
Chico Araujo é cearense, licenciado em Letras, professor de Língua Portuguesa e de Literatura brasileira. É autor dos livros
Chico Araujo é cearense, licenciado em Letras, professor de Língua Portuguesa e de Literatura brasileira. É autor dos livros
Não estamos bem. Estamos enfermos. Nós, como sociedade “civilizada”, estamos profundamente adoecidos.
E um dos aspectos que reputo como de forte impacto em nossa existência enfermada identifica a ideia e a prática de egoísmo. Cada vez mais autocentrados, estamos pensando, agindo, sentindo como se somente nós, individualmente, importássemos. Ao nos darmos a máxima importância, ao nos colocarmos no centro de tudo como fundamentais, abandonamos a perspectiva de que não estamos sós e que, portanto, os outros também importam, também são relevantes, também são essenciais. Se estamos acometidos de egoísmo, estamos tomados pela ausência de civilidade.
Pensar em civilidade implica pensar no que significa existir em civilização que, por sua vez, alude pensar em sociedade. Então, reconhecer que nelas devem existir cidadãos é primordial. E essa existência exige, por exemplo, respeito às culturas, às religiões, aos costumes (também pede afabilidade, amabilidade, prática da cortesia), a tudo, enfim, que diz respeito à sociedade constituída.
Em tudo isso, valores morais e éticos estão associados e são amálgamas de nosso viver social. Quando nos afastamos dessa atitude respeitosa, quando abandonamos a postura ética e os valores morais adequados ao viver social, partimos a aliança que nos conecta como cidadãos. Quando acreditamos que o nosso ego deve ser evidenciado em detrimento a quaisquer outras perspectivas de vivência, desenvolvemos a ideia de que “Os outros que se danem”, “Quem for fraco que se quebre”, “O mundo é dos espertos”.
“É que Narciso acha feio o que não é espelho” (C.V.) trouxe para a música popular o mito grego de Narciso. O mito de Narciso talvez seja a representação máxima do exercício do ego inflado, exacerbado. Se nos concentramos em olhar somente para nós como indivíduos mais importantes entre todos os outros, certamente olharemos os demais semelhantes com desprezo, com superioridade; certamente os consideraremos desimportantes, inferiores a nós. Em isso acontecendo, somente os admitiremos próximos a nós se estiverem a nos servir, a validar nossas opiniões – por mais absurdas que sejam –, no comprometimento abnegado à realização dos nossos desejos.
De fato, o egoísta somente consegue “ver-se ao espelho”, faltando-lhe a capacidade de perceber seu entorno, condição básica para se viver em sociedade, uma vez que ela é o indicativo máximo de que “ninguém está sozinho”. Negar a existência aparceirada em comunidade significa gestar e desenvolver a ideia de que o eu se basta sozinho, o que é falso. Todos estamos interligados por mecanismos políticos, econômicos, sociais, culturais e negar isso em favor da compreensão de que “eu me basto a mim” significa estabelecer o marco de adoecimento. Adoecidos, desejosos de imperar sobre os outros, nos tornamos atrozes, intentamos impor-lhes o que nos é de interesse, tratamos todos como subalternos. Egoístas, estamos cegos para o que haja além de nós.
Acomodados em nosso egocentrismo, entendemos serem nossas vontades indubitavelmente realizáveis e necessárias, e fazemos de tudo para realizá-las. Nos consideramos super merecedores de tudo, a ponto de nos frustrarmos, se não conseguimos a realização do desejado. Mas não aceitamos bem essa frustração e o sofrimento que vem dela pode nos levar a atos insanos.
Há muitos fatos ocorrendo dia após dia denotando pistas de nossas mazelas: acontecem nas ruas; explodem nas redes sociais; são apresentados nos jornais e nos telejornais; transitam por vários caminhos via internet; mostram-se em nossas casas, em nossas comunidades, em todos os recantos da sociedade. E muitos deles, principalmente, estão nascendo dentro de nós, vinculados a nosso acentuado personalismo.
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