O jornalista Carlos Mazza já foi repórter de Política, repórter investigativo, coordenou o núcleo de jornalismo de dados do O POVO e atualmente é colunista de Política
O jornalista Carlos Mazza já foi repórter de Política, repórter investigativo, coordenou o núcleo de jornalismo de dados do O POVO e atualmente é colunista de Política
Os bastidores do poder no Ceará já estão fervilhando: a partir desta quarta-feira, 11, Cid Gomes (PDT) se licencia do cargo de senador para assumir o comando do PDT no Ceará. O afastamento, como o próprio senador fez questão de deixar claro, tem também o objetivo de organizar o partido para as eleições do próximo ano. A estratégia é velha conhecida de Cid, que se afastou do governo em 2014 para campanha de Camilo Santana (PT) ao governo. Alguns pontos, no entanto, chamam atenção no movimento.
Anunciada antes mesmo do início do ano eleitoral, a medida foge do tradicional método do clã Ferreira Gomes de adiar articulações políticas para os 45 do segundo tempo. Em 2014, a própria escolha de Camilo como candidato do grupo acabou saindo um dia antes da data limite da Justiça Eleitoral para convenções partidárias. De volta ao posto de principal protagonista da política partidária do Ceará já entre dezembro e março, Cid antecipa o processo e dificilmente conseguirá se esquivar de definições até o final da licença.
A volta do senador ao Ceará também ocorre em momento sensível para a base de Camilo Santana no Legislativo, quando tem crescido cobrança de vereadores e deputados aliados por maior participação no governo. Com um bloco governista gigantesco na Assembleia e Câmaras Municipais, Camilo reúne hoje em sua base diversos parlamentares com interesses inconciliáveis, com vários deles disputando bases eleitorais entre si no Interior.
Nas últimas semanas, a insatisfação gerou inclusive uma articulação de deputados por uma lei que obrigue o governador a executar emendas parlamentares de deputados estaduais ao orçamento. Do outro lado, cobranças de parlamentares por maior "atenção" do governo têm ficado cada dia mais claras. Nos últimos meses, o vice-presidente da Câmara Municipal de Fortaleza, Adail Júnior (PDT), foi pelo menos duas vezes à tribuna da Casa cobrar cargos em governos aliados e criticando coordenação do PDT pelo deputado André Figueiredo.
Do outro lado, chama também a atenção movimentos cada vez maiores de Capitão Wagner (Pros) de olho em fortalecer seu nome para disputa do ano que vem. Hoje contando com o apoio de pelo menos três partidos - Avante, PSC, Republicanos (ex-PRB) -, o pré-candidato conversa com pelo menos outros três de olho em encorpar a chapa. Na última semana, Wagner chegou inclusive a mobilizar grupo de PMs em protesto na Assembleia, lembrando embates que teve ainda no governo Cid e que ajudaram na projeção eleitoral de seu nome.
Base e oposição sabem, no entanto, que o jogo com Cid é outro. As próximas semanas prometem.
Outra coisa que chama atenção na licença de Cid é que ela abre vaga para Prisco Bezerra, irmão do prefeito Roberto Cláudio (PDT), no Senado. No ano passado, Prisco desistiu de disputar para deputado federal para figurar como suplente na chapa para o Senado do PDT. A mudança gerou especulações sobre um possível acordo entre os dois para que Prisco assumisse a vaga. Na eleição, o irmão do prefeito de Fortaleza foi o principal doador da campanha de Cid, direcionando repasse de R$ 1,3 milhão para a chapa.
À época, chegaram a existir boatos até de uma possível candidatura de Cid para prefeito de Fortaleza, abrindo caminho para efetivação de Prisco no Senado Federal. O Ferreira Gomes, no entanto, tem rejeitado a hipótese, que classifica como especulações. Já o irmão de Roberto Cláudio, por outro lado, se disse "pego de surpresa" pela licença de Cid, o que contestaria a hipótese de um acordo entre os dois para a posse.
De qualquer forma, Prisco será o primeiro suplente de senador eleito pelo Ceará a assumir o mandato em mais de uma década. Antes dele, o último senador substituto a tomar posse pelo Estado foi Flávio Torres, em 2009. Eleito como suplente na chapa de Patrícia Saboya, hoje conselheira do Tribunal de Contas do Estado, ele exerceu cargo entre julho e outubro daquele ano. Todos os quatro últimos senadores eleitos pelo Ceará antes de Cid, Tasso Jereissati (PSDB), Eunício Oliveira (MDB), José Pimentel (PT) e Inácio Arruda (PCdoB), nunca tiraram nenhuma licença do mandato.
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