Chico Araujo é cearense, licenciado em Letras, professor de Língua Portuguesa e de Literatura brasileira
Chico Araujo é cearense, licenciado em Letras, professor de Língua Portuguesa e de Literatura brasileira
Em reunião, D diz, sorrindo um sorriso com ar galhofeiro de quem se deseja com erudição elevada: "O S é muito disciplinado". S observa em silêncio o desdobramento da fala de D, uma fala desenvolvendo discurso redutor da relevância de proposição de S ao grupo de trabalho que coordena.
Ora, apesar da celeridade valiosa do tempo e das inovações impostas pelas tecnologias aos funcionamentos das empresas, ainda hoje se sabe que ter disciplina não é algo ruim, principalmente quando se quer desenvolver um ritmo de trabalho em busca de firmes conhecimentos ou realizar determinada atividade laboral com o objetivo de se alcançar objetivos específicos. De certa maneira, ser disciplinado implica ter foco no que faz, no que realiza.
Trabalho de equipe exige disciplinamento, requere foco; do contrário, o que for proposto pelo líder como meta a ser alcançada não se alcança, não se cumpre e o prejuízo decorrente não atinge um apenas, mas todos os envolvidos no mesmo projeto, todos aqueles imbuídos de alguma função no mesmo processo que faz desenvolver o projeto.
No contexto acima, a fala de D foi jocosa, visando a elevar-se sobre S, seu superior hierárquico, exatamente por não querer ter disciplina no grupo em que estava; julgando-se mesmo acima de todos, D dava passos para autoafirmar-se perante o grupo como figura independente, acima da capacidade e conhecimento de quem lhe rodeava ali. O que pode acontecer com grupos onde algo assim acontece? Seu desmoronamento.
O andar feito lobo solitário em lugar onde a melhor estratégia é organizar-se em grupo sugere atitude destoante de qualquer projeto organizado no sentido de que os ganhos sejam não de um, antes, de todos. A presunção de pôr-se acima das demais pessoas existentes no grupo pode, inclusive, limitar a presença do presunçoso entre os que tentam se dar a mão.
Quando algo assim acontece em ambiente de educação, o perigo torna-se grande no sentido de que o processo educacional planejado para educar estudantes não seja plenamente contemplado. Ao mesmo tempo, aquele que se arvora expoente ante os demais acaba por querer chamar atenção para si, desrespeitando as relações éticas necessárias para que tudo ocorra como o planejado. Distante do ambiente educacional, em qualquer outro espaço corporativo, toda equipe precisa caminhar de maneira ordenada, organizada.
Estando D como componente de um grupo solidamente organizado, ele poderá, por conta própria, trazer para si o ostracismo, amargando o sabor desagradável de ser alijado do lugar no qual tentara se impor como imprescindível por sua superioridade ilusória. Atrai, com suas ações, porém, não somente problemas para ele, uma vez que as consequências de seus atos podem recair sobre todos do grupo.
Em uma equipe, cada participante tem função indispensável, cada um tem um papel a cumprir e, por isso, cada um é imprescindível, não por superioridade aos outros, porém por ser necessário "com os outros". No mesmo diapasão, sabendo-se que toda equipe exige orientação de liderança, esta somente deve se ver exatamente como orientadora de um trabalho exigindo a parceria de todos de maneira organizada e compromissada.
No mais, e em sentido mais amplo, importa compreender que humildade se compõe como característica saudável quando temos de nos entender como partícipes de uma sociedade que se organiza melhor quando todos compreendem seus papéis e se mantém neles sabendo da sua importância como componente, não como elemento arrogante se pavoneando diante de necessários parceiros.
A soma da Literatura, das histórias cotidianas e a paixão pela escrita. Acesse minha página e clique no sino para receber notificações.