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Onde a vergonha não faz morada
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Chico Araujo é cearense, licenciado em Letras, professor de Língua Portuguesa e de Literatura brasileira

Onde a vergonha não faz morada

O político verdadeiro, o bom político, aquele em que uma população pode confiar é alguém que, dedicado à política - como representante eleito e acolhido em um partido político – representa os interesses dela e procura encontrar soluções para os problemas sociais, econômicos e políticos orbitando a sociedade
Tipo Crônica

Muito além da nada simples vontade, tenho, em contraponto, desenvolvido inquieto controle para não abordar determinados temas de viés político, mas acho impressionante como o ambiente da política nacional vive nos insultando, nos açulando, quase que exigindo alguma fala nossa sobre o que a tem feito pulsar.

Um fato recente foi a maneira desrespeitosa (para ser educado) com que senadores da República trataram a ministra Marina Silva, que atendeu a convite feito... pelos senadores. Agressivo, um deles declarou, referindo-se a ela: “a mulher merece respeito, a ministra, não”. Outro, em flagrante desrespeito à postura e ao conhecimento técnicos de quem está à frente do Ministério do Meio Ambiente, disse estar Marina a “atrapalhar o desenvolvimento do país”.

Mais outro senador, expressando sua arrogância de macho, tentou fazê-la calar, proferindo um repugnante, abominável “Ponha-se no seu lugar”. A ministra estava na Comissão de Infraestrutura do Senado, onde há políticos sedentos pelo encerramento total do que os impede de devastar o meio ambiente brasileiro, de acordo com seus desejos, no intuito principal de ampliar as riquezas de que já são possuidores – a eles, imediatistas e ambiciosos que são, não interessa qualquer estudo informando que se deve cuidar e muito bem da natureza, tampouco estão interessados em saber se as devastações que querem empreender irão prejudicar povos originários e outras populações que se beneficiam do ambiente natural preservado.

Outro fato: na semana que passou, o ministro Fernando Haddad também foi hostilizado por congressistas ao defender proposta de que os mais ricos do país arquem com tributos de maneira mais condizente com os ganhos que têm. Haddad, sua equipe econômica e o governo tentam amenizar a carga tributária que recai sobre os mais pobres – na proposta se pôs também o desejo de se isentar de impostos as pessoas que ganham até 5.000,00 – e para isso buscam compensar a arrecadação necessária para manter os projetos sociais do governo cobrando um pouco mais dos mais ricos, entre os quais estão conhecidos reincidentes sonegadores de impostos e beneficiários de incentivos ficais.

Em sua fala, entre outros pontos de relevância para o debate, Haddad perguntou: "Vamos enfrentar supersalário ou não?" Elogiando o presidente da Câmara, o ministro esclareceu ter sido convidado por ele para uma reunião com os líderes da Casa no intuito de se fazer um bom e adequado debate envolvendo contas públicas, supersalários e a aposentadoria dos militares. Disse o ministro: “Temos o compromisso de nos reunirmos para olho no olho discutir o seguinte: O que está na mesa? Nós vamos enfrentar a questão do supersalário ou não? Nós vamos enfrentar a questão da aposentadoria de militares ou não? Nós vamos pôr ordem nos cadastros dos programas sociais ou não? O que nós vamos fazer? Ninguém mais do que a área econômica deseja fazer esse encontro”.

Haddad mexeu nos calos dos congressistas que se põem na condição de ricos e que se consideram componentes da “elite” brasileira – alguns são financiados por ela. Para a “elite”, tudo existe para seu usufruto – e os outros que se lasquem! O congresso nacional, já há algum tempo, mas cada vez mais a cada eleição, está infestado de “políticos” que não fazem jus nem ao título que recebem. O político verdadeiro, o bom político, aquele em que uma população pode confiar é alguém que, dedicado à política - como representante eleito e acolhido em um partido político – representa os interesses dela e procura encontrar soluções para os problemas sociais, econômicos e políticos orbitando a sociedade. Muitos que estão naquela casa só dizem representar seus eleitores, enquanto os desprezam – até uma nova eleição.

Pelo que dizem e fazem, muitos dos políticos não têm nenhuma vergonha, nenhum pudor em se dizerem representantes dos que os elegeram pelo voto, enquanto os enganam, simulando criar leis e aprovar projetos beneficiadores das populações mais carentes. São falsos com o povo que neles espera muito. Senão, vejamos.

Enquanto o congresso quer exigir do governo que corte mais e mais seus gastos, incluindo entre eles aqueles que beneficiariam a população no que se refere a melhorias sociais, à saúde, à educação, por exemplo, o presidente da Câmara, Hugo Motta, apresentou projeto que vai permitir aos deputados aumentarem seus próprios rendimentos. Além da ampliação dos salários, outra proposta do presidente da câmara é acabar com a vedação ao acúmulo da aposentadoria parlamentar e o exercício de cargos no legislativo, em nível estadual ou municipal. Ou seja: o político pode incorporar ao seu salário de político sua aposentadoria por outra função laboral desenvolvida. Em nenhuma outra circunstância qualquer trabalhador poderá ter essa condição.

Representantes do povo?

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