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Diretor e produtora falam sobre filme cearense "Estranho Caminho"
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João Gabriel Tréz é repórter de cultura do O POVO e filiado à Associação Cearense de Críticos de Cinema (Aceccine). É presidente do júri do Troféu Samburá, concedido pelo Vida&Arte e Fundação Demócrito Rocha no Cine Ceará. Em 2019, participou do Júri da Crítica do 13° For Rainbow.

João Gabriel Tréz arte e cultura

Diretor e produtora falam sobre filme cearense "Estranho Caminho"

Premiado filme cearense "Estranho Caminho", dirigido por Guto Parente, está no páreo para ser representante do Brasil no Oscar 2024
Tipo Notícia
Filme cearense
Foto: divulgação Filme cearense "Estranho Caminho", de Guto Parente

Na disputa por uma vaga na categoria de Melhor Filme Internacional do Oscar 2024, o Brasil pode ter como representante uma premiada produção cearense financiada por políticas públicas estaduais e federais. "Estranho Caminho" está na lista de obras no páreo para representar o País na premiação. Em entrevista à coluna, o diretor Guto Parente e a produtora Ticiana Augusto Lima falam do processo até aqui, das expectativas para a decisão final e do cenário do cinema cearense.

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O POVO - É inegável o amplo apelo que o Oscar tem com o grande público. Neste sentido, como vocês têm sentido a repercussão desse processo de pré-seleção para representar o Brasil no evento?

Guto Parente - É verdade. O Oscar tem uma força muito grande no imaginário das pessoas. Fico bem impressionado. A repercussão dessa pré-seleção nacional está sendo enorme. O que tem despertado muita atenção para o filme, muito interesse. E isso é maravilhoso. Principalmente pelo fato de estarmos falando de um filme feito do nosso jeito, de maneira totalmente independente e sem nunca ter buscado atender a qualquer expectativa estética do mainstream. É quase irônico. É o cinema independente entrando de penetra na festa. Mesmo que o filme não venha a ser o representante final, já tem muita coisa boa acontecendo. E a gente tem que aproveitar a onda para fazer boas manobras. Independentemente de eu ter minhas convicções pessoais e críticas a várias coisas que giram em torno de tudo isso, eu quero que o filme seja visto pelo maior número possível de pessoas, o que inclui os milhares de entusiastas do Oscar.

Ticiana Augusto Lima - Estreamos o filme há pouco menos de três meses em Nova Iorque no Festival de Tribeca, onde ele foi agraciado com todos os prêmios aos quais estava concorrendo. Esse fato inédito, inclusive para a história do Festival, transformou a surpresa no dia da cerimônia em euforia. Agora estamos vivendo mais essa emoção de ter o filme nessa lista curta dos pré-selecionados indicados pela Academia Brasileira de Cinema. É impressionante perceber o alcance que uma indicação dessa traz. Como a nossa vontade é que ele seja visto pelo maior número de pessoas, dá gosto de ver o filme que fizemos e acreditamos sendo noticiado de uma maneira mais abrangente. "Estranho Caminho" vem nos proporcionando vitórias, alegrias e comemorações. E isso é muito bom.

OP - Vocês tiveram que fazer alguma defesa ou "pré-campanha"? Que expectativas têm para a escolha final?

Guto - Até agora a única coisa que fizemos foi inscrever o filme. Figurar na lista dos seis finalistas, trazendo visibilidade para o cinema cearense, já me parece mais do que suficiente para celebrar. Quem for escolhido no dia 12 terá de fazer uma campanha pesada nos Estados Unidos para que os membros da Academia assistam ao filme e votem, o que envolve muita energia e dinheiro.

Ticiana - Ainda não tivemos que fazer nenhuma defesa ou pré-campanha. Nesse momento, o filme fala por si e defende com a própria forma fílmica a disputa pela vaga na escolha final. Estamos ao lado de filmes fortes de cineastas que admiramos. O que vier a ser o resultado na próxima terça já será uma alegria para nós.

OP - Na lista inicial de habilitados havia dois cearenses e, na lista reduzida, o Ceará segue representado por "Estranho Caminho". O que isso reflete sobre a produção do Estado?

Guto - Já tem bastante tempo que o cinema cearense vem conquistando cada vez mais destaque no cenário nacional e internacional, sendo exibido em festivais importantes, ganhando prêmios, emocionando espectadores. E eu acredito que, para além das nossas singularidades artísticas, que já provaram ser capazes de fazer filmes muito bons e relevantes com bem pouco, isso tudo é resultado direto das ações de descentralização de recursos federais implementadas no governo Dilma e pelo aprimoramento das políticas públicas de formação e fomento à produção da Secult-CE ao longo das duas últimas décadas. Tem que melhorar? Muito, com certeza. E quando isso acontecer pode ser que tenha filme cearense finalista para concorrer ao Oscar todo ano, ganhando Palma de Ouro em Cannes ou fazendo 1 milhão de espectadores.

Ticiana - A produção cearense audiovisual é forte, intensa e múltipla. O outro filme que estava na disputa ("Mais Pesado é o Céu", de Petrus Cariry) estreou também recentemente e foi premiado no Festival de Gramado. É importante destacar que "Estranho Caminho" não é um caso isolado, e sim parte de um setor criativo efervescente, competente e artisticamente muito qualificado.

Filme cearense "Estranho Caminho", de Guto Parente, com Lucas Limeira e Carlos Francisco
Foto: divulgação
Filme cearense "Estranho Caminho", de Guto Parente, com Lucas Limeira e Carlos Francisco

OP - "Estranho Caminho" foi financiado pela Lei Aldir Blanc. Como avaliam a importância de uma produção cearense, concretizada por políticas públicas, estar conquistando esses reconhecimentos?

Guto - Tudo o que traz visibilidade para o nosso cinema, traz visibilidade para o nosso Estado e confirma o quanto é indispensável o investimento contínuo e cada vez mais amplo de recursos na arte e cultura. A Lei Aldir Blanc foi uma medida emergencial proposta pela deputada Benedita da Silva (PT) em resposta ao deliberado projeto de destruição da arte e da cultura brasileira posto em prática pelo último (des)governo. O sucesso do filme, financiado pela Lei, reitera essa resposta. E evidencia o quanto a Secult-CE foi uma das secretarias que melhor souberam distribuir esses recursos. Quase nenhum Estado brasileiro teve os editais de produção que nós tivemos.

Ticiana - "Estranho Caminho" começou a ganhar forma em meio à pandemia, em meados de março de 2020. Em outubro de 2020, com o lançamento da Lei Aldir Blanc no Estado do Ceará foram possibilitados mais de 18 projetos de longa-metragem a serem rodados no ano de 2021. Sem contar curtas, roteiros sendo desenvolvidos, cineclubes e processos de formação. A geração de emprego e renda para o setor cultural foi expressiva. Em meio ao mercado, já ouvi muitos colegas produtores agradecerem pelo Ceará ter salvo o Brasil nas últimas eleições. Acho que cabe pensar um paralelo com um dever que o Estado tem de manter a renovação e o resgate da cultura como meio de expressão e de oportunidades de trabalho da indústria criativa.

Filmes pré-selecionados

  • "Estranho Caminho", de Guto Parente
  • "Noites Alienígenas", de Sergio de Carvalho
  • "Nosso Sonho - A História de Claudinho e Buchecha", de Eduardo Albergaria
  • "Pedágio", de Carolina Markowicz
  • "Retratos Fantasmas", de Kleber Mendonça Filho
  • "Urubus", de Claudio Borrelli


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