Logo O POVO+
O triste e irônico fim de Weintraub
Foto de Carlos Mazza
clique para exibir bio do colunista

O jornalista Carlos Mazza já foi repórter de Política, repórter investigativo, coordenou o núcleo de jornalismo de dados do O POVO e atualmente é colunista de Política

Carlos Mazza política

O triste e irônico fim de Weintraub

Tipo Opinião
MINISTRO Abraham Weintraub deve deixar o governo Bolsonaro (Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil)
Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil MINISTRO Abraham Weintraub deve deixar o governo Bolsonaro

Após um ano e dois meses no cargo, o ministro Abraham Weintraub (Educação) deve deixar a pasta nos próximos dias. A demissão dele, que já vinha sendo levantada desde o início da manhã de ontem, acabou ganhando ares oficiais pela noite, após o próprio Jair Bolsonaro classificar como "não prudente" a participação do ministro em ato a favor do governo no domingo. Um dos mais fiéis defensores ideológicos do bolsonarismo, Weintraub espera agora apenas a "canetada" que confirmará seu melancólico e, digamos assim, irônico fim na pasta.

Melancólico pois, após mais de um ano no comando de uma das áreas mais essenciais para o Brasil, o ministro muito pouco tem a oferecer para a história fora polêmicas. E essas sobraram aos montes: acusadas de "balbúrdia", universidades federais passaram meses com verbas congeladas, com milhares de bolsas de pesquisa cortadas. O ministro também teve muita dificuldade em segurar técnicos nos cargos. Ao longo da gestão, só o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep) teve três trocas na presidência. A impopularidade foi tamanha que o ministro foi convocado a se explicar mais de uma vez no Congresso, com manifestações de rua sendo convocadas especificamente contra a gestão do MEC.

MINISTRO Abraham Weintraub: corte atinge setor considerado prioritário pelo governo
Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil
MINISTRO Abraham Weintraub: corte atinge setor considerado prioritário pelo governo

Essa mesma resistência quase universal entre esquerda, acadêmicos e técnicos da educação, no entanto, foi o mesmo fator que fez com que o ministro caísse nas graças da militância bolsonarista mais radicalizada. Ao longo do período em que ficou no cargo, nenhum outro ministro "causou" tanto nas redes sociais ou apareceu em mais montagens sob a alcunha de "mito" que o titular do MEC. Ainda que o único Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) da gestão tenha sido extremamente problemático (com a própria pasta admitindo a veiculação de notas erradas), a postura fiel de Weintraub acabou, sozinha, segurando o ministro no cargo.

Leia também | Weintraub e o inquérito das fake news no STF

E é esse o componente de ironia da coisa. Às vias de ser desligado do cargo por reforçar fala em que chamou ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) de "vagabundos", Weintraub é vítima da mesma língua afiada que viabilizou sua permanência no cargo, ainda que o ministro estivesse totalmente desconectado da pauta da pasta.

No auge da crise do Enem, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) chegou a barrar a liberação da lista de aprovados no Sistema de Seleção Unificada (Sisu), criando um cenário de aflição e incerteza para dezenas de milhares de estudantes de todo o País. No mesmo dia, o ministro foi às redes sociais tocar gaita e chamar autores de reclamações contra o sistema de esquerdistas. Resta saber a quem caberá retomar tamanho tempo perdido.

Cid Gomes apresentou proposta pedindo a revogação dos efeitos da medida
Foto: Roque de Sá/Agência Senado
Cid Gomes apresentou proposta pedindo a revogação dos efeitos da medida

Onde Cid e Ciro divergem

Duas das principais lideranças do grupo governista no Ceará, os irmãos Cid e Ciro Gomes (PDT) discordam - veja só - entre si. Em entrevista na tarde de ontem ao UOL Notícias, o senador Cid Gomes disse ser contrário a iniciativas de impeachment contra o governo Jair Bolsonaro. "Como regra, sou contra o impeachment. Não é nem especificamente para o Bolsonaro. Só em caso de absoluta extremidade, tipo ato de desonestidade. Repito, tem coisas (possíveis crimes) que encostam perto dele e começam a justificar (o impedimento)", disse.

A posição vai de encontro com o que propõe o irmão Ciro, que inclusive assina um dos diversos pedidos de impeachment contra o presidente atualmente em análise. Entre outros pontos, o primogênito Ferreira Gomes enxerga sinais de crime de responsabilidade em ações de Bolsonaro que considera autoritárias e "antidemocráticas". Cid, por sua vez, destaca que "exoticidade" de Bolsonaro é inclusive um erro que a democracia brasileira "precisa pagar" para "se reorganizar".

A linha adotada por Cid, no entanto, é próxima da defendida pelo governador Camilo Santana (PT), que também prega cautela com relação a um possível processo de impeachment do presidente. "Remédio para governo ruim é pressão popular", disse, em participação semana passada no programa Roda Viva.

Foto do Carlos Mazza

Política é imprevisível, mas um texto sobre política que conta o que você precisa saber, não. Então, Acesse minha página e clique no sino para receber notificações.

O que você achou desse conteúdo?