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O mundo em corda bamba
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Chico Araujo é cearense, licenciado em Letras, professor de Língua Portuguesa e de Literatura brasileira

O mundo em corda bamba

Água e outras riquezas minerais, florestas, terras em locais estratégicos são desejos e desculpas para conflitos capazes de se transformarem em guerras intensas, extensas, sangrentas
Tipo Crônica

O mundo sempre teve seus espaços de conflitos, revelam os livros de História universal, pautados em documentos que comprovam os fatos históricos. No século XX, porém, viu seres humanos querendo brigar de forma mais ampla, em escala mundial, não exatamente para a defesa de territórios e para a preservação da própria existência, senão para se apropriar de extensões territoriais alheias e para dizimar a vida de outros povos, como já ocorrera antes sem as proporções de universalidade.

Eis que, no primeiro quarto do século XXI, governos liderados por extremistas decidem investir militarmente sobre nações que lhes descontentam, povos que não aceitam ficar sob suas botas, a ponto de agir para a dizimação deles em todos os seus campos de existência. A morte de quem esteja no caminho de suas iras é entendida por eles como algo natural. E, de repente, o mundo volta a se perceber em corda bamba.

Água e outras riquezas minerais, florestas, terras em locais estratégicos são desejos e desculpas para conflitos capazes de se transformarem em guerras intensas, extensas, sangrentas, onde morrem soldados e populações civis, enquanto os mandantes dos duelos restam insanos e sobre forte proteção. Mandam invadir, destruir, matar, tomar posse, enquanto de longe veem e avaliam as destruições promovidas e realizadas. Se entendem com o poder de tudo fazer; se imaginam “o poder”.

Tudo o que fazem é pensado na dimensão geopolítica. E querem tudo, loucamente, freneticamente. E ai de quem se ponha em posição contrária ao que pensam, esteja próximo, esteja distante. A eles não interessa o sentimento de seu povo, muito menos o anseio de outras nações. Ambicionam imperar sobre todos e propõem, alguns deles, sempre que oportuno, terem sidos escolhidos por deuses que influenciam o modo de ser de populações.

Mexem com as subjetividades das pessoas por meio de discursos falsos e propagandas falazes para subjugá-las a partir de suas crenças religiosas, de suas inclinações ideológicas, mas, se isso não for suficiente para enganá-las e submetê-las, apelam à força mesmo, remédio amargo e recurso sempre no imaginário de quem oprime.

Às guerras deflagradas, relatos, depoimentos, fotografias, filmagens, transmissões em tempo real de crueldades que ocorrem como desdobramentos das ideologias e simples desejos marcadamente exclusivistas, elitistas, xenofóbicos, racistas, supremacistas, imperialistas, enfim.

Como no passado, tudo azeitado em movimento belicoso articulado por homens autocratas e abrigados em grupos políticos orquestrados por extremistas (o que fariam sozinhos?) na busca de articular todas as maneiras para trazerem de volta para as sociedades ainda civilizadas ideias fundamentais que deram vida ao nazifascismo.

O mundo vê grupos políticos abrigados em legendas legitimamente reconhecidas nas sociedades sem cerimônia de defender pautas preconceituosas contra grupos minoritários e opositores quaisquer, seduzindo jovens a pensarem e viverem seus ideais, estimulando-os a serem força representativa de tudo quanto queiram. Com base no que propõem, diariamente, sabe-se de casos de pessoas, famílias, grupos segregados por sua cor, pela sua condição econômica, social, política, religiosa, opção sexual.

É um novo momento histórico em que os anseios de poder, a exaltação de privilégio de "raça", valorizando a supremacia branca aliada à disposição econômica e política de grupos de "elite" – coisa de um passado reconhecidamente aviltante para o mundo –, voltaram com força que impressionam. E assustam.

Os líderes belicistas levam a cabo a ideia de que as populações não cabíveis nessa condição privilegiada, estejam onde estiverem, devem ser submetidas, aviltadas, destruídas. E o mundo tenta novamente se equilibrar percorrendo seu caminho em corda bamba.

Foto do Chico Araujo

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