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IA e economias contra hegemônicas: o que está em disputa?
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É mestra em Sociologia Jurídica pela Universidade de São Paulo (USP) e doutora em Sociologia pela Sorbonne, Université René Descartes (Paris V). Criou e coordenou a Especialização em Gestão Cultural e o Mestrado Profissional em Gestão de Negócios Turísticos da UECE, onde é professora. Foi secretária municipal de Cultura e Turismo do município de Aracati (CE), superintendente do SENAC no Ceará (2001-2002) e secretária da Cultura do Estado (2003-2006). Foi responsável pela criação da Secretária da Economia Criativa do Ministério da Cultura. Atualmente, dirige o Observatório de Fortaleza do Instituto de Planejamento de Fortaleza (IPLANFOR)

Cláudia Leitão arte e cultura

IA e economias contra hegemônicas: o que está em disputa?

.A inteligência artificial não pode ser refém do mercado, mas instrumento de emancipação das populações, pois os avanços tecnológicos são, em sua grande maioria, resultado de investimento público
Tipo Opinião
O Brasil precisa fazer um debate sobre a regulamentação da inteligência artificial, para que as novas tecnologias não provoquem um
Foto: Adobe Stock O Brasil precisa fazer um debate sobre a regulamentação da inteligência artificial, para que as novas tecnologias não provoquem um "estrago inimaginável" no mercado de trabalho, de acordo com o ministro do Trabalho e Emprego, Luiz Marinho

A Cúpula de Ação em Inteligência Artificial (IA) assumiu recentemente como seu maior desafio o enfrentamento da hegemonia dos interesses de grandes grupos econômicos e de seus impactos no desenvolvimento tecnológico e na governança das nações. Mariana Mazzucato alerta sobre o perigo da dominação das "big techs" sobre a IA, capturada pelos usos tortos e escusos da plutocracia global.

Afinal, a IA não pode ser refém do mercado, mas instrumento de emancipação das populações. Ora, os avanços tecnológicos são, em sua grande maioria, resultado de investimento público, embora acabem sempre sendo apropriados por discursos "liberais" que esvaziam e deslegitimam o Estado de suas funções.

O "Departamento de Eficiência Governamental" de Trump, conduzido por Elon Musk, simboliza, em sua recente ação de demissões em massa, o desprezo pela expertise do Estado e sua capacidade formuladora de políticas públicas. Triste ironia. Foram os subsídios governamentais de 5 bilhões de dólares que permitiram à Tesla de Musk a sua existência e sustentabilidade.

Em meio a um turbilhão de algoritmos, instrumentalizados para a proliferação de conteúdos ilegais e engajamentos suspeitos, o Estado deve assumir novas tarefas, reconhecendo a importância estratégica do conhecimento aberto e o valor das novas economias dispostas a quebrar o domínio e o controle de dados em favor do conhecimento produzido entre e para todos.

Ronaldo Lemos nos lembra que "o Brasil é um laboratório permanente de experimentação" e observa, que "temos uma imensa capacidade de absorvermos e remixarmos referências externas, criando algo totalmente novo e original". Essa vocação é um ativo essencial para que possamos avançar rumo a um outro desenvolvimento.

Por isso, é impossível abrir mão do Estado (executivo, legislativo e judiciário) e de seu compromisso com novos marcos legais para a inovação, a inteligência artificial e a economia criativa. Como enfatiza Mazzucato: "não se trata de escolher entre inovação e regulamentação, mas de criar incentivos e condições para direcionar os mercados a entregar os resultados que desejamos como sociedade". n

 

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