Sempre nova onda: cineastas e filmes da nouvelle vague
João Gabriel Tréz é repórter de cultura do O POVO e filiado à Associação Cearense de Críticos de Cinema (Aceccine). É presidente do júri do Troféu Samburá, concedido pelo Vida&Arte e Fundação Demócrito Rocha no Cine Ceará. Em 2019, participou do Júri da Crítica do 13° For Rainbow.
Sempre nova onda: cineastas e filmes da nouvelle vague
Com a morte do cineasta Jean-Luc Godard, último remanescente da nouvelle vague, convite é por descobrir e redescobrir o movimento
A notícia da morte do cineasta franco-suíço Jean Luc-Godard aos 91 anos, divulgada no último dia 13 de setembro, teve múltiplos pesos simbólicos. Além da perda específica do artista — reconhecido e exaltado pelas mais de seis décadas de reflexões sobre imagem, sejam elas feitas a partir da palavra dita ou escrita — o falecimento de Godard significa, também, um determinado "fim" da nouvelle vague. Na França, entre o final dos anos 1950 e o início dos anos 1960, a "nova onda" foi um movimento audiovisual que marcou não somente aquele período ou o país, mas reverberou em influências, referências e reverências até hoje por todo o mundo. Com a morte de Godard, que era até aqui o último remanescente vivo da nouvelle vague, o convite é para descobrir e redescobrir o movimento e seus representantes.
Acossado (1960)
Um dos mais emblemáticos filmes da nouvelle vague foi, também, o 1º longa de Godard. Com quatro curtas até então, o jovem diretor despontou com "Acossado". O longa acompanha o inconsequente Michel Poiccard (Jean-Paul Belmondo), que após atropelar e matar um policial com um carro roubado conhece a jovem estudante de jornalismo Patricia (Jean Seberg) e tenta convencê-la a fugir com ele. O filme reúne outros nomes do movimento, como Claude Chabrol e François Truffaut no roteiro. Filmes de Godard da época, como "Uma Mulher É Uma Mulher" e "O Pequeno Soldado", também estão em streamings.
Onde: AppleTV, YouTube e Google Play
Os Incompreendidos (1959)
Outro longa referencial da nouvelle vague, a estreia de Truffaut acompanha o menino Antoine Doinel (Jean-Pierre Léaud), que aos 12 anos vive de modo desassistido pela família e pela sociedade. O filme venceu como Melhor Direção no Festival de Cannes e chegou a ser indicado ao Oscar pelo roteiro. A obra teve uma série de "continuações", acompanhando o crescimento do protagonista, sempre interpretado por Léaud. Duas delas — o curta "Antoine e Colette", de 1962, sobre uma relação de Antoine aos 17 anos, e "Domicílio Conjugal", de 1970, sobre a vida de casado do personagem — estão disponíveis na plataforma Mubi.
Onde: Globoplay e Telecine
Os Amantes da Ponte Mac Donald (1961)
A "rive gauche" (ou "margem esquerda") foi uma vertente da nouvelle vague marcada por identificação política à esquerda pronunciada e experimentações entre linguagens. A cineasta belga Agnès Varda — que dirigiu "La Pointe Courte" (1955), considerado precursor do movimento — foi um dos principais nomes do grupo. Parte da produção de curtas do período está disponível na Mubi, incluindo "Os Amantes da Ponte Mac Donald", que compõe "Cléo das 5 às 7" (1962) e é estrelado por Godard e Anna Karina. A plataforma traz ainda "Saudações, Cubanos!" (1963) e "Os Panteras Negras" (1968).
Onde: Mubi
Hiroshima Meu Amor (1959)
Representante da "rive gauche", Resnais tinha mais de duas décadas em direção de curtas documentais quando lançou o 1º longa de ficção, "Hiroshima Meu Amor". Escrito por Marguerite Duras, indicada ao Oscar pelo trabalho, o filme acompanha uma atriz francesa que grava um filme antiguerra em Hiroshima e, na cidade, tem um caso com um arquiteto japonês. Os dois dividem vivências e perspectivas sobre a 2ª Guerra Mundial, memória e amor. "Ano Passado em Marienbad" (1961), que também trata de memórias e cria relações com a literatura e o teatro, é outro destaque dirigido por Resnais.
Onde: Looke, Oldflix, Reserva Imovision e Belas Artes à la Carte
A Pista (1962), de Chris Marker
Mais um importante nome da “rive gauche”, o fotógrafo e diretor Chris Marker é especialmente reconhecido pelos trabalhos como documentarista. O mais conhecido trabalho do cineasta, porém, é o curta de ficção científica “A Pista”. A partir de fotografias, o filme segue as memórias de um homem em meio à 3ª Guerra Mundial. Outros filmes com participação do artista, sejam da época da nouvelle vague ou posteriores, estão disponíveis também na plataforma Mubi, como “Noite e Neblina” (1956), com roteiro de Marker e direção de Alain Resnais, e “Sem Sol” (1983).
Onde: Mubi
Paris nos Pertence (1961), de Jacques Rivette
Escrito em 1957 e filmado em 1958, o longa de estreia de Rivette foi lançado somente em 1961, depois das estreias de Godard e Truffaut. A trama acompanha uma jovem e ingênua estudante Anne se aproxima de um grupo marcado por tensões e mistérios não ditos. O filme tem participações pontuais de Godard, Claude Chabrol e Jacques Demy. Diferentemente dos contemporâneos, Rivette só conseguiu realizar o segundo longa, o provocador "A Religiosa", cinco anos depois do lançamento de "Paris Nos Pertence"
Onde: Globoplay e Telecine
Minha Noite Com Ela (1969), de Éric Rohmer
Um devoto católico se vê involuntariamente tendo que passar a noite no apartamento de uma mulher divorciada e de personalidade, o que faz os padrões éticos e morais do homem serem questionados. O filme de Éric Rohmer é somente um exemplo dentre a numerosa produção do diretor dos anos 1950 e 1960, entre curtas e longas. Parte da filmografia do cineasta está disponível na plataforma Mubi, mas somente até a próxima quinta, 29.
Onde: Mubi
As Rivais (1968), de Claude Chabrol
Chabrol é outro nome da nouvelle vague cuja filmografia da época é numerosa, tendo estreado no fim dos anos 1950 na direção de filmes. Em "As Corças", ele acompanha a intensa e complexa relação amorosa entre rica Frédérique e jovem Why, atravessada pela presença de um sedutor arquiteto. A maioria dos filmes de Chabrol que está disponível em plataformas de streaming é de fases posteriores da carreira do diretor.
Onde: Looke e NetMovies
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