Gravado no Jangurussu, clipe "Rolê de nave" ganha exibição no Cinema do Dragão
João Gabriel Tréz é repórter de cultura do O POVO e filiado à Associação Cearense de Críticos de Cinema (Aceccine). É presidente do júri do Troféu Samburá, concedido pelo Vida&Arte e Fundação Demócrito Rocha no Cine Ceará. Em 2019, participou do Júri da Crítica do 13° For Rainbow.
Gravado no Jangurussu, clipe "Rolê de nave" ganha exibição no Cinema do Dragão
Filme-clipe de "Rolê de nave", música do artista cearense Assun, terá exibição especial e gratuita no Cinema do Dragão; pocket show dá sequência à programação
Em 2014, o cearense Assun lançou o clipe de "Rolê de bike", definido por ele como "a visão de um garoto periférico andando e vivenciando Fortaleza de bicicleta e denunciando as mazelas". Quase dez anos depois, ele lança o filme-clipe de "Rolê de nave", prévia de "INXAME", álbum do artista que será lançado em 2024. A produção — concretizada a partir de intenso trabalho coletivo — ganha exibição especial e gratuita no Cinema do Dragão neste domingo, 6, às 16 horas, seguida de bate-papo com a equipe. Depois, na Arena Dragão do Mar, acontece o pocket show "Lai vem o INXAME".
"A ligação entre as duas produções é essa visão de um artista periférico preto que mora em Fortaleza e observa as coisas que acontecem ao redor. 'Rolê de nave' tem basicamente a mesma história, só que de 'nave', o carro. O mesmo menino periférico, agora em ascensão social, enxerga o mundo da mesma forma e a cidade continua com questões e problemas principalmente para as pessoas da periferia", relaciona, em entrevista à coluna.
Apesar das semelhanças de essência, as obras audiovisuais têm diferenças em especial na estrutura e orçamento. A produção amadora de "Rolê de bike" deu lugar a uma experiência estruturada, com equipe e elenco amplos.
A música tem participações de Léo Suricate, Caiô e Doixton, que também estão no filme. Assun conta que tanto ele quanto os três passaram por experiências de repressãopolicial nas trajetórias, situação abordada pela canção e pelo clipe.
"Ele fala sobre uma realidade inerente a todo jovem de periferia: a forma com que o Estado armado chega colocando todo mundo como 'marginal', sendo que favela e periferia são lugares de gente trabalhadora, lutadora, criativa", afirma.
As filmagens ocorreram no Residencial José Euclides, no Jangurussu, contando com moradores da vizinhança. É especialmente por isso que Assun celebra a oportunidade conseguida pelo grupo de um ônibus para os moradores da região poderem ir e voltar da programação no Dragão.
"Pra gente, não ia ter graça chegar, gravar as paradas, sair fora e eles nem terem a oportunidade de assistir ao seu lugar no cinema. Muitas das pessoas vão pro Dragão do Mar, quiçá ao cinema, pela primeiravez na vida", ressalta o artista.
"Esse 'start' na mente da galera é de extrema importância, porque um pivete pode pensar 'cara, também posso e consigo fazer isso' e mudar a realidade ao redor dele", antevê Assun, reforçando a crença no poder da criação e da cultura.
"A gente sofreu e sobreviveu à violência policial, mas não revidou com violência. A gente pegou a bagagem de ódio e tristeza, falou sobre, transformou e devolveu em forma de arte, eternizou no audiovisual. Isso dói muito mais do que tapa na cara, coronhada ou cassetete. Isso machuca muito mais o sistema do que o sistema machucou a gente um tempo atrás", sustenta.
Rolê no cinema e além
A exibição especial de "Rolê de nave", um clipe, no Cinema do Dragão é uma experiência que abre espaço para um formato popular, mas geralmente visto e difundido pelo celular. Conforme a curadora e programadora Kênia Freitas, a escolha se alinha ao "desejo de pensar a programação para além do que tradicionalmente se considera cinema".
"É pensar como um cinema público pode estar em diálogo com a produção audiovisual que abarca esses outros produtos que, muitas vezes, circulam nas redes sociais, mas são também importantes para o entendimento dos caminhos de construção de cinema e audiovisual da contemporaneidade", aponta.
A sessão do filme-clipe ser seguida de pocket show de Assun reforça o gesto de "abertura" da ocasião, como define Kênia. "O momento de exibição, mais imersivo, também pode estar diretamente conectado com programações culturais que vão para além da sala de cinema", defende.
"É esse desejo do cinema mais aberto, conectado à programação cultural de diversos setores, valorizando a qualidade de exibição, a experiência e o que se pode proporcionar quando a gente leva para esse lugar produtos que em geral não são exibidos na tela grande", segue a curadora.
Na avaliação de Assun, a oportunidade de parceria com o equipamento é de "extrema importância". "O Dragão realmente foi muito essencial por abrir essas portas. Tô realmente muito feliz de poder estar trabalhando com essa galera", celebra, ressaltando o diálogo "horizontal" com a atual gestão do centro cultural, comandada pela superintendente Helena Barbosa.
"Os artistas novos que estão vindo aí tem, agora, uma oportunidade única de conseguir firmar e alavancar as carreiras trazendo o Dragão do Mar como um grande parceiro e colaborador", reconhece.
Ficha técnica
Direção: Lucas Degas, com assistência de Vinícius Cabral e codireção de Léo Suricate e Tiago Maia
Produção executiva e roteiro: Igor Castor
Elenco: Vinicius Silva, Caiô, Léo Suricate e Doixton
Exibição de "Rolê de nave", seguida do pocket show "Lai vem o INXAME"
Quando: domingo, 6, às 16 horas
Onde: Cinema do Dragão e Palco Rogaciano Leite (rua Dragão do Mar, 81)
Gratuito, mediante retirada de ingresso na bilheteria do Cinema a partir das 14 horas; show com acesso livre
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