O jornalista Carlos Mazza já foi repórter de Política, repórter investigativo, coordenou o núcleo de jornalismo de dados do O POVO e atualmente é colunista de Política
O jornalista Carlos Mazza já foi repórter de Política, repórter investigativo, coordenou o núcleo de jornalismo de dados do O POVO e atualmente é colunista de Política
Sete em cada dez famílias das cerca de 13,6 milhões de pessoas morando em favelas brasileiras já tiveram a renda familiar diminuída por causa do novo coronavírus. A informação é da última pesquisa DataFavela, divulgada nesta terça-feira, 24, e que ouviu 1.142 moradores de comunidades em todos os estados do Brasil entre os dias 20 e 22 de março.
Segundo a pesquisa, 5% da população do Ceará vive em favelas. Questionados se a epidemia já impactou a renda familiar, 70% dos entrevistados responderam que sim. Outro dado da pesquisa explica a redução: segundo o levantamento, 47% dos moradores de comunidades são autônomos, dependendo do trabalho cotidiano para os rendimentos familiares.
“A favela estava produzindo até R$ 119 bilhões de poder de consumo, e agora ninguém sabe como vai ficar isso, porque não há perspectiva de quando essa crise vai ficar contornada”, diz Preto Zezé, presidente da Central Única das Favelas (Cufa) Global. “Você tinha 50% das pessoas na informalidade, que agora vão passsar para a miséria”, afirma.
Entre os 19% que trabalham com carteira assinada e os 8% sem carteira, 86% dizem ainda que a pandemia já afetou o movimento das empresas empregadoras. Entre todos os entrevistados, 72% disseram que não possuem recursos para manter o padrão de vida por "nenhum período". Apenas 15% disseram ter poupança para até um mês sem renda.
“Estamos fazendo essa pesquisa para dar base para que o poder público possa tomar ações para estancar, ou ao menos amenizar essa situação. Até porque ela pode, ao nosso ver, gerar uma convulsão social. Você tinha o cara que vendia churrasquinho do lado da areninha, que tinha uma lanchonete ou vendia quentinha. Tudo isso já está em derrocada”, afirma.
Na pesquisa, o fundador do DataFavela, Renato Meirelles, defende ações imediatas para evitar agravamento ainda maior do problema. "Se não houver ações efetivas públicas e privadas, para garantir uma renda mínima, o adiamento de contas, garantindo provimento de produtos básicos, como alimentos, internet e produtos de limpeza, pode haver revolta das favelas".
Preto Zezé também destaca que, sem esse tipo de ação, a decretação de quarentenas só piora a situação de vida das pessoas mais pobres. “O isolamento não é possível para as pessoas. Quarentena é para quem tem dinheiro estocado, vida estável e estrutura em casa. Na favela a pessoa prefere se arriscar na possibilidade de pegar o vírus, do que ficar isolada sem renda”.
O DataFavela, criado em parceria entre a Cufa e o Instituto Locomotiva de Pesquisa e Estratégia, faz suas pesquisas através de uma base com mais de 20 mil moradores de favelas cadastrados pelo País e divididos por região, idade e ocupação. O levantamento tem margem de erro de 2,9 pontos percentuais.
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