
Linguista e semioticista, professora da Universidade Federal do Ceará, com doutorado na Universidade de Liège (Bélgica) e pós-doutorado na Universidade de São Paulo
Linguista e semioticista, professora da Universidade Federal do Ceará, com doutorado na Universidade de Liège (Bélgica) e pós-doutorado na Universidade de São Paulo
Há uma semana, Marina Silva, ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, participou de uma sessão da Comissão de Infraestrutura no Senado. Quem assistiu a partes do debate viu a impossibilidade de diálogo numa discussão cada vez mais confusa e sem saída. De fato, se o objetivo da Comissão de Infraestrutura é viabilizar obras de grande porte no país, o encontro com a ministra do Meio Ambiente já promete de antemão ser difícil. Isso porque é justamente função desse ministério garantir que as obras não destruam o patrimônio ambiental.
O que se vê, no entanto, não é um debate acalorado de posições controversas e sim uma sucessão de tentativas de resposta e colocações da ministra sistematicamente cortadas pelos membros da comissão e de seu presidente. Poderíamos nos ater a estas posições antagônicas: infraestrutura vs. meio ambiente para explicar os ânimos exaltados. No entanto, há mais em jogo.
Uma vista geral na sala nos informa que Marina Silva está entre pouquíssimas mulheres. Aliás, suas trocas são todas com senadores. Nenhuma senadora. A figura de mediação é Marcos Rogério (PL-RO), presidente da sessão. No entanto, todas as suas ações vão no sentido de retirar o turno da ministra, falar por cima de sua fala e fazer coro com as posições dos senadores. Não há em nenhum momento alguma neutralidade do presidente no sentido de acalmar ânimos, dar voz alternada aos lados do debate.
Se tudo isso já sugere um ambiente de misoginia, é nas falas individuais que ela se revela. Marcos Rogério vê nas buscas por um espaço de fala uma “falta de educação” e o senador completa com a fórmula “se ponha no teu lugar”. Ora, em que sentido expressar uma posição seria incompatível com seu lugar de ministra? Se não está saindo de seu papel, então não é o lugar de ministra que ele está questionando, mas o direito de Marina de se exprimir.
A fala do senador é tão prototipicamente machista que uma voz feminina se insurge na plateia para defender a ministra: Eliziane Gama (PSD-MA). Enfim, o senador Plínio Valério (PMDB-AM) diz separar a mulher da ministra. Novamente, por que é necessário separar a mulher da ministra? Quando se fala com homens, faz-se a ressalva? Mas afinal está certa a ministra e mulher Marina Silva quando diz que foi convidada ali como ministra, se não a respeita como tal, não faz sentido se submeter a um ambiente onde nenhuma troca respeitosa é possível.
Marina Silva é uma mulher negra, de 67 anos, que ocupa um cargo de poder no governo do país. Seu cargo é um de proteção e combate às desigualdades. Por tudo isso, Marina incomoda e, assim, resta uma voz necessária no governo. Que ela resista e prossiga é um ganho das mulheres, mas também da sociedade como um todo.
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