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Mandetta está certo, só pode não ter tempo para provar
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O jornalista Carlos Mazza já foi repórter de Política, repórter investigativo, coordenou o núcleo de jornalismo de dados do O POVO e atualmente é colunista de Política

Carlos Mazza política

Mandetta está certo, só pode não ter tempo para provar

Tipo Opinião
Presidente Jair Bolsonaro e o agora ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta (Foto: Isac Nóbrega/PR/Agência Brasil)
Foto: Isac Nóbrega/PR/Agência Brasil Presidente Jair Bolsonaro e o agora ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta

Digo sem receio de estar errado: o tempo vai provar que, na disputa de narrativas sobre o combate ao novo coronavírus no Brasil, o ministro Henrique Mandetta (Saúde) está certo e que o presidente Jair Bolsonaro está errado. Não precisa ir longe, basta ver o que aconteceu em todos os outros países do mundo - como nos Estados Unidos, onde até mesmo Donald Trump começou negando a crise e, na última semana, passou a autorizar o saque de navios com insumos úteis para o combate à crise. A rota de negacionismo e minimização da Covid-19, de existência surreal agora que o Brasil já chega aos 500 mortos, será esmagada pela realidade.

Se o Brasil seguir o mesmo caminho seguido por China, Itália, Espanha, Estados Unidos, Reino Unido e muitos outros - e não existe nada hoje que indique o contrário -, o País chegará a índices alarmantes de mortes e contágios em poucas semanas. A pandemia é uma tragédia que se impõe, queiram ou não seus governantes ou líderes econômicos e religiosos. Pela expectativa do Ministério da Saúde, teremos colapso do sistema de saúde ao final de abril.

O problema de Mandetta, no entanto, pode ser justamente esse: tempo. Nos últimos dias, vão escalando em velocidade ímpar os estranhamentos entre o ministro e o presidente, em ritmo que torna pouco provável a "sobrevivência" dele a longo prazo. Ex-ministro da Cidadania e médico próximo do governo, Osmar Terra (MDB), também já tenta cavar a vaga na pasta, compartilhando nas redes sociais dezenas de mensagens seguindo tese de Jair Bolsonaro pelo fim de medidas de isolamento social no País. Algumas delas mereceram desmentidos de publicações científicas e até avisos de "fake news" do Twitter, veja só.

Na noite deste domingo, em reunião com apoiadores em Brasília, Bolsonaro soltou (mesmo sem citar nomes) as mais duras falas contra o ministro até então: "Teve algumas pessoas no meu governo que algo subiu à cabeça deles. Estão se achando (?) eram pessoas normais, mas, de repente, viraram estrelas. Falam pelos cotovelos, têm provocações. A hora dele ainda não chegou não, vai chegar. Não tenho medo de usar a caneta, nem pavor, e ela vai ser usada para o bem do Brasil, não pelo o meu", diz.

Com a recente disparada na popularidade de Mandetta (que tem apoio de 76% da população na coordenação da crise, contra 33% de Bolsonaro), difícil acreditar na última parte da fala de Bolsonaro.

Troca-troca

A crescente sombra da pandemia ameaça adiar a eleição municipal, mas não inibiu em nada movimentações de vereadores de olho na disputa deste ano. Com o fim da janela partidária neste final de semana, até 43% dos vereadores da Câmara Municipal de Fortaleza mudaram de partido na busca por maiores chances nas urnas. Como já era esperado, quem saiu mais forte foi o PDT, partido do prefeito Roberto Cláudio.

Agora com 16 parlamentares, a sigla concentra mais que um a cada três vereadores de Fortaleza. Principal partido de oposição no Ceará, o Pros do pré-candidato Capitão Wagner acabou perdendo uma cadeira, ficando com três vereadores. Mas o que mais chamou a atenção foi outra coisa: Com o troca-troca, sete partidos ficaram sem representação nenhuma na Casa. O PRTB, que tinha quatro vereadores, ficou com zero. Coisas do sistema político brasileiro.

Segundo políticos ouvidos pela coluna, a maior surpresa ficou por conta do PSD, sigla comandada por Domingos Filho no Estado. Antes sem perspectiva de crescimento, o partido dobrou bancada na Câmara, passando a quatro vereadores. Com o novo tamanho, a sigla já pensa até em disputar indicação do candidato a vice na chapa de Roberto Cláudio, caso o DEM acabe forçado para fora do arco de alianças do prefeito.

Mosiah Torgan, um dos exonerados da Prefeitura para concorrer às eleições
Mosiah Torgan, um dos exonerados da Prefeitura para concorrer às eleições (Foto: Júlio Caesar/O POVO)

"Compatibilizados"

Falando em eleição municipal, chamou atenção também última edição do Diário Oficial de Fortaleza, publicado na sexta-feira. Para cumprir o prazo da legislação eleitoral, o prefeito exonerou dois secretários (Elpídio Nogueira e Mosiah Torgan, este último filho do vice Moroni Torgan), uma vereadora e outros sete ex-vereadores que ocupavam cargos comissionados na gestão. Ao todo, 32 pré-candidatos foram exonerados.

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