
Chico Araujo é cearense, licenciado em Letras, professor de Língua Portuguesa e de Literatura brasileira
Chico Araujo é cearense, licenciado em Letras, professor de Língua Portuguesa e de Literatura brasileira
Chico Buarque de Holanda disse certa vez em entrevista não ouvir música alguma enquanto escreve. Disse também conhecer escritores com habilidade para escutar música ao tempo de suas escritas, mas não vê essa prática como algo bom para ele: “Pra mim isso soa absurdo, escrever ouvindo... tendo uma música de fundo”, declarou.
Revelador, na entrevista Chico ainda afirmou não existir música de fundo em sua casa. Quando quer ouvir uma música, vai ao computador, pois o som dele está acoplado lá, onde põe para tocar o disco que deseja ouvir, ou vai ao YouTube. Sincero, o músico, compositor e intérprete afirmou que a música de fundo o “perturba absolutamente”. Indo além, revelou não ser muito afeito a festas, porque a música troando nelas “atrapalha a vida, atrapalha as conversas”.
Essa fala de Chico Buarque está no canal MPB Cortes, no YouTube – sem a indicação da data precisa da postagem –, e me fez pensar sobre o quanto ele não deve se fazer presente em barzinhos ou restaurantes com música ao vivo, uma vez que, segundo afirmou, quando sai para conversar com alguém dá atenção máxima a essa conversa, desejando, portanto, também a máxima atenção de quem esteja dialogando com ele, algo que restaria prejudicado pela interferência sonora de artistas cantando.
O Buarque não está errado. Creio, inclusive, ser também por esse pormenor minha predileção por shows musicais em teatro, onde quem vai tem a intenção de participar do espetáculo, principalmente ouvindo e vendo, concentrado, as performances do artista se apresentando e de quem o esteja acompanhando no palco. Um teatro costuma ter maior conforto para o corpo de quem esteja na plateia, ainda boa qualidade de som e de iluminação, favorecendo a apreciação do espetáculo.
Nos barzinhos e restaurantes, nada sugere o conforto existente em teatros. Há barulho no ambiente, o som do artista para o público nem sempre está bem calibrado, a iluminação não é para o destaque a ele se expondo e à sua arte. Além disso, as acomodações não favorecem o olhar para ele. Considero, inclusive, antipática a ideia de alguém sentar-se de costas para o palco onde se dará alguma apresentação. Eu sempre busco sentar-me de frente para o artista, não muito próximo do palco para não me chegar o som muito alto, não muito distante que não consiga ouvir o que se canta, o que se toca.
Onde esteja, quando me ponho a ouvir música, gosto de perceber letras e melodias, a presença dos instrumentos participantes do concerto, normalmente poucos no ambiente de bares. Gosto de prestigiar quem está tocando e cantando e, convenhamos, em um barzinho, há muito apelo a conversas e distrações do ato musical, o artista se transformando em alguém quase sem presença alguma para a plateia ansiosa por beber, comer, conversar, rir, barulhar, parte dela, às vezes, desejosa de não ter sua algazarra atrapalhada por quem canta ou toca.
A soma da Literatura, das histórias cotidianas e a paixão pela escrita. Acesse minha página e clique no sino para receber notificações.