Bacharel em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Ceará (2009), mestre (2012) e doutor (2016) em Sociologia pelo Programa de Pós-Graduação em Sociologia da UFC. Apresentando interesse pela Sociologia Política e Ciência Política. Pesquisador do Laboratório de Estudos sobre Política, Eleições e Mídia (Lepem-UFC), atua como palestrante e analista político, colaborando com movimentos sociais, associações e imprensa
.Em política, a crítica é legítima - e necessária. Mas quando a oposição aspira se tornar governo, ela precisa oferecer mais do que discordâncias: precisa apresentar caminhos, ideias e compromissos
Foto: João Filho Tavares e Daniel Galber/Especial para O POVO
Outrora opositores entre si, Capitão Wagner (União Brasil) e Ciro Gomes (PDT) unem forças contra governo Elmano de Freitas (PT)
A tentativa de unificação da oposição no Ceará, reunindo figuras como Ciro Gomes, Roberto Cláudio e lideranças bolsonaristas, lança luz sobre um fenômeno político que exige análise cuidadosa: a construção de uma aliança entre grupos com visões historicamente antagônicas. O que, à primeira vista, pode parecer um movimento tático em nome da competitividade eleitoral, revela, na prática, um campo repleto de contradições - não apenas ideológicas, mas programáticas. Ciristas e bolsonaristas sempre ocuparam lugares opostos no debate público.
Ciro Gomes construiu sua imagem política como formulador de um projeto nacional desenvolvimentista, defensor do Estado como indutor do crescimento e das políticas públicas como ferramentas de transformação social. Já o bolsonarismo é marcado justamente pela negação dessas premissas: nega a centralidade do Estado, deslegitima o conhecimento científico e aposta no enfraquecimento das instituições públicas em favor de uma lógica autoritária e ultraliberal. Enquanto o cirismo valoriza a pesquisa na formulação de políticas públicas - posição que se refletiu nas ações de enfrentamento à pandemia na gestão de Roberto Cláudio -, o bolsonarismo é sinônimo de negacionismo. Também há um abismo em relação à diversidade. O discurso bolsonarista ataca de forma sistemática os direitos de minorias, alimenta a intolerância religiosa e ridiculariza políticas de inclusão. Já os ciristas, ao menos formalmente, sempre dialogaram com uma agenda comprometida com a ampliação de direitos.
Essas diferenças não são meramente retóricas. Elas têm impacto direto na formulação e execução das políticas públicas. São visões de mundo, de Estado e de sociedade profundamente distintas - e muitas vezes inconciliáveis. Nesse contexto, a pergunta que se impõe é inevitável: o que sustenta essa aliança? A resposta parece girar em torno de um antipetismo difuso e de uma rejeição política ao grupo que hoje governa o Ceará. Mas a negação, por si só, não é um projeto. A política que se organiza apenas pelo ressentimento corre o risco de virar ruído - e não alternativa.
A volta de Ciro Gomes ao debate estadual poderia representar uma oportunidade para renovar o debate sobre o futuro do Ceará. No entanto, o que se observa é um movimento de regressão: um alinhamento a setores que negam tudo aquilo que ele próprio defendeu durante décadas. Aquele que dizia carregar um "projeto de Brasil" agora parece embarcar em um palanque que não sabe dizer que projeto tem para o estado. Em política, a crítica é legítima - e necessária. Mas quando a oposição aspira se tornar governo, ela precisa oferecer mais do que discordâncias: precisa apresentar caminhos, ideias e compromissos.
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