A desinformação será aliada preferencial da tentativa de ruptura
Estagiou como produtor na Rádio O POVO/CBN e repórter do portal de notícias O POVO. Na editoria de Política, atuou como estagiário e, desde janeiro de 2019, é repórter. Cobriu as eleições de 2018 e 2020. Participou da quarta fase do Projeto Comprova. A coluna é dedicada principalmente ao acompanhamento e análise do fenômeno da desinformação e das fake news. Como elas influenciam o cenário político e quais conteúdos fraudulentos têm mais repercussão
Jair Bolsonaro (PL) não é um candidato normal à reeleição. As intenções golpistas do presidente ficam cada vez mais visíveis à medida que acredita que as possibilidades de um novo mandato lhe escapam. Certamente, Bolsonaro é um dos eleitores que menos acreditam na reeleição do presidente. A cruzada contra as pesquisas de intenção de voto, que alega de pés juntos serem fraudadas, não se sustenta diante do desespero que parece tomar de conta dos gestos do presidente. É como se visse um horizonte adverso, a ponto de emporcalhar a imagem do próprio País diante de embaixadores de outras nações.
Na semana que passou, Bolsonaro desfiou para o mundo um rosário de mentiras sobre o sistema de votação brasileiro, eletrônico desde 1996, por meio do qual enfileirou mandatos na Câmara dos Deputados e, em 2018, chegou à Presidência da República. Embora sucessivas vezes desmentido, não recua na ofensiva contra as urnas. Porque não fala para convencer ninguém além dos que compõem o núcleo duro de apoiadores, que dirá "amém" para o que disser, sem se permitir um questionamento.
Não demonstra sinal de constrangimento em jogar com desinformações e truques argumentativos baratos, na linha de que não se consegue apontar falhas no sistema eletrônico de votação, mas também não se consegue mostrar que ele é íntegro. Ora... A arena do debate público é ferida de morte quando a intenção deliberada é tudo, menos conversar sério.
A marcha de Bolsonaro para a insensatez tem na desinformação uma aliada indispensável. Se um bom número de pessoas passa a acreditar que a escolha de quem as vai representar está sujeita a ser desvirtuada, a crença na democracia representativa sofre forte impacto. As instituições entram em descrédito grave, algo bem mais delicado do que a crítica ao trabalho de um ou outro de seus membros. Tem-se ai o caos sobre o qual líderes com pretensões autocráticas se fortalecem.
Parte relevante deste fortalecimento passa por ludibriar a compreensão popular. Dizer que o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Edson Fachin, foi advogado do Movimento Sem-Terra (MST), organização fortemente associada ao PT, ou adulterar a imagem de um Boletim de Urna de modo a fazer crer que o número de eleitores foi menor que a quantidade de votos são meios de destruir a possibilidade de um ambiente público minimamente saudável.
Já não existem mais bases sólidas em cimas das quais os pensamentos podem entrar em conflito e as preferências se manifestarem. Os exemplos que citam Fachin e o Boletim de Urna foram inspirados em checagens do Projeto Comprova.
A reação às mentiras
O TSE rebateu prontamente as mentiras do presidente sobre o sistema de voto nacional. Vamos a algumas delas: "Apenas dois países do mundo usam sistema semelhante ao brasileiro", disse Bolsonaro. Mas a verdade é que outros países usam urnas sem impressão do voto — na França, há uso do equipamento sem impressão em cerca de 60 localidades. Nos Estados Unidos, seis estados usam equipamento exclusivamente eletrônico. A Corte eleitoral apontou que a frase de Fachin segundo a qual auditoria não serve para contestar resultados foi retirada de contexto. À afirmação de que o TSE disse que em 2018 números podem ter sido alterados, o TSE rebateu: isso nunca foi dito. A embaixada dos Estados Unidos disse que o sistema de votação brasileiro é um "modelo para o mundo". A embaixada do Reino Unido afirmou que acredita na democracia brasileira. As urnas brasileiras se mostraram seguras, adiciona ainda no comunicado.
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