O jornalista Carlos Mazza já foi repórter de Política, repórter investigativo, coordenou o núcleo de jornalismo de dados do O POVO e atualmente é colunista de Política
O jornalista Carlos Mazza já foi repórter de Política, repórter investigativo, coordenou o núcleo de jornalismo de dados do O POVO e atualmente é colunista de Política
Não é só para o Botafogo - e provavelmente o Vasco da Gama - que fevereiro de 2021 foi recheado de más notícias. Pré-candidato de honra do PDT para a Presidência da República, o ex-ministro Ciro Gomes também sairá do menor mês do ano com poucas recordações positivas, especialmente em sua jornada de olho em se estabelecer como alternativa viável à polarização entre petistas e bolsonaristas em 2022.
A mais recente má notícia para o primogênito Ferreira Gomes veio no último sábado, em um conjunto de declarações do presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira. Em entrevista à Revista Veja, Siqueira disse que o partido não "possui compromisso" com Ciro e disse que o partido busca filiar um "outsider" e lançá-lo na disputa pela sucessão de Jair Bolsonaro. A fala é tremendo balde de água fria nas pretensões do pedetista, que vinha fortalecendo elos com o PSB nos últimos anos.
No ano passado, Ciro foi articulador e militante ativo na campanha de João Campos (PSB) em Recife, inclusive com gente do seu grupo minando pré-candidatura do deputado Túlio Gadelha (PDT-PE), o namorado da Fátima Bernardes, na capital pernambucana. Quando a disputa entre Campos e a petista Marília Arraes apertou no 2º turno, o líder do clã Ferreira Gomes foi até Recife e atuou ativamente na campanha, chegando até a chamar a cidade de "capital do Nordeste". A fala foi parar na campanha do "anticirista" Capitão Wagner (Pros) em Fortaleza.
A mobilização, no entanto, parece não convencer Siqueira. À Veja, reforçou necessidade de uma coligação "liderada por uma peronsalidade da sociedade", que possa "empolgar os setores" e "propor uma reestruturação do sistema político nacional". Completa com uma declaração dolorosa para Ciro, de que não enxerga "essa condição em nenhum ator que já se encontra inserido na política".
A distância do PSB não foi a única notícia de fevereiro pesando contra a candidatura de Ciro em 2022. Dias antes da fala de Siqueira, o DEM vivia crise interna que terminou com racha entre o governador baiano Antônio Carlos Magalhães Neto e o ex-presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (RJ). Se dizendo traído por ACM Neto na disputa entre Arthur Lira (PP-AL) e Baleia Rossi (MDB-SP), Maia estremeceu relações com o DEM ameaçou deixar a sigla.
O "encolhimento" de Maia dentro do DEM é também má notícia para Ciro, que vinha se aproximando do partido - principalmente por intermédio do ex-presidente da Câmara - de olho em 2022. Em 2016, o grupo do PDT puxou a sigla para perto, indicando sua figura mais popular no Estado, Moroni Torgan (DEM), para a vice de Roberto Cláudio (PDT) na disputa pela reeleição. Em 2018, Ciro insistiu na composição com o DEM, que acabou desmontada pela adesão deles à apagadíssima candidatura de Geraldo Alckmin (PSDB-SP) ao Planalto.
Com DEM e PSB, Ciro sairia em 2022 muito maior que em 2018, reunindo bancada de 76 deputados na Câmara dos Deputados. Vale lembrar que, junto com esse apoio parlamentar, a adesão dos partidos agregaria ao pedetista tempo de televisão e verbas do Fundo Eleitoral, commodities valiosas para quem quer se pintar como candidato viável em qualquer disputa.
Claro que nada é impeditivo, com as coisas na política brasileira sempre trocando de lado do dia para a noite. Sem os dois partidos, o cirismo volta à base de contar quase que apenas com os deputados pedetistas, alguns deles já com relações estremecidas com o líder cearense - incluindo o próprio Túlio Gadelha e Tabata Amaral (SP). Com 26 deputados, a base parece mais com a de um candidato com 12% dos votos, "teto" que persegue Ciro desde 1998.
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