
Chico Araujo é cearense, licenciado em Letras, professor de Língua Portuguesa e de Literatura brasileira
Chico Araujo é cearense, licenciado em Letras, professor de Língua Portuguesa e de Literatura brasileira
Abundam hoje no ambiente virtual várias notícias dando conta de casos envolvendo escolas, professores, professoras, estudantes, famílias. É difícil dizer se antes da banalização das redes sociais e dos múltiplos canais digitais em plataformas de streaming houvesse mesmo tantos casos envolvendo tais personagens, que acontecimentos que têm sido noticiados de tão expressiva envergadura fossem, de fato, tão corriqueiros.
Triviais ou não, sempre são bastante delicados quaisquer episódios envolvendo a escola, os professores, as professoras, os estudantes e a família destes. Contemporaneamente, no entanto, a sensação que se gera socialmente é a de que tem havido superdimensionamento de algumas questões, as quais talvez pudessem ser resolvidas de maneira tranquila, amigável, em acordos abrangendo todos os envolvidos. Infelizmente, a opção considerada mais fácil tem sido a exposição dos eventos em redes sociais digitais, provocando a amplificação dos casos.
No instante exato do acontecimento, quem está certo? Todos se autodeclaram os portadores da verdade, porque todos se consideram donos da razão. No entanto, não é bem isso o que acontece e, em boa parte das situações vividas, é imprescindível a apuração de todos os eventos para que se chegue a um resultado satisfatório e atendendo à realidade, havendo culpado ou culpados.
Em demandas envolvendo professor ou professora e aluno ou aluna, as notícias mais recentes atestem estarem os professores em desvantagem, posto que, cada vez mais, as famílias estão entendendo serem seus descendentes inocentes de tudo, o que pode não se configurar com a realidade. Algumas vezes, sim, professores e professoras podem extrapolar seus limites na cátedra. Algumas vezes, sim, estudantes deixam de agir como deveriam e criam ambientes nocivos ao bom e adequado funcionamento de uma sala de aula. O que acontece, então, deve ser apurado com imparcialidade e retidão. Muitas situações têm nuances que carecem de olhar atento e responsável. Nenhuma das partes aqui em destaque pode ser punida a partir de informações baseadas em suposições.
É importante nunca esquecer que para o bom funcionamento da “educação escolar” (formal), é imprescindível que o estudante chegue às salas de aula já tendo desenvolvido a habilidade necessária de respeito às pessoas, nesse caso específico, aos diretores, coordenadores, professores, professoras, colegas e demais trabalhadores do ambiente escolar. Essa educação apenas pode ser reforçada na escola, inclusive, em parceria com a família; no entanto, é esta que deve assumir como responsabilidade sua a tarefa de educar os filhos para a convivência social de forma humana, respeitosa, ética.
Em uma entrevista concedida ao programa EPC da Rádio Catve 91,7 FM (Cascavel), em 2014, o filósofo Mário Sérgio Cortella disse ter sido questionado por um pai, em debate, da seguinte maneira: “Professor, o que é que a família pode fazer para ajudar a escola na educação dos nossos filhos?”. Mário Sérgio respondeu: “Olha, pai, há uma inversão na tua questão. Não é a família que ajuda a escola na educação dos teus filhos, é o contrário. É a escola que ajuda a tua família na educação dos teus filhos, fazendo escolarização”.
Seguindo o raciocínio do filósofo e professor, em outras palavras, essa ideia de que a escola é quem educa uma criança, um jovem, é um equívoco. Quem educa (ou não educa) é a família. A escola, com ajuda da família, escolariza os jovens, mas quem educa é a família. Cada uma dessas duas partes tem papel relevante que não pode ser negligenciado na construção do ser (filho, filha, estudante), contudo nenhuma delas pode assumir o papel desempenhado pela outra.
Não é justo que entre escola e família emerjam atitudes causadoras de opressões nem aos estudantes nem aos professores nem às professoras.
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