Pesquisas: campanhas usam os dados que lhes convêm
Estagiou como produtor na Rádio O POVO/CBN e repórter do portal de notícias O POVO. Na editoria de Política, atuou como estagiário e, desde janeiro de 2019, é repórter. Cobriu as eleições de 2018 e 2020. Participou da quarta fase do Projeto Comprova. A coluna é dedicada principalmente ao acompanhamento e análise do fenômeno da desinformação e das fake news. Como elas influenciam o cenário político e quais conteúdos fraudulentos têm mais repercussão
Pesquisas: campanhas usam os dados que lhes convêm
Um candidato que está em último pode ser anunciado como o candidato "que mais cresce" ou que cresceu "100%", com base no instituto tal, e isso ser verdade à luz da porcentagem, ainda que leve a uma impressão diferente da real
É comum que as equipes que atuam na parte pública das campanhas divulguem pesquisas eleitorais do modo mais conveniente para cada candidatura. Quando os números mais óbvios destes relatórios são adversos, o plano B é recorrer a dados secundários dos levantamentos que transmitam a esperança possível aos potenciais eleitores. Recorrer ainda a distorções gráficas, ainda que com números corretos. Não é por acaso que, em geral, pesquisas de intenção de voto trazem, após o perfil da amostragem, os resultados da entrevista estimulada, com as opções de candidaturas apresentadas ao eleitor, e da entrevista espontânea, aquela que somente pede ao entrevistado que responda em quem votaria se a eleição fosse "hoje". As informações dispostas ali seguem uma lógica de hierarquização, as mais esclarecedoras sobre a realidade eleitoral vindo primeiro.
É preciso ter clareza de que os dados mais elucidativos sobre o desenrolar de uma campanha são os advindos das entrevistas estimuladas e espontâneas, enquanto principais captadores dos humores de um estado ou de um País, desde que situados em um contexto e em um espaço temporal, evidentemente, de forma que se possa compreender quem tem margem para crescimento e quem estacionou. Porém, uma compreensão profunda sobre as pesquisas requer leitura de outros dados, de preferência pela imprensa profissional ou na própria fonte. Esses números laterais cumprem a função de auxiliar as campanhas no desenho de suas estratégias.
Ir ao Interior? Focar na Região Metropolitana? Voltar-se ao público feminino com mais ênfase? Falar com os estratos mais ricos ou mais pobres? São insights gerados por uma leitura detalhada dos números. Este é um ponto. As redes sociais das campanhas irão destacar os números que convêm. Não há erro nisso, diga-se. Há o interesse do eleitor e há o interesse das candidaturas. No sentido trabalhado aqui, eles podem não ser os mesmos.
Artimanhas gráficas são usadas para induzir a percepção dos seguidores. O exemplo das redes da senadora e candidata a presidente Simone Tebet (MDB-MS) chamou atenção. A peça diz que a emedebista não para de subir nas pesquisas. A seta é realmente ascendente, mas o crescimento é inexpressivo: 2%, 3%, 4%. A elevação de uma imagem sobre outra, de modo a conduzir ao topo da arte gráfica um nome com percentual inferior, constitui outra distorção, por exemplo.
Um candidato que está em último pode ser anunciado como o candidato "que mais cresce" ou que cresceu "100%" com base no instituto tal e isso ser verdade à luz da porcentagem, ainda que leve a uma impressão diferente da real. Ler a publicação com atenção, verificar se tem ou não menção ao instituto de pesquisa, com os códigos de registro no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) ou no Tribunal Regional Eleitoral no Ceará (TRE-CE) e ir à pesquisa são meios de afastar a possibilidade de ser enganado.
Barroso, Dirceu e a orgia
No 17º Congresso da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), disse o ministro da Suprema Corte Brasileira, Luís Roberto Barroso, sobre aquelas mentiras, digamos, excêntricas que começaram a circular: "Eu não participei de uma orgia com o ex-ministro Zé Dirceu. Eu nunca fui a Cuba. Eu não sou dado a orgias. Eu não tenho nenhum tipo de contato com o ex-ministro." Pois é.
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