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Saraus
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Chico Araujo é cearense, licenciado em Letras, professor de Língua Portuguesa e de Literatura brasileira

Saraus

Tipo Crônica

Nesses dias contemporâneos, normalmente organizado como uma reunião noturna, ou a partir de um final de tarde para continuação na noite (validando a tradição), o sarau é uma atividade sociocultural, tendo por objetivo o compartilhamento e a difusão de experiências culturais centradas em artes musicais, poéticas, plásticas, dramatúrgicas, por exemplo, em momento de convívio social. Costuma ser um momento de muito congraçamento, alegria, troca de conhecimentos e afetos.

Regado quase sempre a vinhos, cervejas e outras bebidas ao gosto dos participantes, além da degustação de quitutes vários, via de regra um sarau se estrutura a partir da apresentação, ou exposição, em um grupo de pessoas reunidas, de habilidades e competências artísticas de diversos artistas, os quais se expressam por meio de atividades como a dança, o canto, a recitação de poemas, também a leitura de textos em prosa literária (contos curtos costumam fazer parte do cardápio) entre outras atividades culturais que caibam no momento, com o propósito de fazer chegar ao mundo social as múltiplas artes existentes em vivências emotivas.

Evento muito comum durante o século XIX, um sarau costuma despertar nas pessoas emoções das mais variadas, a maioria de alegria, porém não se deve desconsiderar a sensibilidade de cada um, uma vez que a recepção emotiva das artes depende muito do estado sensível individual. Há quem chore por recordações que uma música traz, ao mesmo tempo em que há quem esteja em plena alegria por ouvi-la. Há quem fique contemplativo por ouvir um poema, enquanto o leitor/declamador possa se manter enfaticamente entristecido pelos versos ditos. Um sarau, no entanto, nunca deixará de estar envolto em muitas emoções.

Aqui em Fortaleza, em muitos lugares há registros de edições de saraus: em casas, apartamentos, salões de festa em condomínios residenciais, escolas, universidades, praças públicas, bares. Em casa, minha esposa e eu realizamos saraus durante alguns anos pré-pandemia e, pós-pandemia, fizemos novamente esses encontros com amantes de saraus em tardes / noites de muita alegria, com muita arte e entre amigos poetas, músicos, artistas plásticos. Em 2024, apenas um encontro realizamos, tímido, lendo poemas, conversando sobre música, cantando um pouco, apreciando pinturas, desenhos, mosaicos, artes realizadas por artistas amigos que aderiram ao chamado para aquele encontro e, claro, com vinhos, cervejas e quitutes.

Também em 2024, a poeta Marta Pinheiro me fez convite para uma noite no Sarau som das Letras, no Boteco Cultural da Ângela (antigo Boteco do Arlindo), convite a que desta vez pude anuir. Lá estiveram a própria Marta Pinheiro, a também poeta Alana Alencar, além de Alan Kardec Filho, Calé Alencar, Klévisson Viana, Pingo de Fortaleza, Vitória Andrade, Eliezer Setton, entre vários outros artistas da literatura e da música, como o percussionista e apresentador de televisão Dílson Pinheiro. Poemas foram apresentados, músicas interpretadas, performances poético-dramáticas realizadas. Um encontro festivo de amigos e amantes da arte e da cultura.

Um sarau tem um poder, uma aura espetacular para reunir e congregar pessoas amantes das artes – até aquela que tem dificuldades para sair de casa. Em agosto desse 2025, exatamente na segunda-feira 25, o poeta, artista plástico e músico Washington Arraes festejou seu aniversário em noite de muita alegria, poesia, música, realizando o Sarau poemas, tintas e canções", em encontro realizado no Teatro Chico Anysio. Bernardo Neto, Alana Alencar, Marcelo renegado, Jon Soares, Eugênia Nery, Marta Pinheiro, Orlando Ribeiro, Jair Freitas, Cássia de Oliveira, Joana Angélica, Andréa Oliveira, Socorro Santos foram artistas amigos do aniversariante que ali se reuniram para o festejo de aniversário entre tantos outros cujos nomes sonego aqui.

Em final do mesmo agosto, precisamente no dia 28, quinta-feira, desta feita no Boteco Vintage, novamente amantes de saraus foram até o bar atendendo a um chamado do Coletivo Somos Sarau, “um vibrante movimento cultural nascido das vivências e encontros dos saraus de Fortaleza, com o objetivo de fortalecer a arte local, promover a liberdade de expressão e impulsionar transformação social”, conforme me descreveu Eugênia Nery, cantora, coralista, ativista cultural e confessa amante de saraus. No Boteco Vintage, o Coletivo realizou o Vozes Plurais. Somos Sarau, um encontro bastante concorrido, rico em poesia e música, um abraço festivo dos celebrantes.

“Fruto da rica produção artística da cidade, o Coletivo Somos Sarau transcende o conceito de evento cultural, posicionando-se como um espaço de construção coletiva e troca de experiências, tendo como missão ampliar horizontes, mobilizar saberes e conhecimentos e articular pessoas em prol de causas sociais e culturais importantes", afirma Eugênia Neri.

Acontecendo onde acontecer – residências, instituições de ensino, universidades, bares –, com intuito político-social ou apenas como um congraçamento de amigos um sarau será sempre lugar onde a alegria, a festa, e a reverência a Baco estarão também presentes como demarcação, no tempo e no espaço, de que a vida pulsa. Em Fortaleza, é certo, a vida ribomba e sobeja.

Foto do Chico Araujo

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