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Motorista pode ser impedido de exceder a velocidade máxima?
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Boris Feldman é mineiro, formado em Engenharia e Comunicação. Foi engenheiro da fábrica de peças para motores Metal Leve e editor de diversos cadernos de automóveis. Escreve a coluna sobre o setor automotivo no O POVO e em diversos outros jornais pelo país. Também possui quadro sobre veículos na rádio O POVO/CBN

Motorista pode ser impedido de exceder a velocidade máxima?

Vários países estão aumentando o rigor no controle da velocidade. Até a discutível medida de interferir no mecanismo do carro
Imagem ilustrativa de apoio. Redução de velocidade para 30 Km/h na Av. Lineu Machado, em Fortaleza (Foto: FCO FONTENELE)
Foto: FCO FONTENELE Imagem ilustrativa de apoio. Redução de velocidade para 30 Km/h na Av. Lineu Machado, em Fortaleza

Você está na estrada e decide acelerar pois está levando um parente – emergencialmente – ao hospital. Apesar de a máxima ser 110 km/h, pisa mais fundo no acelerador. Mas o ponteiro gruda em 110 km/h e a velocidade não sobe. Por quê?

Desde julho do ano passado, no Reino Unido, os automóveis novos passaram a ser obrigatoriamente equipados com o ISA (“Intelligent Speed Assistance” ou Assistência inteligente à velocidade, em português), também chamados de “speed limiters” ou limitadores de velocidade.

Estes aparelhos conjugam o GPS do carro com o leitor de placas de velocidade nas rodovias, para que o motorista respeite os limites indicados. Através de alertas no painel ou intervindo diretamente na central eletrônica para limitar a potência, controlando a injeção de combustível.

Nos EUA, paga mais quem ganha mais

No estado de Virginia (EUA), foi aprovada uma lei que torna obrigatório instalar o ISA em veículos flagrados a mais de 160 km/h (100 mph) ou que acumularem múltiplas infrações consideradas graves. E a legislação continua procurando dificultar a vida do motorista que insiste em acelerar acima do limite.

Em São Francisco (Califórnia - EUA) as notificações a partir de radares de velocidade serão ajustadas com valores proporcionais ao rendimento do motorista.

Eles são de U$ 50 (R$275) até U$ 500 (R$2.750) e poderão ter descontos de até 50% em função do valor declarado no Imposto de Renda do motorista.

O estado de Washington aprovou uma lei que obriga a se instalar no carro o limitador de velocidade (ISA) caso o condutor tenha tido sua habilitação suspensa por infrações flagradas por radares. Se multado por estar alcoolizado (excesso de álcool no sangue), deverá ter no carro um aparelho que deve ser soprado e só permite ligar o motor se o teor alcoólico estiver abaixo do limite permitido.

O governo de Washington espera reduzir o número de acidentes com vítimas fatais nas estradas, que aumentaram 40% nos últimos quatro anos.

Alemanha, ainda sem limite

A Alemanha é o país tido como exemplo de quem defende a velocidade liberada nas rodovias, pois há muitos trechos nas autobahnen sem limite. Não há, de fato, um grande número de acidentes em função dessa liberdade.

Mas, quando acontecem, costumam ser verdadeiras catástrofes com muitos carros e vítimas fatais envolvidos. Já houve diversas tentativas e movimentos para se estabelecer limite de velocidade nas estradas alemãs. Mas as discussões são acaloradas apesar de mais da metade da população defender a ideia.

Também ambientalistas, polícia rodoviária e associações de auxílio às vítimas de trânsito são favoráveis ao limite.

Entretanto, há também reações contrárias: primeira, das fábricas de automóveis, interessadas no alto faturamento dos esportivos.

Segunda, das empresas de turismo que conquistam milhares de clientes atraídos pela possibilidade de acelerar à vontade. E de muitos alemães que simplesmente não querem ser tolhidos da liberdade de pisar quanto quiserem. Não há outro país com rodovias sem imposição de limite, além da Alemanha e da ilha de Man.

No Brasil, “indústria da multa”?

Aliás, tem sim: no Brasil, onde o prefeito de Marília (SP), Vinicius Camarinha, decidiu – ele mesmo – cortar os cabos que levavam energia para os radares de controle de velocidade na cidade, após ter declarado guerra à “indústria da multa”.

Existem, sem dúvida, “pardais” nitidamente dependurados em pontos estratégicos para atuar como “pegadinhas”. Mas o prefeito não deveria se esquecer de que multa só existe para quem comete infração...

O Brasil está entre os países que lideram o ranking mundial de acidentes nas rodovias e da maior importância nas ações para redução de velocidade.

Indiscutível: quanto mais rápido o carro, maior o risco de os ocupantes sofrerem lesões mais graves num acidente. Mas, há também quem questione até que ponto a eletrônica pode interferir no comando do automóvel.

Ninguém discute o acerto da frenagem automática para impedir um acidente, nem o alerta para mudança de faixa e outras do gênero. Mas, pode o governo interferir na decisão do motorista de exceder a velocidade máxima ao levar um acidentado ao pronto-socorro?

Mais Boris? autopapo.com.br

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