
Chico Araujo é cearense, licenciado em Letras, professor de Língua Portuguesa e de Literatura brasileira. É autor dos livros
Chico Araujo é cearense, licenciado em Letras, professor de Língua Portuguesa e de Literatura brasileira. É autor dos livros
No começo, foram as louças que não aprendera a lavar quando jovem. Houve gastos excessivos em sabão, até que o equilíbrio veio. Então já eram panelas, talheres, copos e tudo o mais de cozinha carecido de um carinho de esponja, fosse o que fosse. A prática leva à perfeição?
Mais um pouco e já dominava os movimentos de ida e vinda de vassouras nas demandas da limpeza dos chãos. Ficou habilidoso na ação de empurrar a sujeira para dentro da pá. Não havia tapetes em casa. Também nos cantos das paredes, embaixo e em cima, foram demolidas as casas das aranhas, que findaram por migrar sabe-se lá para onde – a vigilância aterrorizava – ou findaram mesmo ali mesmo entre fios de nylon do equipamento.
Sem nem perceber, tornou-se perito na lavagem dos chãos dos banheiros, no transporte de águas empurradas por rodos nos diversos caminhos possíveis dos cômodos caseiros, no enxugamento com panos secos dos pisos úmidos, no deixar os espaços cheirando a limpeza. Jardim e jarros com plantas receberam dele chuvas matinais e crepusculares, mesmo na ausência da temporada das chuvas.
E de repente – talvez não tão rapidamente quanto o pensamento desejou – as vidraças das janelas já não estavam opacas e os raios do sol podiam rasgar escuridões ali por dentro e mais um pouco. O brilho da luz solar varava, enfim, as lâminas dos vidros limpos.
As grandes mesas e as mesinhas de centro, criados-mudos, escrivaninhas, cômodas, guarda-roupas, quadros, esculturas receberam a dança de espanadores em ritual eliminador das poeiras acumuladas. Paredes receberam as cores das tintas, também as portas e janelas de madeira.
Aí alargou o olhar sobre eletrodomésticos e já não aceitou a existência de qualquer pó nem ferrugens em geladeira, freezer, fogão, lavadora de louça, lavadora de roupas, micro-ondas – que o tempo de antes, com ausência de olhar, nada via, nem mesmo a incidência da maresia em sopros pelos vãos da casa.
Quando se deu conta, não era arquivo, mas atuava integralmente sem qualquer lastro da identidade que ostentara até então. Autômato. Ele, robô.
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