O jornalista Carlos Mazza já foi repórter de Política, repórter investigativo, coordenou o núcleo de jornalismo de dados do O POVO e atualmente é colunista de Política
O jornalista Carlos Mazza já foi repórter de Política, repórter investigativo, coordenou o núcleo de jornalismo de dados do O POVO e atualmente é colunista de Política
Entre as várias nomeações da "cota política" do secretariado de José Sarto (PDT), uma das mais surpreendentes - e até bizarras, diziam nos bastidores - foi a de Leonardo Freire, indicado pelo PRTB para o comando Regional 10.
Arquiteto por formação, o secretário chama a atenção mais pelo sobrenome, uma vez que é irmão do deputado Heitor Freire (PSL), ultradireitista eleito em 2018 como "o federal do Bolsonaro" e adversário do PDT na eleição. Para além da própria escolha de Leonardo, outro fato que surpreendeu tanto quanto o perfil da indicação foi a reação de Capitão Wagner (Pros) no caso.
Logo após a confirmação do irmão de Heitor Freire na equipe, Wagner foi às redes sociais criticar a escolha. "Bem que o candidato Heitor Freire disse na campanha: 'São farinha do mesmo saco'. As pessoas perguntavam porque ele estava batendo no Capitão? Taí a resposta, uma boquinha para o irmão", publicou no Twitter.
Até aí tudo bem. Crítica pertinente, previsível até. O curioso é que, logo depois, o militar marca o deputado André Fernandes (Republicanos), quase convidando o colega a "bater bola" sobre o caso. Menos de 15 minutos depois, o parlamentar responde: "Sempre falei que o Heitor estava à serviço dos Ferreira Gomes".
A "dobradinha" é curiosa e lembra mais o Wagner do segundo turno de 2018, frequentador ávido de eventos e que pedia votos para Jair Bolsonaro, do que o Wagner de 2020, que evitou durante toda a campanha ser associado ao presidente e sua base no Estado.
Mesmo aceitando o apoio do chefe do Planalto e seus apoiadores de bom grado, o deputado fugia como da peste do nome de Bolsonaro na campanha, se referindo à adesão apenas como uma "parceria com o Governo Federal" e citando possíveis ganhos aos cofres municipais. Do outro lado, opositores focavam quase todos os seus ataques contra Wagner citando a declaração pública de apoio feita pelo presidente ao deputado federal.
As razões são óbvias: Poucos dias antes, a pesquisa O POVO/Datafolha mostrava o presidente como o pior cabo eleitoral em Fortaleza, com 64% dos eleitores dizendo que não votariam "de jeito nenhum" em candidato apoiado pelo presidente.
O mais curioso é que, logo após passada a eleição, Wagner volte a se aproximar dos direitistas mais radicais, inclusive ensaiando jogadas conjuntas nas redes sociais - espaço mais que natural do grupo. Ficam as dúvidas: Seria o movimento de aproximação uma estratégia já pensada para 2022, quando o grupo da oposição tenta vir com tudo para a disputa ao Governo do Estado, ou seria só uma manifestação mais espontânea de Capitão, agora livre das amarras do jogo eleitoral?
De um jeito ou de outro, mesmo com o protocolo de "distância segura" adotado por Wagner durante a campanha, a tendência é que o bloco de oposição a Sarto liderado pelo militar se aproxime cada dia mais ao bolsonarismo do plano local. Dos doze vereadores eleitos pela coligação de Wagner em 2020, oito devem seguir na oposição direta à Sarto. Desse total, só três - Márcio Martins (Pros), Julierme Sena (Pros) e Sargento Reginauro (Pros) - são considerados "wagneristas raiz". Os demais cinco são mais bolsonaristas ou representantes de grupos religiosos, sobretudo igrejas evangélicas, do que aliados do deputado.
O prefeito José Sarto confirmou a intenção de criar até três pastas na nova reforma administrativa, a ser enviada ao Legislativo ainda em fevereiro. Estão na lista de possíveis mudanças pastas específicas para temáticas da Primeira Infância, Proteção Animal e Juventude, as duas últimas sendo atualmente coordenadorias especiais da Prefeitura. A trinca das novas pastas são as peças que faltam para o "fechamento" da equipe de governo do prefeito, e devem ser anunciadas apenas quando a reforma for para o Legislativo.
A intenção de Sarto em transformar a Coordenadoria Especial de Políticas Públicas de Juventude em uma secretaria da gestão foi o anúncio que mais chamou atenção entre as intenções de mudanças administrativas anunciadas por Sarto. Até então, só se falava nas pastas envolvendo Primeira Infância e Proteção Animal. Entre aliados, o com maior ascensão sobre o tema é o vereador eleito Julio Brizzi (PDT), que ocupava a coordenadoria na gestão RC e saiu da eleição como um dos parlamentares mais votados, com 16,4 mil votos.
Entre as novas pastas, uma que desperta curiosidade sobre o perfil que será escolhido para conduzir os trabalhos é a da provável Secretaria de Proteção Animal. Atualmente, o grupo político de Sarto possui diversos líderes que reivindicam protagonismo na área, como Toinha Rocha (Rede), que ocupou a coordenadoria sobre o tema na gestão Roberto Cláudio (PDT) e chegou a disputar eleição neste ano, sem sucesso.
Outro que se identifica com o tema é o suplente Marcel Girão (PDT), que ocupava Coordenadoria de Defesa Animal do governo Camilo Santana (PT) e também disputou eleição, alcançando 5,7 mil votos. Por fim, resta também o deputado federal Célio Studart (PV), que chegou a apoiar Sarto no 2º turno contra Capitão Wagner (Pros) destacando compromisso do pedetista com o tema como uma das razões. Decisão será animada.
O ano era 2005. Após uma série de articulações duras no Cambeba, o governador Lúcio Alcântara "pacifica" a base aliada em torno da indicação do então deputado Francisco Aguiar para vaga aberta no Tribunal de Contas dos Municípios (TCM). Pacifica assim, entre aspas, porque o então deputado Domingos Filho (hoje líder do PSD no Ceará) costurava, pelos bastidores, tomar a vaga do colega através de uma série de traições dentro da própria base.
Mesmo com a adesão do governador, a véspera da votação chega com clima de vitória certa de Domingos nos bastidores da Assembleia. Um dos articuladores da "virada" era o então deputado Carlomano Marques, que tomava notas das possíveis traições contra Aguiar do assento que ocupava no plenário. Diante da derrota inevitável, a liderança do governo estuda adiar a votação. Com o esvaziamento da sessão de véspera, Carlomano rasga em vários pedaços a lista de traidores e a joga em um lixo da Assembleia.
Acontece que um suplente de deputado, interessado na vaga de Francisco Aguiar, coleta os pedaços e os leva até o Cambeba, onde vira a noite com o secretário de Governo Luiz Pontes (foto) reconstituindo a relação de defecções na base. Cientes da arapuca, Lúcio e Francisco enquadram os traidores e cobram lealdade. Problema resolvido, vitória do governo.
Um Carlomano indignado sobe ao plenário da AL, xingando o interceptador da lista de traidores. "Respeito todos os catadores de lixo, mas esse aí não". A confusão foi tamanha que a segurança da Casa precisou ser acionada. Havia medo até que Carlomano estivesse armado. O suplente, por outro lado, é registrado por fotógrafo do O POVO dando farta gargalhada ao lado de líderes do governo. Anos depois, Carlomano arremessaria uma bengala contra o mesmo deputado no meio de uma discussão.
Pois é: o suplente era José Sarto, o novo prefeito de Fortaleza. Já Carlomano foi reeleito prefeito de Pacatuba, na Região Metropolitana de Fortaleza. Luiz Pontes, por sua vez, indicou o filho, Ozires Pontes, para a Secretaria dos Esportes do governo Sarto.
O leitor pode estar se perguntando o que faço por aqui nesta coluna, costumeiramente ocupado por outro colega. Acontece que Guálter George, que normalmente assina este espaço, encontra-se em merecidas férias. Até o fim de janeiro, espero não entediar o leitor com minhas opiniões e informações sobre a política local. Assunto é o que não falta.
Política é imprevisível, mas um texto sobre política que conta o que você precisa saber, não. Então, Acesse minha página e clique no sino para receber notificações.