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Argentina: o bom vizinho do Brasil
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Fundador e atual Presidente do Instituto Brasil África. Doutor em Educação pela Universidade Federal do Ceará com Pós-doutorado em relações internacionais na Universidade de Brasília (UnB). É professor visitante em universidades brasileiras e africanas e Associado Internacional Sênior do Centro de Estudos Africanos, Latino-Americanos e Caribenhos (CALACs) da Jindal Global University (Índia). Em 2018, recebeu a Comenda da Ordem de Rio Branco, distinção concedida pelo governo brasileiro, em reconhecimento aos seus méritos na promoção das relações entre o Brasil e a África

Bosco Monte opinião

Argentina: o bom vizinho do Brasil

Tipo Opinião
Bosco Monte, presidente do Instituto Brasil África. (Foto: Sara Maia)
Foto: Sara Maia Bosco Monte, presidente do Instituto Brasil África.

A superação de uma rivalidade histórica entre o Brasil e a Argentina foi, certamente, um dos pontos marcantes do final do século XX. Unidos pela história e pela geografia, os dois países caminharam da discórdia para o entendimento, do entendimento para a cooperação e da cooperação para a amizade. Não há razões, e não haverá ganhos, se revertermos esse percurso.

Não foram raros, nesses 200 anos de independência, os momentos de conflito. Os dois países chocaram-se na Guerra da Cisplatina, em um conflito que, atingido por um impasse, levou ao desmembramento do Brasil e ao surgimento do Uruguai.

Enfrentaram-se, no nível diplomático, com a histórica rivalidade entre o Barão do Rio Branco, patrono da diplomacia brasileira, e Estanislau Zeballos, chanceler argentino e seu contemporâneo, manifesto na Questão de Palmas, com um desfecho desfavorável para a Argentina.

Disputaram riquezas, mercados e investimentos, alternando-se como maior economia da América Latina e buscando projeção no sistema internacional.

Pelo pragmatismo, a discórdia evoluiu para a amizade. O Brasil consolidou-se na primeira metade do século XX, definitivamente e de forma inconteste, como a maior economia latino-americana.

De forma muito habilidosa, tornou a sua liderança um elemento dado, mas não fez isso às custas da reputação argentina. Pelo contrário, assumiu que o desenvolvimento do Brasil pressupunha o desenvolvimento sul-americano, e que a Argentina não poderia ser deixada de fora.

O Brasil reconheceu que um cisma sul-americano enfraquecia o subcontinente, e a Argentina seria um nexo valioso, um interlocutor essencial, com os vizinhos hispânicos.

Brasil e Argentina criaram uma lógica inovadora de desenvolvimento econômico, periférica e autônoma. De mãos dadas, os dois países construíram um processo de integração econômica e comercial extremamente sofisticado, conectando cadeias de valor e assumindo uma posição única no comércio internacional.

Juntos, as duas nações forjaram desafios estratégicos consolidados na confiança mútua, de Itaipu-Corpus à ABACC. Somente juntos, da década de 1990 em diante, Brasil e Argentina posicionaram a América do Sul como um ator relevante no sistema internacional.

Não por razões ideológicas, mas por puro pragmatismo, a amizade argentina tem muito a oferecer ao Brasil, principalmente no que se refere às trocas comerciais. Em 2020,o Brasil voltou a ser o principal parceiro comercial da Argentina, tanto nas exportações quanto nas importações, superando a China.

Por outro lado, além da questão comercial, gradativamente se estabeleceu um marco institucional para a implementação de projetos de cooperação entre Brasil e Argentina em diversos temas como política, educação, cultura, segurança, entre outros.

Além disso, a criação do Parlamento do Mercosul em 2006, simbolizou o compromisso político dos governos com os valores e instituições democráticas, aproximando os cidadãos de forma mais efetiva.

Abrir mão de décadas de conquistas conjuntas somente trazem danos irreversíveis para a posição do Brasil na região e no mundo. n

 

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