26ª Mostra de Tiradentes: curador aborda ideia de "Cinema Mutirão"
João Gabriel Tréz é repórter de cultura do O POVO e filiado à Associação Cearense de Críticos de Cinema (Aceccine). É presidente do júri do Troféu Samburá, concedido pelo Vida&Arte e Fundação Demócrito Rocha no Cine Ceará. Em 2019, participou do Júri da Crítica do 13° For Rainbow.
26ª Mostra de Tiradentes: curador aborda ideia de "Cinema Mutirão"
Coordenador curatorial da Mostra de Tiradentes, Francis Vogner dos Reis elabora espelhamentos entre "Cinema mutirão" — temática do ano —, seleção e contexto de País
A Mostra de Cinema de Tiradentes, evento que começa nesta sexta, 20, seguindo até o próximo dia 28, tem a distinção de abrir o calendário do audiovisual brasileiro no ano. Essa temporalidade adquire caráter ainda mais relevante em 2023 por este janeiro ser aquele que marca o início do governo Lula (PT), com os movimentos de reconstrução do Ministério da Cultura e de busca por destravamento de recursos e políticas culturais, para citar ações gerais. A 26ª edição da Mostra de Tiradentes se norteia pela temática “Cinema Mutirão”, que ressalta não só a ideia de coletividade e união, mas de esforço conjunto em prol de algo comum, em diálogo com o contexto do País. Em entrevista à coluna Cinema&Séries, o coordenador curatorial e curador de longas Francis Vogner dos Reis destaca aspectos que despontam a partir do tema, como modos de produção e necessidade de repensar políticas públicas.
Francis observa que as produções selecionadas da edição de Tiradentes refletem, como costuma acontecer a cada ano, “o resultado de algum tipo de política cultural, de pequeno, médio ou longo prazo”. “A maior parte dos filmes não foi feita com edital, ou ao menos não com editais recentes”, ressalta sobre 2023. Isso aponta, segundo o curador, para o fato de que eles foram possíveis a partir de “esforço coletivo” ou tiveram realização que perdurou por mais tempo.
“Se o cinema brasileiro independente — ou seja, à margem de editais ou com editais pequenos — era realizado de maneira muito célere, cada vez mais tem se tornado realidade o fato de realizadores acreditarem que é necessário um tempo maior de realização dos trabalhos”, analisa. Para Francis, este aspecto tem relação tanto com questões econômicas quanto criativas.
“Tenho acompanhado algumas produções que têm sido feitas de maneira fracionada, então é possível ver, nesses filmes, outro tipo de demanda criativa que diz respeito à economia do tempo”, ressalta. “Isso é curioso em um momento em que se vê que o grande mercado audiovisual — onde circula o dinheiro grande, como por exemplo as plataformas de streaming — tem uma produção em ritmo acelerado, industrial, o que gera um monte de problemas do ponto de vista trabalhista e de fatura final e estética dos filmes”, pondera.
Ressaltando uma produção brasileira que se faz “na contramão dessa lógica do tempo, que também é uma lógica econômica”, Francis destaca a homenagem da edição deste ano da Mostra para a dupla de cineastas Glenda Nicácio e Ary Rosa, que assinam filmes como “Café com Canela” (2017) e “Ilha” (2018).
Para o curador, a filmografia da produtora Rosza Filmes é “emblemática” por ter sido realizada majoritariamente “nisso que a gente está chamando de maneira genérica de ‘cinema mutirão’”. “A ideia de ‘mutirão’ não existe num contexto em que as coisas funcionam plenamente do ponto de vista institucional e político. O mutirão é uma coisa feita a partir das condições, da soma de competências e da ideia de necessidade — ou seja, se a necessidade é fazer filmes, somam-se esforços”, reflete.
A homenagem, Francis compreende, é “sobretudo à Rosza Filmes, que é um conjunto de pessoas que se conhecem, trabalham juntas há muito tempo e não tem só em comum o trabalho num mesmo filme, mas uma partilha criativa”. A cerimônia de abertura da Mostra, na noite desta sexta, 20, irá contar com um momento para os homenageados.
O modo “mutirão”, defende o curador, se relaciona com as circunstâncias concretas dos últimos anos, mas também depõe acerca de outra lógica de produção em si. “Os filmes refletem uma necessidade das políticas públicas olharem para esses modos e lógicas de produção que se dão em outro tempo e em outra distribuição de competências — ou seja, um modo de trabalho coletivo e criativo que é diferente daquele que a gente está acostumado no modelo macroindustrial do cinema”, elabora.
“Nós temos uma realidade material e circunstancial que faz ser necessário para a política pública, em vez de partir de um ideal de produção ao qual os projetos devam se adequar, partir da experiência concreta para potencializá-la”, segue Francis. “Ainda que modelos surjam das circunstâncias não ideais, é necessário olhar para os modos de trabalho e poder ter uma política pública que consiga potencializar do ponto de vista material, do dinheiro, essas experiências que são alternativas às do modelo industrial”, relaciona.
26ª Mostra de Cinema de Tiradentes
Quando: até 28 de janeiro Mais informações e programação on-line disponíveis no site
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