Se estiverem corretas as previsões da Secretaria da Saúde do Ceará e de diversos institutos com pesquisas sobre a Covid-19, deve ocorrer nesta semana o tão falado pico de disseminação da doença no Ceará. Devemos ter dias duros pela frente, mas que podem sinalizar uma desaceleração do avanço da doença no Estado. Em estimativas mais comuns, o ponto máximo de infecção da doença deve ocorrer entre a quarta-feira, 20, e a sexta-feira, 23. Nesta semana, já deve ser apresentado modelo do governo do Ceará avaliando possibilidades de saída gradual e controlada da crise.

É surreal, portanto, que sigam em evidência tentativas de descredibilizar números sobre o coronavírus no Estado. Entre a tropa que vem protagonizando tentativas de dizer que os números trágicos apresentados pelo governo Camilo Santana (PT) não refletem a realidade da doença entre a população, se destaca o deputado estadual André Fernandes (PSL), que chegou a acusar o secretário da Saúde do Estado, Cabeto Martins - muito conhecido e respeitado entre a classe médica cearense - de pressionar profissionais de saúde para fraudarem atestados de óbito no Estado.

O curioso é que, para os que duvidam da gravidade do coronavírus, bastava acompanhar os índices de ocupação de leitos de hospitais do Estado, atualizado diariamente pela Secretaria da Saúde com base em informações dos próprios hospitais. Neste fim de semana, mais de 20 unidades hospitalares do Ceará estavam com 100% dos leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTIs) ocupados com pacientes da Covid-19. Em alguns casos, como no hospital Monte Klinikum - em área nobre de Fortaleza -, a taxa de ocupação era ainda maior, com leitos de outros setores sendo cedidos para o tratamento da doença.

É tudo verdade

Se citar o dado genérico, por cima, não satisfaz o crítico, vamos aos nomes. Segundo os dados da Sesa, o Hospital da Unimed, com o maior número de leitos de UTI na rede privada do Ceará, estava com 117 das 121 vagas do tipo ocupadas (taxa de ocupação em 97%). O Hospital Antônio Prudente, por sua vez, tinha 100% de seus 52 leitos de UTI ocupados. Uniclinic, 100% dos 25 leitos. Hospital Gênesis, 83% dos 24 leitos.

Outros grandes hospitais, como OTOclínica, São Carlos e São Mateus, também estavam todos com a UTI esgotada. Na rede filantrópica, a situação não é muito diferente. O Hospital Cura Dars, maior do segmento no Estado, apresentava taxa de ocupação de UTIs em 20%. Vale lembrar que estamos falando de Unidades de Terapia Intensiva, aquelas destinadas apenas aos casos mais graves, quando a doença já progrediu o suficiente para causar sintomas graves - sendo o mais comum a tão temida falta de ar. São pessoas de carne e osso, com família e amigos, que estão doentes e travando uma dura batalha pelas próprias vidas.

Fla-flu ideológico

Diante de dados tão descaradamente alarmantes, resta a dúvida sobre de que forma isso beneficiaria o governo do Estado, responsável justamente por evitar essas mortes? E como é possível que ainda persista a tese de que há um "complô" destinado a fazer a doença parecer mais grave do que parece?

A resposta é óbvia: como basicamente tudo que acontece no Brasil ultrapolarizado, o novo coronavírus virou briga política. Com Jair Bolsonaro encampando campanha de negacionismo contra a gravidade da doença, que já bate mais de 16 mil mortos no País, seus aliados enxergam nela apenas uma ameaça à imagem do presidente. Do outro lado, políticos interessados em aniquilar adversários bolsonaristas em seus redutos também surfam na gravidade da doença para tentar atingir seus inimigos. Passado o pico da doença, é preciso que a população busque de vez quem estava do lado da verdade nessa história.