Jornalista formado pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Desde 1991, atua nas redações dos principais jornais cearenses. Trabalha no O POVO desde 1995. Passou pelas editorias Cidades (como repórter e editor), Ciência & Saúde (repórter), editor de Primeira Página, Núcleos de repórteres especiais e de Jornalismo Investigativo e Núcleo Datadoc, de jornalismo de dados. Hoje, é repórter especial de Cidades. Vencedor de mais de 40 prêmios de jornalismo, incluindo nacionais e internacionais
Dom Edmilson da Cruz, 100 anos, sacerdote mais longevo da igreja brasileira, diz que o legado de Francisco precisa ser continuado pelo papa Leão XIV
Foto: FÁBIO LIMA
Dom Edmilson da Cruz, 100 anos, acompanhou atento a nomeação do novo papa Leão XIV : "muita esperança"
- Dom Edmilson, o senhor lembra o nome de todos os papas que conheceu? Na sua vida religiosa ou mesmo quando ainda era criança? - O papa Pio XII foi o primeiro. Depois veio João XXIII. Depois Paulo VI. Depois João Paulo I. E depois João Paulo II, que ficou por muitos anos. (Chega a indicar que o seguinte seria Francisco, mas se corrige em seguida.) Depois veio Bento XVI e depois o papa Francisco.
Que memória! Dom Edmilson da Cruz, 100 anos de idade, lembra toda a sequência de pontífices a quem já dedicou obediência. Em ordem cronológica, não errou nenhum da lista - agora atualizada. Destaca a marca deixada por João XXIII, a sabedoria de Bento XVI, a presença de João Paulo II, o carisma e a resistência de Francisco. O bispo mais longevo da Igreja Católica no Brasil alcança seu oitavo papa com a consagração do cardeal Robert Prevost, 69, nascido nos Estados Unidos, escolhido e acolhido como Leão XIV pelos fiéis católicos.
"Numa mesma vida isso é coisa rara", exalta o próprio feito. Ele se diz contente com a indicação do sucessor de Francisco, que morreu no último dia 21 de abril. "Há muita esperança. Fiquei feliz pela escolha do nome Leão. Houve grandes papas na história com esse nome Leão".
Foto: Alberto PIZZOLI / AFP
Robert Francis Prevost no balcão da Basílica de São Pedro, após ser anunciado papa Leão XIV
Na quinta-feira, 8, antes das seis da manhã, já estava um dom Edmilson inquieto dentro de casa, apreensivo. Nem havia tomado o café e quis ir logo cedo para a TV. Quis acompanhar o resultado da primeira votação do dia do conclave. A chaminé da capela sistina acabou não confirmando nada, a fumaça ainda saiu escura naquele momento. Mas o sacerdote acreditou, e verbalizou, que o Espírito Santo iria se manifestar rapidamente.
Foi advertido que precisaria primeiro se alimentar, haveria um tempo até o próximo escrutínio, com resultado previsto para o início da tarde (hora de Brasília). "Pois deu 10h30min e ele já ficou chamando, se sentou e ficou na frente da TV vendo tudo. Não saiu de perto", descreve Irmã Fátima, cuidadora de muitos anos do religioso.
Às 13h07min (de Brasília) a fumaça branca se espalhou pelo céu de Roma, na praça São Pedro e anunciou a boa nova. Deu-se a expectativa de dom Edmilson, o colégio de cardeais foi mesmo rápido para chancelar o novo líder católico. Na sala, o espectador, com a ansiedade amenizada, pôs-se atento à primeira fala do pontífice. Prevost é conhecido como "pastor de duas pátrias", por ter nascido nos EUA e também ter a nacionalidade peruana. Por duas décadas, foi missionário, pároco, bispo e cardeal no país andino.
"Minhas impressões são muito boas. Ele é uma pessoa que parece que terá um pontificado que vai durar muitos anos. É bastante jovem e o rosto de um homem sadio. Parece uma pessoa muito objetiva", descreveu, inteirado sobre o perfil de Leão XIV. Dom Edmilson não deixa de querer saber das notícias, de guardar informações. Seu tempo não para. Na parede da sala, o registro de quando ele e o então arcebispo de Fortaleza, dom Aloísio Lorscheider, recepcionaram João Paulo II na visita à capital cearense, em 1980.
Foto: CLÁUDIO RIBEIRO
Registro de dom Edmilson da Cruz (à esquerda), ao lado do então arcebispo de Fortaleza, dom Aloísio Lorscheider, na recepção ao papa João Paulo II, em 1980, na capital cearense
O trabalho deixado por Francisco impressiona dom Edmilson. "Ele deixou um legado para o mundo. Eu tinha por ele muito respeito, consideração, mas não imaginei que fosse tanto a pessoa dele, a influência que ia exercer sobre o tempo, é uma coisa que a gente percebe como está acontecendo". Esse comentário sobre o papa argentino foi em uma conversa ainda no último dia 5, antevéspera do conclave ser iniciado.
"Me parece que o próprio modo de ser dele ao tratar as pessoas, os gestos de inocência. Ele se aproxima das pessoas, beija as crianças, as pessoas o beijam. Isso fala muito mais do que a palavra mesmo e fica muito mais na pessoa e transforma a pessoa", destacou mais de Francisco. "Essa realidade de ser do modo dele, de falar com todo mundo, de se aproximar de pessoas que a gente mal imaginaria em outros tempos, isso continua agindo, influenciando muito além".
Mesmo antes da confirmação de Leão XIV, projetou a responsabilidade a quem assumiria o pontificado: "É uma bênção de Deus que o novo papa seja continuador". Para dom Edmilson, o modelo vivido pelo papa argentino "é alguma coisa que me parece muito aceita". Seria um caminho sem volta.
Foto: CARLOS SILVA/ DIVULGAÇÃO
Dorothy Stang, missionária norte-americana assassinada em 2005 no Pará
Não se surpreendeu com a preferência por um sacerdote norte-americano. "Os católicos americanos são muito dedicados". Citou a irmã Dorothy Stang, de quem foi muito próximo. A missionária viveu no Brasil por vários anos, até ser assassinada em 2005, no interior do Pará, por conta do seu ativismo ambiental na região amazônica. Dom Edmilson a conheceu e disse ter ido duas vezes na casa dela nos Estados Unidos. Acredita que a atuação de Prevost como religioso no Peru poderá favorecer a igreja brasileira aos olhos de Leão XIV. "É favorável sim ao Brasil. Ele ter convivido aqui na América Latina é muito importante".
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