O jornalista Carlos Mazza já foi repórter de Política, repórter investigativo, coordenou o núcleo de jornalismo de dados do O POVO e atualmente é colunista de Política
O jornalista Carlos Mazza já foi repórter de Política, repórter investigativo, coordenou o núcleo de jornalismo de dados do O POVO e atualmente é colunista de Política
Uma das grandes estrelas da passagem de Jair Bolsonaro (PL) pelo Ceará neste sábado, 16, o pré-candidato a governador Capitão Wagner (UB) não retribuiu gesto de apoio que recebeu do presidente durante a Marcha para Jesus em Fortaleza. Ao contrário de todos os outros políticos e candidatos que subiram no palanque do evento, o deputado não fez qualquer publicação ou menção ao presidente em seus perfis nas redes sociais.
Postura de Bolsonaro, por outro lado, foi no sentido oposto. Em momento em que citava deputados e senadores que estariam apoiando o governo no Congresso, Bolsonaro fez destaque especial para falar de Wagner, em aceno de forte viés eleitoral. "Meu amigo, com muita honra, Capitão Wagner. Se o Brasil tem problema, chama o Capitão. Se o Ceará tem problemas, chama o Capitão", disse o presidente, em um dos momentos mais aplaudidos do evento.
"Esse Ceará, esse Nordeste, é nosso", conclui. O aceno, no entanto, não recebeu grandes retribuições de Wagner. No Instagram, o pré-candidato ao Governo do Ceará publicou vinte "stories" da participação dele na Marcha para Jesus, incluindo imagens dele na Praia de Iracema e de faixas em seu apoio. Em nenhuma das publicações, no entanto, o presidente aparece ou é citado. Apenas a voz de Bolsonaro chega a aparecer por breves segundos em uma das publicações, que era apenas o compartilhamento de um vídeo publicado pelo vereador Carmelo Neto (PL).
Para um desavisado, a impressão que fica é a de que Wagner participava apenas de um ato religioso. Algo bem distante do clima geral do evento.
A participação de Bolsonaro na Marcha para Jesus acabou tendo fortes ares de pré-campanha à reeleição do presidente. Entre os presentes, camisetas e faixas com menções ao chefe do Executivo – e ataques aos seus adversários políticos – eram quase onipresentes, com os maiores momentos de comoção ocorrendo durante a chegada dele do aterro da Praia de Iracema. O próprio deslocamento de Bolsonaro ao evento ocorreu em motociata com lideranças religiosas e políticos, modo preferido do presidente de reunir apoiadores.
O próprio discurso de Bolsonaro no evento também possuía diversos acenos eleitorais. Em determinado momento, o presidente chegou a dizer que "caía de joelhos" todos os dias em orações para que o povo brasileiro "não conheça as dores do comunismo". "Alguém duvida que o povo cubano queira liberdade? Que o povo venezuelano queira democracia? Que o povo norte-coreano queira encontrar Deus? Mas nós somos escravos das nossas escolhas", disse.
"Quando vemos na América do Sul para onde alguns países estão indo, devemos nos preocupar em não seguir neste caminho", continua Bolsonaro, citando países que recentemente tiveram vitórias eleitorais da esquerda, como Chile, Argentina e Peru.
Outro ponto que chamou a atenção foi o forte peso político do palanque da Marcha, com grande quantidade de pré-candidatos nas eleições deste ano. Além de Wagner, receberam destaque a ex-secretária do Ministério da Saúde, Mayra Pinheiro (PL), e o coronel Aginaldo (PL), ex-comandante da Força Nacional, ambos pré-candidatos a vagas na Câmara dos Deputados. Diversos outros deputados e vereadores bolsonaristas também subiram ao palanque com o presidente, como Dr. Jaziel (PL), André Fernandes (PL), Delegado Cavalcante (PL), entre vários outros.
Ao contrário de Wagner, todos fizeram extensiva divulgação da participação de Bolsonaro no evento nas redes sociais, incluindo fotos com o presidente e do trajeto da motociata até a Praia de Iracema.
O "sumiço" de Bolsonaro em publicações de Capitão Wagner segue estratégia do candidato em evitar sua associação direta com o presidente. Apesar de conseguir reunir quantidade expressiva de apoiadores, principalmente em Fortaleza e na Região Metropolitana, o chefe do Executivo é hoje mal avaliado em estados da região Nordeste, não sendo o Ceará uma exceção. Por conta disso, a estratégia de adversários de Wagner na disputa deve envolver principalmente a associação do pré-candidato ao governo federal, tentando colar nele a pecha de "bolsonarista".
Em evento recente do União Brasil, o deputado chegou inclusive a verbalizar a questão, destacando que não deseja "nacionalizar" o debate da eleição deste ano no Estado. "Como é que eu vou discutir e debater o cenário nacional se tem 61% dos cearenses vivendo na extrema pobreza? Se tem 700 mil jovens que não estudam nem trabalham? Se tem uma violência crescente? O que quero debater é os problemas do Ceará, não vou perder tempo debatendo cenário nacional", disse Wagner.
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