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Um carioca da gema nascido de parteira
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Chico Araujo é cearense, licenciado em Letras, professor de Língua Portuguesa e de Literatura brasileira

Um carioca da gema nascido de parteira

Em seu trabalho artístico, Marcos Sylva não tem uma temática específica para desenvolver a arte musical que o torna grandioso no que faz. Na verdade, celebra o samba em várias composições
Tipo Crônica

“Sou carioca da gema/ Nascido de parteira/ Com perdão a Madureira/ Afilhado de Noel/ Não sou poeta/ Mas meu verso é verdadeiro/ Igual a todo brasileiro/ Vou cumprindo meu papel”. Com esses versos, Marcos Sylva começa seu samba “Perfil”, a quarta canção de seu álbum “Sambas e canções”, chegado às plataformas musicais digitais em dezembro de 2024, mas originalmente lançado, fisicamente, em 2016, no espaço superior do Kasa Kaiada.

Possivelmente pela origem, Marcos Sylva tem um carinho muito especial pelo gênero musical samba, destacadamente pelas variações mais respeitadoras do que se pode denominar “samba de raiz”. No espectro do “samba de raiz”, os batuques realizados pelos instrumentos de percussão – especialmente surdo, pandeiro, tamborim, cuíca, repique, tantam, agogô, ganzá – dão a tônica dos ritmos, da sonoridade em canções nas quais se acrescentam os sons de violão, cavaquinho, bandolim, banjo, cavaco. Prestigiando esses instrumentos, sem esquecer de em um ou outro samba acrescentar sons de metais, Marcos Sylva vai enriquecendo suas composições musicais.

No álbum “Sambas e canções”, desde a primeira gravação, acompanhamos sua sonoridade com a utilização de parte desses instrumentos em composições bem cuidadas, bem arranjadas e interpretadas na sua voz, em alguns momentos enriquecidas de coral bem assertivo. Na canção “Sou eu sim”, letra e melodia de Marcos Sylva, além dos metais e da percussão base, o som de flauta marca trechos com muito beleza. Em “Perfil”, citada na abertura desse texto, metais, flautas, percussão e coral já são percebidos no início da canção, além de violão bem dedilhado. No desenvolvimento da música, cuíca insinuante também se escuta.

Em seu trabalho artístico, Marcos Sylva não tem uma temática específica para desenvolver a arte musical que o torna grandioso no que faz. Na verdade, celebra o samba em várias composições, mas falando também de amor pela própria música, sem esquecer daquele que inflama casais e, com a sensibilidade de quem é avô, do sentimento encantatório nascido da geração a que deu vida e que lhe posterga longevidade. “Sorri para mim, criança”, no mesmo álbum “Sambas e canções”, exemplifica essa sua receptividade ao mundo e ao que dele deve ser cantado e exaltado: “O quintal da Dona Francisquinha” é samba que trata de um espaço real onde Dona Francisquinha, sua filha Solange e seu genro Cildo recebiam amigos para a música, conversa solta e amigável e apreciação gastronômica diversificada; “Sou eu sim” e “Bonita e sensual” exemplificam o olhar amoroso de um eu lírico revelando-se apaixonado.

Saudade, tristeza, alegria, liberdade, natureza, costumes são outros temas sob o olhar de Marcos Sylva os quais são motivadores de suas criações musicais não somente em “Sambas e canções”, mas em toda sua obra de compositor e intérprete (em seu repertório há músicas de outros artistas do cancioneiro nacional). Esse Chico, inclusive, desfruta do privilégio de estar entre seus parceiros letristas, constando também em canções dos álbuns “Ilustrações poéticas” (2015), “Carta virada” (2019), “Sempre bamba” (2024).

Músico profissional desde 1978, o “carioca da gema” participou, no início da carreira, do conjunto musical “Máquina do Som”, na Cidade Maravilhosa, tempo em que foi descobrindo e se apropriando dos gêneros musicais tocados na época, promovendo festas e bailes com repertório eclético, inclusos os gêneros samba rock, funk, MPB, discoteque e sucessos internacionais gravados em novelas televisivas. Morando em Fortaleza há mais de 30 anos, conta no currículo com participação no Festival de Música da Universidade Federal do Ceará, em 2008, ficando entre os 10 finalistas com a música “Marina”, de sua autoria.
Marcos Sylva, nesse momento, prepara um novo álbum – “Pra cantar samba” – que deve ter lançamento realizado em 2026, segundo prevê o próprio artista. Nesse novo trabalho, o compositor, intérprete, arranjador e produtor musical inaugura parceria com o letrista, poeta, artista plástico e advogado Euclides Themotheo. Enquanto aguardamos, podemos ouvir as músicas de Marcos Sylva pelas plataformas digitais musicais. Vale todo o tempo empreendido para degustar sua voz, suas melodias, as letras cantadas (realizadas por ele mesmo ou em parcerias), os arranjos realizados. Em seu canal no YouTube, clipes desenvolvidos por ele mesmo mostram suas habilidades no ambiente musical digital. Vale conferir.

Foto do Chico Araujo

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