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Evangélicos pressionam por abertura de templos no Ceará
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O jornalista Carlos Mazza já foi repórter de Política, repórter investigativo, coordenou o núcleo de jornalismo de dados do O POVO e atualmente é colunista de Política

Carlos Mazza política

Evangélicos pressionam por abertura de templos no Ceará

Tipo Opinião
Mesmo sem flexibilização, domingo teve aglomeração em feira em Messejana (Foto: FABIO LIMA)
Foto: FABIO LIMA Mesmo sem flexibilização, domingo teve aglomeração em feira em Messejana

Vereadora de Fortaleza, Priscila Costa (PSC) enviou ofício ao governador Camilo Santana (PT) cobrando uma série de alterações no decreto de isolamento social do Estado com relação a templos religiosos. Segundo a parlamentar, a proibição de funcionamento desses estabelecimentos, nos termos atuais, ocorre de forma "autoritária e abusiva", e o governo deveria avaliar a flexibilização da vedação para permitir que cultos sejam ministrados com até 30% da capacidade das igrejas. Segundo ela, templos evangélicos estariam sendo proibidos inclusive de realizarem cultos virtuais.

Essa não é a primeira iniciativa neste sentido no Ceará. Na semana passada, os pastores e deputados estaduais Dra. Silvana (PL), David Durand (Republicanos) e Apóstolo Luiz Henrique (PP) também apresentaram projetos de lei colocando templos religiosos no rol de atividades essenciais do Estado, o que permitiria seu funcionamento mesmo com a quarentena. Vale lembrar que, no passado, o mesmo grupo conseguiu impor sua pauta na Assembleia, derrubando proposta da bancada do Partido dos Trabalhadores (PT) que tentava criar multas administrativas contra quem praticasse perseguição religiosa no Estado.

A resposta do governo

Líder do governo no Legislativo, o deputado Júlio César Filho (Cidadania) diz que a gestão Camilo mantém "diálogo com todos", mas que as decisões "não são tomadas com base em pressão dos segmentos". "A orientação técnica dos especialistas tem fundamentado as decisões do governador Camilo Santana. E essa decisão sobre a abertura dos templos deverá ser tomada com base nos avanços que o Estado registrar no combate ao coronavírus."

A julgar pelo crescente número de casos registrados no Estado, portanto, a esperada flexibilização não deve ocorrer tão cedo. Também fica o questionamento: Os parlamentares realmente acham crível a realização de cultos com só parte das igrejas ocupadas? Me parece algo de controle bastante difícil, para não dizer impossível. Ainda mais quando o que está em jogo é a vida das pessoas.

Aposta furada

Se Camilo tivesse cedido diante da pressão de setores da economia, decreto que teria flexibilizado medidas de isolamento social no Ceará completaria uma semana nesta segunda-feira. De lá até a tarde deste domingo, o Estado registrava novos 731 casos confirmados da doença - quase metade do total - e 31 mortes pelo novo coronavírus. Caso trabalhassem em algum dos setores flexibilizados, por onde teriam andado essas pessoas? Quantas outras teriam infectado nesse período de uma semana?

Entre atividades que eram liberadas pela medida, o funcionamento de diversos segmentos da indústria, de feiras de alimentos e até alguns setores do comércio. Todas áreas em que é praticamente inevitável o acontecimento de aglomerações, principalmente em trocas de turno da indústria, que chegam, por vezes, a movimentar milhares de funcionários de cada vez. Isso é especialmente verdade no ramo têxtil, um dos que eram atingidos pela inovação, que acabou revertida horas depois, por influência do Conselho de Saúde do Ceará.

O longo prazo

Até agora, maioria dos casos confirmados da doença em Fortaleza segue restrita a bairros nobres da Capital, como Meireles e Aldeota. É surreal que alguém acredite, portanto, que o potencial de disseminação da doença esteja próximo de acabar, sobretudo com a existência já documentada de casos (e óbitos) na periferia - onde a possibilidade de contágio é muito maior.

Com a chegada cada vez mais próxima do esgotamento do sistema de saúde do Estado, a hora é de, pelo contrário, apertar cada vez mais as medidas de isolamento. Só assim pode ser criado um escudo humano ao redor do Sistema Único de Saúde (SUS) que permita o atendimento de todos que desenvolverem casos mais graves da doença.

 

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