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Ciro e Tasso juntos de novo após uma década
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O jornalista Carlos Mazza já foi repórter de Política, repórter investigativo, coordenou o núcleo de jornalismo de dados do O POVO e atualmente é colunista de Política

Carlos Mazza política

Ciro e Tasso juntos de novo após uma década

Tipo Opinião
Sarto entre Ciro e Tasso (Foto: Alex Gomes, em 8/10/2019)
Foto: Alex Gomes, em 8/10/2019 Sarto entre Ciro e Tasso

Pegando pouca gente de surpresa, o ex-deputado Carlos Matos (PSDB) anunciou neste fim de semana ter desistido de concorrer à Prefeitura de Fortaleza. A escolha, explica o deputado, ocorre por causa de decisão conjunta entre PSDB e DEM por apoio ao candidato do PDT na disputa, José Sarto. A aliança, que deve ser formalizada em convenção conjunta marcada para amanhã no Iate Clube Fortaleza, marcará também recomposição entre os ex-governadores Ciro Gomes (PDT) e Tasso Jereissati (PSDB) após uma década de rompimento político.

Uma das mais longevas alianças entre poderosos do Ceará, a relação entre pedetista e tucano vem desde a redemocratização. Em 1986, Tasso era eleito governador do Ceará pela primeira vez, em cima de uma plataforma de corte de gastos e enxugamento da máquina pública que ficou marcada como o "Governo das Mudanças". Na época, houve grande reação do Legislativo contra a tesoura, sendo o jovem deputado Ciro Gomes - até então uma liderança local de Sobral - escolhido para defender os interesses do governo na Assembleia.

De tanto comer broncas do "choque de gestão" tassista, Ciro acabou crescendo dentro do grupo político do governador. A fidelidade foi recompensada já em 1988 - mesmo ano em que José Sarto era eleito vereador pela primeira vez em Fortaleza -, quando Ciro foi alçado por Tasso como candidato do Cambeba para a Prefeitura da Capital. Dois anos depois, o jovem prefeito seria eleito governador pelo PSDB, também com apoio decisivo do padrinho. Na época, o candidato considerado "natural" para a sucessão não era Ciro, mas sim o então secretário Sérgio Machado, que acabou preterido por influência de Tasso.

Fim de namoro

A relação entre os dois permaneceu forte ao longo das décadas seguintes, ainda que Ciro tenha abandonado o PSDB em 1996 de olho no projeto de disputar a Presidência da República. Em 2002, mesmo com candidatura tucana de José Serra, Tasso foi contra o próprio partido e apoiou Ciro, que tentava ser presidente pelo PPS pela segunda vez. A relação entre os dois falou mais alto também em 2006, quando o tucano "ignorou" candidatura de Lúcio Alcântara (então pelo PSDB) à reeleição e prestou apoio informal à eleição do irmão de Ciro, Cid Gomes (então pelo PSB), ao governo do Ceará.

A longa relação entre "padrinho e pupilo" só viria a ser abalada em 2010, quando Tasso tentava reeleição para o cargo de senador. Na época, o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) havia fechado questão por combater adversários do governo no Senado Federal e impôs apoio casado de Cid e Ciro à dobradinha Eunício Oliveira (PMDB) e José Pimentel (PT) no Ceará - o famoso "quem vota em um vota no outro". A aliança de 24 anos chegava ao fim.

Na época, o rompimento não ficou restrito à esfera política e eleitoral. A aliados, Tasso classificou postura de Ciro como uma "grande decepção" e cortou até relações pessoais com o ex-pupilo. O acirramento entre os dois atingiu novos picos nas campanhas de 2014, quando Tasso apoiou Eunício - veja só - contra Camilo Santana (PT) para o governo do Estado, e também em 2018, quando o tucano lançou Guilherme Theophilo (PSDB) para o governo.

Reaproximação

Ciro e Tasso vinham se reaproximado desde o início de 2019, quando o hoje senador Cid Gomes ajudou na articulação da candidatura do tucano à presidência do Senado. De lá para cá, houve muita troca de afagos entre ambos e inclusive pelo governador Camilo Santana. Caso confirmada em convenção do PSDB e do DEM, a aliança entre os partidos e o PDT de José Sarto marcará retorno oficial da amistosidade entre as lideranças em Fortaleza após uma década de atritos.

É como se diz: a política é dinâmica.

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