Amor e Monstros: uma divertida e despretensiosa história de apocalipse
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João Gabriel Tréz é repórter de cultura do O POVO e filiado à Associação Cearense de Críticos de Cinema (Aceccine). É presidente do júri do Troféu Samburá, concedido pelo Vida&Arte e Fundação Demócrito Rocha no Cine Ceará. Em 2019, participou do Júri da Crítica do 13° For Rainbow.
Foto: Jasin Boland / divulgação
Minnow (Ariana Greenblatt), Clyde (Michael Rooker) e o cachorro Garoto são os principais companheiros de jornada do protagonista
Joel (Dylan O'Brien) está no auge da juventude, mas, ao invés de aproveitá-lo com a família, os amigos e a namorada Aimee (Jessica Henwick), foi forçado a viver os últimos sete anos preso em um bunker subterrâneo com desconhecidos por conta de um apocalipse monstruoso que assolou a Terra. Apesar do aparente peso da história descrita, é a partir dela que se desenrola a despretensiosa comédia/aventura "Amor e Monstros", da Netflix. A trama acompanha a decisão do medroso e infeliz protagonista em enfrentar as criaturas gigantes da superfície na intenção de reencontrar Aimee.
Em rápida contextualização, o longa abre com uma espécie de prólogo animado que explica o que aconteceu com o planeta: um asteroide estava se encaminhando para a Terra e, por isso, governos decidiram destruí-lo com foguetes. O choque, no entanto, fez com que restos químicos entrassem em contato com animais de sangue frio - como sapos, caranguejos e centopeias - que sofreram mutações e viraram monstros enormes. Foi assim que Joel perdeu os pais, se distanciou de Aimee e acabou se unindo a um grupo desconhecido que formou uma "colônia" sob a superfície.
Apesar da segurança, o bunker do grupo passa a ser alvo de ataques de criaturas infiltradas. Joel, porém, não faz parte do grupo de defensores do grupo por sempre "congelar" em situações de conflito. Confinado em tarefas como a comunicação remota com outras colônias e a cozinha, o jovem se sente desnecessário - e sozinho, acima de tudo, já que seus companheiros de colônia são todos casais.
Sem jamais ter esquecido Aimee, o protagonista tenta constante contato via rádio com outras colônias na esperança de conseguir saber onde ela pode estar. Eventualmente Joel obtém sucesso, conversa com ela, mas perde contato por um problema no rádio. É aí que o personagem é tomado por um ímpeto romântico - e inconsequente - e decide sair do bunker para percorrer dezenas de quilômetros na superfície atrás da amada.
Os perigos da empreitada, decerto, são muitos, aparecendo nas formas de um gigantesco sapo ou um monstruoso caranguejo. Um dos principais atrativos da produção são os efeitos visuais, que chegaram inclusive a receber uma indicação ao Oscar neste ano.
A jornada do improvável herói, porém, é marcada por sorte e encontros especiais. Entre eles, o cachorro Garoto - também solitário e que se revela uma companhia essencial - e a dupla Clyde e Minnow - um homem que perdeu o filho e uma menina que perdeu o pai.
Joel aprende no caminho, com cada um deles, uma série de ataques e defesas para lidar com diferentes monstros, mas também - e especialmente - aprende a lidar melhor consigo mesmo, suas superações e limitações. É uma clássica trama de autoconhecimento, onde os passos de descoberta do protagonista são, também, de descoberta de si.
Apesar de uma possível leitura mais profunda aqui, "Amor e Monstros" não tem grandes pretensões - além de tentar ter uma ou duas sequências, é claro, já que a maioria dos desfechos do filme deixa possíveis fios prontos para serem puxados e desenvolvidos. De forma direta, rápida, pop e leve, o filme se constitui enquanto uma experiência divertida e básica.
Um ponto que pode ser levado um tanto mais sério são os ecos que a produção faz da situação da pandemia - ainda que por coincidência, naturalmente, já que o projeto do filme existe desde 2012 e ele foi gravado em 2019. O problema está no fato de que certas mensagens que a obra defende soam um tanto fora de tempo e contexto no atual panorama do planeta. A trama de "Amor e Monstros" consiste, afinal, na escolha de sair de um isolamento seguro para "viver a vida" de fato. Enquanto isso, na realidade, isolamento e distanciamento são uma urgente necessidade na vida de hoje.
São, sim, coincidências, mas das mais infelizes. Por outro lado, é possível se relacionar com esta mesma mensagem do filme de uma forma diferente. Assim que sai do bunker, Joel se depara com um mundo afetado, como não poderia deixar de ser, mas repleto de belezas. A quem se dedica a ainda permanecer isolado em prol de si e do coletivo, é uma imagem inspiradora para o futuro: reencontrar o mundo, as ruas, as pessoas.
Amor e Monstros
Já disponível na Netflix
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