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Ciro tensiona (de novo) relação entre PT e PDT no Ceará
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O jornalista Carlos Mazza já foi repórter de Política, repórter investigativo, coordenou o núcleo de jornalismo de dados do O POVO e atualmente é colunista de Política

Carlos Mazza política

Ciro tensiona (de novo) relação entre PT e PDT no Ceará

Tipo Opinião
Ciro em lançamento 
de sua candidatura (Foto: MATEUS BONOMI/AE)
Foto: MATEUS BONOMI/AE Ciro em lançamento de sua candidatura

Nas últimas duas semanas, tudo no cenário político local parecia caminhar para a plena pacificação na relação entre PT e PDT no Ceará. Em movimentos políticos construídos conjuntamente pelo governador Camilo Santana (PT) e pelo senador Cid Gomes (PDT), petistas filiaram 12 prefeitos de outros partidos - quatro deles saídos do próprio pedetismo - e emplacaram o ex-prefeito Ilário Marques (PT) como o primeiro filiado ao partido a integrar a gestão José Sarto (PDT) em Fortaleza. A paz para 2022 parecia mais que selada.

Tudo isso até a última sexta-feira, quando o ex-ministro Ciro Gomes (PDT) realizou ato que confirmou sua pré-candidatura à Presidência da República. Em coletiva de imprensa após o evento, o pedetista se incomodou com uma pergunta do editor do portal de notícias Brasil247, que ironizou uma das palavras-chaves da campanha pedetista, "rebeldia", com a decisão de Ciro em se ausentar do País durante o segundo turno das eleições de 2018.

Na pergunta, o jornalista Lula Costa Pinto - que inclusive já trabalhou na área de mídia da campanha do próprio Ciro em 2002, assim como na de Lúcio Alcântara (então aliado do primogênito Ferreira Gomes) no Ceará - questionava se o pedetista voltaria a deixar o Brasil em um eventual segundo turno sem ele.

Visivelmente incomodado, Ciro começou bem a resposta, destacando que o próprio Lula "boicotou" no passado acordos hoje considerados importantes para a redemocratização brasileira e controle da inflação. Entre eles, a própria eleição de Tancredo Neves no colégio eleitoral em 1985 e a recusa do petista em apoiar o Plano Real anos depois. Ao final da fala, no entanto, Ciro disparou: "E a 247, desculpa, não é um órgão de imprensa, é um panfleto do Lula. Pago com dinheiro sujo"

Reação

O ataque de Ciro ao veículo provocou uma série de reações de petistas de todo o País, que saíram em defesa tanto de Lula quanto do Brasil247 e de seu editor. A confusão veio parar no Ceará, onde um grupo de petistas lançou nota condenando a atitude de Ciro. Além da adesão já esperada dos deputados Luizianne Lins (PT) e José Airton (PT) - que há tempos defendem que o PT rompa com pedetistas e lance candidatura própria ao Governo do Ceará em 2022 -, o documento também ganhou assinatura de políticos mais simpáticos ao PDT local, como o deputado estadual Elmano de Freitas (PT).

Na nota, os petistas classificam a fala de Ciro como "lamentável" e uma "agressão injusta", com "manipulação de fatos e falta de percepção dos desafios para o povo brasileiro que o pré-candidato Ciro insiste em expressar". A confusão, portanto, acaba sendo mais um prato cheio criado por Ciro para aqueles que sonham em ver o fim da aliança entre petistas e pedetistas no Ceará. Neste sentido, o líder maior pedetista tem feito muito mais para atrapalhar seus aliados - especialmente o governador Camilo Santana, que tenta a todo custo amarrar PT e PDT no Estado - do que ajudar.

Desde o início das discussões sobre a manutenção do acordo, os reiterados ataques do presidenciável a Lula e ao comando nacional do PT têm sido um dos principais argumentos de Luizianne e Zé Airton para questionar a aliança. As tensões têm reflexo principalmente na militância do partido em Fortaleza, hoje em sua maioria crítica dos irmãos Ferreira Gomes. A palavra final, no entanto, deve passar mais por Camilo e pelo deputado fedderal José Guimarães, que não se manifestaram sobre o ataque.

Articulação

Nas próximas semanas, o PT Ceará deve anunciar novas filiações ao partido na articulação feita entre o governador e Cid Gomes. São esperados pelo menos dois deputados estaduais e uma série de novos prefeitos, mas petistas não descartam a chance de novas "surpresas" serem anunciadas dentro do pacote de adesões.

Nomes dados como certos incluem a deputada Augusta Brito (hoje no PCdoB) e o deputado Júlio César Filho (hoje Cidadania), este último líder do governo Camilo na Assembleia Legislativa. Resta saber se os "agrados" serão o bastante para acalmar as inquietações dentro do petismo local. A preço de hoje, parece pouco provável.

 

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