
Chico Araujo é cearense, licenciado em Letras, professor de Língua Portuguesa e de Literatura brasileira
Chico Araujo é cearense, licenciado em Letras, professor de Língua Portuguesa e de Literatura brasileira
Repito sempre que possível em conversas e já disse em texto escrito publicado que tenho saudades do tempo em que um disco musical – Long Play, Compact Disc – ostentavam, além das músicas gravadas e das indicações de autorias, uma maravilhosa ficha técnica, na qual tomávamos ciência de quem mais participara daquele trabalho: músicos, vocalistas, arranjadores, maestro, orquestra, produtores, gravadora onde todo o processo se desenvolveu.
A minha chateação e a minha implicância constantes estão relacionadas principalmente a esse tempo da exuberante prevalência das plataformas de streaming musicais – Spotify, YouTube, Deezer, Apple Music, Amazon Music, Soundcloud além de outras tantas – que fazem tocar músicas de múltiplos artistas de todo e qualquer gênero musical em qualquer parte do mundo (o que, de certa forma, é bom, pois insere trabalhos desconhecidos em um universo de possibilidades de escutas), mas sem dar créditos e oportunidades para que se saiba de todos os que estiveram envolvidos com a composição, preparação técnico-musical, vocal e de arranjos para que uma tal música se tornasse o que se tornou.
Em tais plataformas, quando solicitamos a audição de uma música, um EP, um álbum sabemos imediatamente do intérprete e mediatamente dos compositores, porém sem implicação direta de quem seja o compositor melódico e quem terá escrito a letra, no caso das canções. Há orquestra? Qual? Quem a rege? Há solo de violino, de violoncelo, de piano, por exemplo? Quem são os solistas? Há vocais? Quem os realiza - são somente vozes masculinas ou somente femininas, ou são mistas? O trabalho tem uma capa que o identifica? Quem a fez?
São muitas informações sonegadas que poderiam nos ajudar a compreender melhor uma obra musical, penso. Desejo até. Por isso, a saudade daquele tempo em que havia encartes nos discos sempre me aflora. Mas, recentemente, vi brotar aqui em Fortaleza um projeto que entendo como bem-sucedido a partir da iniciativa de um poeta, letrista, compositor, dramaturgo e editor cearense, o premiadíssimo Alan Mendonça.
Em sua Editora Radiadora, Alan desenvolveu o projeto “Livro-Disco”, que já conta com dois títulos: “Cinema carruagem: um disco de Rodger Rogério (com canções de Rogério Franco e Alan Mendonça)”, de 2024, e “Munganga Navi: um disco de Jon Soares e João Pirambu”, de 2025. Um primoroso produto cultural legado ao público pela Radiadora. Primoroso em sua concepção artística, desde as capas – em “Cinema carruagem” uma foto de Rodger Rogério; em “Muganga Navi” um traçado elegante e certeiro em desenho de João e de Jon – até as contracapas, onde se leem textos referendando o conteúdo dos dois livros-discos. Primoroso no papel utilizado. Primoroso em fotos, desenhos e textos escritos em ambos.
Primoroso na ideia de inserir nas páginas as letras das canções com as devidas indicações dos compositores e, ainda, presentear os leitores com a realidade tecnológica de QR Codes a partir dos quais se tem acesso a novas informações, imagens e... a música para se ouvir, para deixar em regozijo o leitor amante de poemas-letras e de canções. Alan Mendonça, já o sabia poeta de poemas com lirismo raro e de enlevo, letrista de intensa sonoridade e, também, um editor atento, inventivo e determinado a entregar a autores e público leitor livros de qualidade. Mas Alan inovou e se renovou com a série livro-disco.
Quando digo “se renovou”, trago para meu discurso o fato de fazer constar nos dois títulos da série nascida em 2024 a tão desejada “ficha técnica” informativa de tudo quanto fez existir uma obra fonográfica oferecida para a sociedade: músicos e instrumentos utilizados por eles, arranjadores, produção musical, mixagem, masterização, estúdios onde as gravações foram feitas. Um espetáculo essa criação de Alan Mendonça e de sua Editora Radiadora, administrada por ele e por sua parceira em tudo que a vida permite Roberta Laena.
Pois bem, leitor: as músicas de “Cinema carruagem: um disco de Rodger Rogério (com canções de Rogério Franco e Alan Mendonça)” e de “Munganga Navi: um disco de Jon Soares e João Pirambu”, caso você esteja em local possibilitador apenas da audição das belíssimas canções, estão disponíveis nas plataformas digitais musicais. Porém, para que se deleite com todas as nuances informativas existentes nos dois livros-discos, entre no site da Radiadora e adquira-os a preço justo. Alan e Roberta cuidam de lhe mandar entregar.
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