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Nelson Martins e a exoneração "surpresa"
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O jornalista Carlos Mazza já foi repórter de Política, repórter investigativo, coordenou o núcleo de jornalismo de dados do O POVO e atualmente é colunista de Política

Carlos Mazza política

Nelson Martins e a exoneração "surpresa"

Fonte de maior surpresa entre as exonerações feitas no limite do prazo de descompatibilização da Justiça Eleitoral, a saída do ex-deputado Nelson Martins (PT) da Articulação Política de Camilo Santana (PT) foi decidida "em cima da hora", minutos antes da divulgação da medida. Segundo fontes próximas da cúpula do Palácio da Abolição, até a tarde da quinta-feira, o petista havia sido informado de que assumiria lugar de Élcio Batista (PSB) - também exonerado no prazo eleitoral - como secretário-chefe da Casa Civil do Governo do Estado.

Com a descompatibilização de Martins, Camilo e os irmãos Ferreira Gomes acenam a reedição da mesma estratégia que levou o petista ao governo, ainda em 2014. Na época, o hoje chefe do Executivo acabou alçado à cabeça da chapa diante da perspectiva de o PT prestar apoio - através de gravações de campanha pelo ex-presidente Lula (PT) - ao então adversário Eunício Oliveira (MDB). Mantendo Nelson Martins "livre", fica aberta a possibilidade de o PT fechar aliança com o PDT em Fortaleza, tanto com candidato a prefeito ou como vice.

PT é PT

O maior desafio para a repetição da estratégia, no entanto, são as características próprias do PT em Fortaleza. Diferente do que ocorre na maioria dos outros partidos, petistas não possuem "líderes naturais" (ou caciques, como se convencionou chamar) e decidem seus candidatos através de votações diretas entre filiados. Em Fortaleza, o prazo interno para a comunicação de uma candidatura majoritária do partido era até 5 de abril. Já a confirmação da postulação, segundo os prazos internos petistas, deverá ocorrer até 5 de julho.

Ou seja, se deseja de fato disputar pela sigla, Martins, além de já estar atrasado no prazo de comunicação, teria apenas um mês para convencer o partido. Coisa que parece hoje pouco provável, tanto pois uma "virada" súbita no processo interno teria resistência de filiados petistas, quanto pela falta de interesse do PDT em antecipar a definição de sua candidatura para antes do prazo das convenções eleitorais, no final de julho.

Além disso, até agora, apenas um nome está inscrito no processo interno do partido: o da ex-prefeita Luizianne Lins (PT), crítica a Roberto Cláudio. Nem mesmo o vereador e presidente municipal da sigla, Guilherme Sampaio, que chegou a ensaiar uma pré-candidatura, decidiu participar da consulta interna. Resta saber, no entanto, qual será o peso dos deputados petistas José Guimarães e José Airton, ambos com muitas dívidas a Camilo, na decisão.

Diante das dificuldades, a exoneração de Nelson parece, mais do que tudo, uma sinalização ao PT de que o PDT quer um acordo. E que petistas estariam sendo intransigentes ao negar a conversa.

Balão de ensaio?

Na impede, no entanto, que a exoneração de Nelson seja só mais uma estratégia do grupo do PDT para aumentar suas possibilidades diante das etapas finais de formação de chapa, ainda que com pouca ou nenhuma chance de concretização. Em 2012, quando apoiaram Roberto Cláudio em Fortaleza, Cid e Ciro Gomes "lançaram" também como pré-candidatos Salmito Filho e Ferruccio Feitosa. Na época, nenhum dos dois tinha a menor chance: candidatura de RC já certa internamente. Com o grande volume de exonerações "surpresa", como a do próprio ex-secretário do Turismo de Fortaleza, Alexandre Pereira, aumenta a chance de um novo movimento neste sentido.

Por falar em PT

A corrente local petista Casa Vermelha, que tem como principal liderança o vereador Guilherme Sampaio, agora faz parte de uma outra corrente nacional do partido, a Resistência Socialista (RS). A mudança foi anunciada pelo vereador e pelo deputado Paulo Teixeira, um dos integrantes da RS, durante transmissão ao vivo na noite de ontem. Entre lideranças que integram a corrente, estão o ex-senador Lindbergh Farias (RJ) e o vereador Eduardo Suplicy (SP).

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