
O jornalista Carlos Mazza já foi repórter de Política, repórter investigativo, coordenou o núcleo de jornalismo de dados do O POVO e atualmente é colunista de Política
O jornalista Carlos Mazza já foi repórter de Política, repórter investigativo, coordenou o núcleo de jornalismo de dados do O POVO e atualmente é colunista de Política
Apesar de incluir vários dos campeões de voto nas eleições de 2022, oposição mais ligada ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) na política cearense fez pouca coisa nos últimos quatro anos para incomodar de fato os governos de José Sarto (PDT) em Fortaleza ou de Camilo Santana (PT) e Izolda Cela (sem partido) na esfera estadual.
Quem faz a análise são os próprios integrantes das bases aliadas desses governos, que classificam o trabalho de bolsonaristas como mais “barulho nas redes sociais” do que qualquer outra coisa. Até em uma análise fria e objetiva, é fácil ver que momentos de crise dos últimos anos de fato “caíram no colo” de outros setores da oposição.
Basta ver, por exemplo, a atuação de vereadores de Fortaleza durante as grandes polêmicas da gestão Sarto, incluindo votação da reforma da Previdência municipal em 2021 e a aprovação, em dezembro último, da nova Taxa do Lixo. Na primeira crise, vereadores bolsonaristas preferiram se afastar dos debates, uma vez que a reforma municipal praticamente só seguia o que já tinha sido proposto no campo federal por Bolsonaro.
Já na Taxa do Lixo, atuação de bolsonaristas ficou muito restrita a vídeos críticos nas redes sociais e a um ou outro pronunciamento isolado. A oposição estratégica e organizada contra a medida, que gerou incômodo real à gestão e provocou até recuos no texto original do prefeito, ficou muito mais na conta de opositores ligados a Capitão Wagner (UB) e, principalmente, a vereadores do PT como Guilherme Sampaio e Larissa Gaspar.
Foi Guilherme, por exemplo, que identificou que texto publicado no Diário Oficial do Município sobre a lei possuía divergências com a matéria aprovada na Câmara. Foi também o petista, ao lado do “wagnerista” Márcio Martins (Pros), que articulou “boicote” da oposição na votação das isenções da Taxa, o que obrigou governo a adiar início da cobrança.
Bolsonaristas, por outro lado, acabaram ganhando maior destaque só na articulação da emenda que isentou igrejas e templos religiosos da cobrança – algo que já era defendido por líderes do próprio governo Sarto desde o início da coisa toda. A tal liberação ajudou até a “destravar” a matéria na Casa, que foi aprovada após a mudança.
Na Assembleia Legislativa, onde PT e PDT são aliados, oposição mais dura às gestões Camilo e Izolda também ficou praticamente centralizada no grupo ligado a Capitão Wagner na Casa. A polarização ficou ainda mais evidente a partir da eleição de 2020, quando Wagner teve embate acirrado com José Sarto na disputa pela Prefeitura de Fortaleza.
Campeão de votos em 2018 e em 2022, André Fernandes (PL) pouco participou dos embates no parlamento local, se ausentando da Casa principalmente após ter o mandato suspenso em meio a polêmicas com a base aliada. Já Delegado Cavalcante (PL) tinha atuação mais destacada, mas quase sempre restrita à defesa de Bolsonaro na Casa.
A articulação de votos contrários e de medidas que iam contra o interesse do governo, no entanto, acabou ficando nas mãos de wagneristas, principalmente Soldado Noélio (UB). Neste sentido, até o suplente Carlos Matos (UB) teve, no curto período que passou na Casa por conta de licença de Fernanda Pessoa (UB), atuação mais ativa na oposição a Camilo. Nem Noélio nem Matos conseguiram ser eleitos no ano passado.
Já Heitor Freire (UB), eleito em 2018 como "o federal do Bolsonaro", acabou se desentendendo com o ex-presidente logo no início do mandato, no contexto da crise que levou Bolsonaro a deixar o antigo PSL. Depois disso, o agora ex-parlamentar adotou postura muito mais "pragmática" no mandato, se afastando do debate ideológico e dedicando o tempo a buscar alianças no Interior do Ceará.
O menor protagonismo de bolsonaristas é facilmente explicado até pela própria inexperiência dos parlamentares ligados ao ex-presidente. Fora Cavalcante, quase a totalidade dos eleitos com apoio de Bolsonaro em 2018 e 2020 eram neófitos na política partidária. Com isso, acabaram encontrando muitas "portas fechadas" na articulação direta de oposição, principalmente de grupos já estabelecidos como o do PT em Fortaleza ou de Capitão Wagner no Estado.
Em outros casos, o próprio estilo "combativo" de parlamentares acabava dificultando o diálogo com outros setores da oposição. Inspetor Alberto (PL), por exemplo, acabou ganhando antipatia imediata de grupos críticos ao prefeito José Sarto por conta de polêmicas criadas pelo vereador em grupos de WhatsApp da Câmara Municipal. Sem o apoio dessas bancadas, acabou não obtendo apoio para destravar projetos, enquanto o líder da oposição, Márcio Martins, conseguiu ter várias leis sancionadas por Sarto.
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