhões tanque nas estradas levando o metanol para as distribuidoras de combustíveis.
Produtores de biodiesel, por exemplo, chegam a importar até dez vezes mais metanol do que necessitariam em seu processo de fabricação.
Evidência de que o estão fornecendo clandestinamente para a adulteração de combustível. No caso da gasolina ou etanol contaminados pelo metanol, há fortes chances de distúrbios orgânicos como diarréia, tonteira, vômitos e cegueira em casos extremos, pelos danos ao sistema nervoso.
Já se registraram casos da ingestão do etanol com alto percentual de metanol que provocaram diversas mortes no Brasil.
Frentistas de postos que lidam com metanol costumam também apresentar sintomas pois o respiram durante horas a fio e são também afetados por eventual contato com a pele.
O metanol é utilizado em carros de competição nos EUA pois aumenta o desempenho do motor. Porém, um dos perigos é sua chama invisível e, por isso, difícil de apagar o incêndio que provoca.
Em motores normais, não preparados para recebê-lo, o metanol é corrosivo e provoca danos em seus componentes.
As estatísticas apontam que, em 2023, cerca de 1,5 milhão de automóveis foram abastecidos no Brasil com combustível adulterado com metanol.
Um posto em Jundiaí (SP) foi flagrado pela polícia recentemente com etanol que o continha na proporção de 98%. Ou seja, quase metanol puro.
Segundo a ANP, o percentual máximo de metanol presente num combustível é de 0,5%. Mas ele se parece fisicamente com o etanol e detectá-lo no posto só é possível com um reagente (agente químico). Que muda a coloração com a sua presença.
A dificuldade do motorista para evitar o combustível fraudado com o metanol é a impossibilidade de detectá-lo pelos dispositivos que os postos são obrigados a dispor caso se exijam testes de qualidade.
Ele pode provocar a corrosão de alguns componentes do motor, mas sempre a longo prazo, de modo a ser impossível identificar em qual posto o carro foi abastecido com o combustível fraudado.
A única pista é desconfiar do preço baixo, a promoção feita pelos postos desonestos que praticam esta perigosa mistura.
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