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O silêncio não protege. O silêncio mata.
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Reitora da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (Uern), é graduada em Ciência da Computação, mestrado em Engenharia Elétrica, pela Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), doutora em Engenharia Elétrica e da Computação, pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e Pós-Doutorado, no Massachusetts Institute of Technology (MIT/EUA)

O silêncio não protege. O silêncio mata.

A educação é uma das armas mais poderosas contra a violência. É na sala de aula, nas pesquisas, nos projetos de extensão e nas ações comunitárias que plantamos as sementes de uma sociedade mais justa e igualitária
Cartilha com jogos ajuda jovens a saber se são vítimas de violência (Foto: )
Foto: Cartilha com jogos ajuda jovens a saber se são vítimas de violência

O combate à violência contra a mulher deve ser permanente. Acabamos de sair do Agosto Lilás, uma campanha que nos lembra da urgência em enfrentar a violência contra a mulher e nos convoca a refletir sobre os conceitos e preconceitos que atravessam gerações e resultam em agressão, silêncio forçado e, não raramente, em tragédia.

Nos últimos dias, o país se chocou com o caso de uma jovem, no Rio Grande do Norte, vítima de uma agressão brutal que resultou em 61 socos no rosto. Este episódio não é um caso isolado, mas o retrato de um problema estrutural que insiste em negar às mulheres o direito básico de viver sem medo.

De janeiro a julho de 2025, o Ligue 180 recebeu 86.025 denúncias de violência contra mulheres. A maioria das vítimas é negra (44,3%) e heterossexual (57,7%). Em quase 48% dos casos, o agressor era o parceiro ou ex-parceiro. As violências mais comuns foram a física (41,4%) e a psicológica (27,9%), quase sempre praticadas dentro de casa.

Em quase 22% das denúncias, os episódios se arrastavam há mais de um ano; em 9%, há mais de cinco anos; e em 8,6%, há mais de dez anos. Esses dados nos mostram o peso do silêncio, do medo e da falta de acesso rápido a uma rede de proteção eficaz.

A violência contra a mulher não acontece de repente. Ela é precedida por sinais: o controle excessivo, o ciúme doentio, as humilhações, as ameaças. O silêncio diante dessas violências "invisíveis" fortalece o agressor e aprisiona a vítima. Por isso, a denúncia é um ato de coragem e proteção coletiva.

É urgente ampliar as políticas de prevenção, proteção e acolhimento. O enfrentamento não pode recair apenas sobre as vítimas. Centros de atendimento, delegacias especializadas, o disque 180, universidades, movimentos sociais, igrejas e toda a sociedade precisam assumir a responsabilidade de acolher e orientar. Na Uern, acreditamos que a educação é um caminho essencial para transformar essa realidade.

Acreditamos que a educação é uma das armas mais poderosas contra a violência. É na sala de aula, nas pesquisas, nos projetos de extensão e nas ações comunitárias que plantamos as sementes de uma sociedade mais justa e igualitária.

Precisamos romper o ciclo da violência, formar cidadãos comprometidos com a igualdade e construir uma sociedade em que mulheres vivam livres e respeitadas.O silêncio não protege, apenas perpetua a dor.

Denunciar é salvar vidas. Que o caso da jovem agredida no RN desperte em nós a urgência de agir. Combater a violência é um dever coletivo. E, como educadora, reafirmo: só pela conscientização, pelo acolhimento e pela firmeza em nossas ações será possível construir um futuro em que mulheres vivam livres, seguras e respeitadas.

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