O jornalista Carlos Mazza já foi repórter de Política, repórter investigativo, coordenou o núcleo de jornalismo de dados do O POVO e atualmente é colunista de Política
O jornalista Carlos Mazza já foi repórter de Política, repórter investigativo, coordenou o núcleo de jornalismo de dados do O POVO e atualmente é colunista de Política
O ex-deputado federal Vaidon Oliveira (UB) se manifestou nesta sexta-feira, 3, sobre denúncia-crime oferecida contra ele na última quinta-feira, 2, pelo Ministério Público do Ceará. Em nota publicada nas redes sociais, o ex-parlamentar apontou “perda de objeto” na ação e disse lamentar uma “espetacularização” de casos envolvendo homens públicos.
“Fui surpreendido hoje com uma notícia na imprensa de que um membro do Ministério Público manejou uma denúncia envolvendo o meu nome e de familiares meus. Pelo que foi divulgado, os fatos se referem à campanha de 2018, cujo mandato se encerrou dia 31 de janeiro passado. Portanto, já ocorreu a perda de objeto”, diz o ex-deputado.
“Lamento que, sem ter sido citado por oficial de justiça e sem ter acesso ao processo, tenha minha dignidade exposta de maneira precipitada. Sei que, nos últimos tempos, tem se tornado comum os movimentos de espetacularização em relação aos homens públicos”, afirma ainda, destacando estar “tranquilo” e “pronto para esclarecer qualquer questão”.
O MP Eleitoral do Ceará apresentou nesta quinta-feira, 2, uma denúncia-crime contra o agora ex-deputado cearense Vaidon Oliveira (União Brasil), por supostos desvios do Fundo Eleitoral por meio de uma possível candidatura laranja. A ação tem base em inquérito da Polícia Federal aberto após investigação publicada em 2019 pelo O POVO.
A denúncia, assinada pelo promotor Ricardo Rocha, foi apresentada à Justiça um dia após Vaidon encerrar o mandato de deputado federal, perdendo assim o direito ao foro privilegiado. O caso envolve a candidatura de Débora Ribeiro a deputada estadual em 2018 pelo Pros, partido que à época era dirigido no Ceará pelo agora ex-deputado federal.
Apesar de não possuir qualquer experiência política ou militância notável, Débora Ribeiro recebeu naquele ano R$ 274,2 mil da cota do Pros no Fundo Eleitoral, obtendo apenas 47 votos. A candidatura fracassada, suspeita por si só pelo expressivo investimento e retorno quase zero, ganhou novas suspeitas após O POVO revelar detalhes do caso.
Na 1ª reportagem, manchete do jornal revelou que a campanha gastou quase toda a verba na contratação de 141 ativistas de campanha — três vezes o número de votos que Débora obteve. Além disso, foi revelado que uma irmã e servidores do então gabinete de Vaidon Oliveira receberam repasses de até R$ 5 mil da candidatura. Empresas citadas pela campanha também não possuíam sede nos endereços citados em prestações de contas.
O caso ganhou traços mais graves um dia depois, quanto nova manchete do O POVO apontou que Débora Ribeiro é da família de Vaidon. Segundo documentos obtidos pela reportagem, a investigada morava há vários anos no mesmo endereço que Francisco Tancredo de Oliveira, irmão do ex-deputado, com quem mantinha um relacionamento.
Na época das denúncias, a então procuradora regional eleitoral substituta, Lívia Maria de Sousa, baseou-se nas reportagens para determinar a instauração de procedimento para apurar o caso. Após anos de impasses sobre o foro adequado para a investigação de possíveis candidaturas laranja, o inquérito da Polícia Federal foi concluído em 2020.
Segundo a ação, a investigação policial apontou “claros indícios” de que a campanha de Débora Ribeiro teria financiado serviços jurídicos e de contabilidade “não só para a própria campanha, mas para todo o partido no estado do Ceará”. Ainda segundo o MP, o próprio depoimento da candidata demonstrou “o quão alheia ela era” à disputa eleitoral.
“Há indícios fortíssimos de que o deputado federal Vaidon Oliveira teve ligação com a possível ‘candidatura laranja’ de Débora Ribeiro, que mora no mesmo endereço que já foi declarado por Francisco Tancredo de Oliveira, irmão do deputado, como seu próprio endereço. Débora e Vaidon eram cunhados à época do pleito eleitoral de 2018”, destaca.
“Também restou cristalino na presente investigação que o Deputado Federal Vaidon Oliveira não só tinha conhecimento do desvio de verba para sua candidatura, como também participou da fraude eleitoral e foi beneficiado em sua campanha, na qual foi eleito Deputado Federal, nas Eleições de 2018”, continua a peça acusatória.
Na denúncia-crime apresentada nesta quinta-feira, o MP pede a condenação de Vaidon, Débora e do irmão Tancredo por dois crimes eleitorais — falsificação de documentos e apropriação de verbas do financiamento eleitoral —, com concurso de pessoas. Juntas, as condutas podem provocar condenações de até onze anos de reclusão.
Além das condenações, o promotor Ricardo Rocha também pede bloqueio de bens de pelo menos R$ 274 mil dos acusados, somados ainda os juros e a correção monetária, valor que seria suficiente para o ressarcimento do suposto prejuízo.
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