A Confederação Israelita do Brasil (Conib) e a Sociedade Israelita do Ceará (SIC) entraram neste fim de semana com uma ação contra o ex-ministro Ciro Gomes (PDT), alegando antissemitismo em denúncias feitas pelo pedetista envolvendo empresas israelenses e o presidente Jair Bolsonaro. O processo, que já era anunciado pela Conib, foi distribuído na última sexta-feira, 22, para análise da 18ª Vara Criminal de Fortaleza.

A ação não chega a pedir qualquer condenação ou indenização do ex-ministro, mas cobra que ele preste esclarecimentos sobre acusações que fez durante uma transmissão ao vivo do canal "Ilha de Barbados", no YouTube, em 14 de maio de 2020. No vídeo, um dos participantes de uma roda de conversa diz não entender o uso da bandeira de Israel em protestos de apoiadores de Bolsonaro. "Ah não? Procura saber de onde veio o dinheiro para o financiamento de grupos de WhatsApp dele na campanha", responde Ciro.

"É evidente que todos os candidatos presidenciais de 2018, inclusive o próprio interpelado, que nelas concorreu, devem ter recebido doações de pessoas de diferentes orientações religiosas. Ao particularizar a origem judaica de eventuais doadores, e o fazendo de forma pejorativa, Ciro reforça o viés antissemita, que tem se tornado uma constante no seu discurso político", rebate a ação, assinada pelo presidente da Conib, Fernando Lottenberg.

Perguntas a Ciro

Ao todo, a Conib faz quatro questionamentos a Ciro:

Qual seria a origem dos referidos recursos mencionados na declaração do dia 14/05/2020 e qual a sua relação com a comunidade judaica ou com o Estado de Israel? Quem são as pessoas às quais V.Sa. se refere ao dizer "procura saber de onde veio o dinheiro"? O que motivou mais essa afirmação e a fala pejorativa em prejuízo de membros da comunidade judaica e do Estado de Israel? Qual foi a intenção de V.Sa. com as referidas declarações, se não ofender a honra das pessoas a quem se referiu pejorativamente por serem judias?

Não é a primeira vez que Ciro entra em atrito com a Confederação Israelita no Brasil. Desde o ano passado, o grupo tem ameaçado processar o ex-ministro por conta de declarações em debates e eventos políticos.

Ciro processa ex-assessor de André

Conhecido pelo estilo "língua solta", Ciro Gomes nem sempre fica no banco dos acusados quando o assunto é dano moral. Na última semana, o ex-ministro entrou com duas ações na Justiça do Ceará contra o ex-assessor parlamentar José Alberto Bastos Vieira Júnior, até o início deste ano lotado no gabinete do deputado estadual André Fernandes (PSL). Conhecido como "Inspetor Alberto" e pré-candidato a vereador, o ex-assessor publicou nas redes sociais diversos vídeos com ofensas pessoais e acusações contra Ciro, principal liderança do PDT no Estado.

No âmbito criminal, foi apresentada uma queixa-crime que pede a condenação de Alberto pelo crime de injúria - com pena de detenção de um a seis meses ou multa -, com pena aumentada em até um terço por uso de rede social. Além disso, Ciro Gomes entrou com um ação cível cobrando indenização de R$ 50 mil ao assessor pelos ataques. No vídeo anexado aos processos, o assessor chama o ex-ministro de "drogueiro", "chorão" e "homem do nariz nervoso", entre várias outras ofensas.

Inspetor Alberto parece dedicado a superar até mesmo Ciro no número de processos por crime contra a honra na Justiça local. Ele também é alvo de processo semelhante movido pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), após divulgar, em setembro do ano passado, vídeo onde aparece descarregando uma pistola em uma foto do petista. A Justiça acatou pedido liminar da defesa do ex-presidente e removeu o vídeo do ar.