O jornalista Carlos Mazza já foi repórter de Política, repórter investigativo, coordenou o núcleo de jornalismo de dados do O POVO e atualmente é colunista de Política
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Duas principais Casas Legislativas do Ceará, a Assembleia Legislativa e a Câmara Municipal de Fortaleza deram grande repercussão nesta quarta-feira, 20, a um discurso recente do presidente da Câmara Municipal de Jucás, Eúde Lucas (PDT), considerado como ataque e desinformação sobre pessoas com o Transtorno do Espectro Autista (TEA).
Em trecho divulgado do discurso no plenário da Casa, o vereador comenta a repercussão de uma entrevista da atriz Letícia Sabatella que, no último domingo, 17, falou ao Fantástico sobre o seu diagnóstico tardio, aos 52 anos, com a condição. Na fala, ele chega a sugerir que o transtorno poderia ser “curado” por meio de violência física.
“Pela declaração que os artistas, os autores, sei lá, tá rondando. Eu digo que eu acho que eu era autista, só que o meu pai tirou o autista na peia. No meu tempo tirava o autista era na chibata. Porque eu era um menino meio traquino”, diz, em assunto que foi repercutido negativamente por diversos vereadores e deputados estaduais cearenses.
“Não é só um ato desumano, é um ato criminoso”, disse o vereador Márcio Martins (Pros), presidente da Frente Parlamentar em Defesa da Pessoa Autista da Câmara Municipal de Fortaleza. “E se os seus pares honrarem a Câmara Municipal de Jucás, eles entram hoje mesmo no Conselho de Ética para pedir a cassação do seu mandato”, disse.
Neste sentido, Martins anunciou que irá recolher assinaturas para que o Legislativo da Capital faça uma manifestação formal de repúdio à fala do vereador. “Os vereadores de Jucás que não tomarem atitude vão ser coniventes, vão ser cúmplices, lenientes, com esse absurdo, com esse ato de desumanidade e criminoso”, disse ainda, sendo apoiado por diversas outras falas.
“Eu, como pai de autista, não poderia me calar diante de uma declaração absurda, infeliz e irresponsável, principalmente como representante do povo. Vereador, hoje você merece chibata, mas não é para tirar autismo não, é para tirar Vossa Excelência dessa cadeira que você ocupa, chibata nas eleições do ano que vem”, disse Professor Enilson (Cidadania).
Moção de repúdio semelhante também foi proposta na Assembleia Legislativa pelo deputado Felipe Mota (União), que classificou a fala como “vergonhosa”. “É inadmissível que nos dias de hoje, no Estado do Ceará, um homem que representa uma comunidade, representa um município, dizer algo desse tipo. Que ele faça uma reflexão”, disse.
Depois da repercussão do caso, a Câmara Municipal de Jucás publicou nota onde Eúde Lucas diz “lamentar” a própria fala, pede desculpas e se diz mal compreendido. “Na ocasião falei que assisti uma entrevista no Fantástico e me identifiquei como autista, mencionei sobre o meu próprio caso e como fui tratado antigamente, exatamente pela falta de diagnóstico”.
“Eu fui o vereador que mais apresentei projetos de lei em favor do Autismo no Município de Jucás, justamente por compreender e abraçar esta causa. Jamais tive a intenção de ofender e peço perdão se me expressei de maneira equivocada, lamento profundamente que tenha sido mal interpretado”, afirmou. Em vídeo divulgado nas redes sociais, o vereador também afirmou que a fala foi "tirada de contexto", e integrava um discurso maior onde ele defendia direitos de pessoas com autismo.
O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é um distúrbio neurológico que afeta o desenvolvimento cerebral e atinge indivíduos no nascimento ou nos primeiros anos de vida. As causas exatas do autismo ainda não são totalmente compreendidas, mas há uma grande variedade de fatores de risco inespecíficos. Os principais são: idade parental avançada, baixo peso ao nascer ou exposição fetal a ácido valproico (uso durante a gestação).
Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), há cerca de 70 milhões de pessoas no mundo com Transtorno do Espectro Autista (TEA), também conhecido como autismo, sendo em torno de 2 milhões somente no Brasil.
Embora o TEA seja frequentemente diagnosticado na infância, há ainda muitos adultos que não foram diagnosticados e que convivem e/ou sofrem com os sintomas do autismo, sem sequer imaginar que possam ter o transtorno. Isso resulta na falta de apoio e tratamento necessários para essas pessoas.
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