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Precisamos falar sobre autorregulação em neurodivergentes
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Reitora da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (Uern), é graduada em Ciência da Computação, mestrado em Engenharia Elétrica, pela Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), doutora em Engenharia Elétrica e da Computação, pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e Pós-Doutorado, no Massachusetts Institute of Technology (MIT/EUA)

Precisamos falar sobre autorregulação em neurodivergentes

Segundo o Censo 2022 (IBGE), cerca de 2,4 milhões de pessoas no Brasil foram diagnosticadas com Transtorno do Espectro Autista (TEA), o que corresponde a 1,2% da população
Neste domingo, 1º, a Estação das Artes promove oficina e espetáculo de dança gratuitos voltados para pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA) (Foto: Complexo Cultural Estação das Artes/Divulgação)
Foto: Complexo Cultural Estação das Artes/Divulgação Neste domingo, 1º, a Estação das Artes promove oficina e espetáculo de dança gratuitos voltados para pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA)

Precisamos falar sobre autorregulação em neurodivergentes Vivemos tempos em que o acesso à informação avança a passos largos, ao contrário da nossa capacidade coletiva de acolher as diferenças. No que se refere a crianças e adolescentes neurodivergentes e suas necessidades em relação à autorregulação sensório-emocional, ainda engatinhamos em empatia e estrutura. A autorregulação requer consciência, tempo, apoio e um ambiente minimamente favorável.

De acordo com o Censo 2022 (IBGE), cerca de 2,4 milhões de pessoas no Brasil foram diagnosticadas com Transtorno do Espectro Autista (TEA), o que corresponde a 1,2% da população. A prevalência é maior entre crianças de 5 a 9 anos. 2,6% das crianças dessa faixa apresentavam diagnóstico de TEA, o que equivale a uma em cada 36 crianças. Em crianças neurodivergentes, o cérebro processa os estímulos sensoriais de forma diferente da maioria.

O barulho na sala de aula, a textura do uniforme, a luz intensa da escola, o toque inesperado de um colega... tudo pode se tornar uma sobrecarga. Em uma sociedade profundamente normativa, espera-se que todas as crianças se comportem da mesma forma, aprendam no mesmo ritmo, interajam da mesma maneira. Essa expectativa, além de injusta, gera sofrimento e exclusão. Em vez de adaptar o ambiente, insiste-se em moldar o indivíduo.

É nesse ponto que a autorregulação sensório-emocional precisa ganhar protagonismo no debate público, sendo encarada como uma responsabilidade compartilhada entre pais, educadores, profissionais de saúde, gestores escolares e Estado.

Não se promove autorregulação em um ambiente hostil, mas na escuta, na rotina segura, nas estratégias que respeitam o tempo de cada um. A autorregulação precisa de alternativas, não de repressão. Pode ser o uso de fones abafadores de som, uma sala de acolhimento sensorial ou simplesmente a permissão para caminhar um pouco quando a concentração se esvai.

A neurodivergência é uma variação natural, não um "problema a ser consertado". Quando entendemos isso, deixamos de focar apenas na "normalização" de comportamentos e passamos a investir na construção de ambientes mais humanos, diversos e respeitosos.

Este tema precisa estar na formação de professores, nas políticas públicas de educação inclusiva, no imaginário coletivo. Quanto mais falamos sobre isso, mais deslocamos o eixo do julgamento para o da compreensão. É urgente deixar de rotular e começar a entender. E, acima de tudo, oferecer às nossas crianças e adolescentes ferramentas para que sintam-se pertencentes, com seus sons, silêncios, intensidades e um jeito único de existir. É na diferença que reside a beleza da convivência. É na empatia que começa o processo genuíno de inclusão. p.

 

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