A transição energética, os empregos e o futuro do Ceará
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Bacharel em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Ceará (2009), mestre (2012) e doutor (2016) em Sociologia pelo Programa de Pós-Graduação em Sociologia da UFC. Apresentando interesse pela Sociologia Política e Ciência Política. Pesquisador do Laboratório de Estudos sobre Política, Eleições e Mídia (Lepem-UFC), atua como palestrante e analista político, colaborando com movimentos sociais, associações e imprensa
A transição energética, os empregos e o futuro do Ceará
O Estado não quer apenas produzir energia limpa. Quer articular conhecimento, inovação, desenvolvimento e trabalho de qualidade. O desafio, portanto, é não perder a janela histórica que se abre. Porque, como toda janela, ela se fecha
Foto: JÚLIO CAESAR
ARACATI-CE,BRASIL, 06-06-2024: Especial Transição Energética Justa. Comunidade do Quilombo do Cumbe comentou sobre os impactos dos parques eólicos onshore e a preocupação com os parques offshore. (Foto: Júlio Caesar/O Povo)
O mundo do trabalho vive uma de suas mais profundas inflexões históricas. A recém-publicada edição do The Future of Jobs Report 2025, do Fórum Econômico Mundial, não deixa dúvidas: estamos diante de uma reconfiguração que não é apenas tecnológica, mas também econômica, geopolítica e civilizatória. A convergência entre inteligência artificial, digitalização acelerada e transição energética redesenha mercados, reorganiza cadeias produtivas e redefine os próprios sentidos do trabalho. Nesse cenário, uma macrotendência se impõe: a transição verde. Trata-se de um processo que desloca estruturas produtivas, mas que também abre janelas para quem souber se mover no tabuleiro. O Ceará, nesse contexto, é um caso paradigmático.
Somos, ao mesmo tempo, exemplo e alerta. Exemplo porque o Estado ocupa uma posição geoeconômica estratégica na nova economia verde global. Ventos constantes, alta irradiação solar e uma logística conectada ao Atlântico transformam o Porto do Pecém em um dos hubs mais promissores para a produção e exportação de hidrogênio verde no mundo. Mas somos também alerta. Nossa história econômica carrega as marcas de ciclos extrativistas - do algodão à carnaúba, da pecuária ao caju e a lagosta - que geraram riqueza, mas pouco desenvolvimento e grandes desigualdades. A pergunta que não quer calar é: vamos, outra vez, ser meros fornecedores de energia, ou conseguiremos transformar esse ciclo em vetor de desenvolvimento social, inclusão produtiva e geração de trabalho qualificado?
É nesse ponto que ações como o Projeto H-Tec, uma iniciativa do Governo do Estado, em parceria com o Centec e outras instituições, oferece uma das respostas mais concretas a esse dilema. O programa prevê a formação de 12 mil profissionais até 2027, distribuídos em cadeias como energia solar, eólica e hidrogênio verde. Mas não se trata apenas de formação. Trata-se da construção de uma infraestrutura tecnológica de ponta. Até o final do projeto, treze laboratórios especializados serão distribuídos em várias regiões do Estado, alinhados com a lógica de desenvolvimento regional.
O movimento é claro: o Ceará não quer apenas produzir energia limpa. Quer articular conhecimento, inovação, desenvolvimento e trabalho de qualidade. O desafio, portanto, é não perder a janela histórica que se abre. Porque, como toda janela, ela se fecha. A escolha é clara. Podemos ser protagonistas de um ciclo virtuoso de desenvolvimento sustentável, social e econômico. Ou podemos repetir, agora pintada de verde, a velha história da dependência e da subalternidade. No limite, o que está em jogo não é apenas o amanhã do setor energético. É, sobretudo, o futuro do trabalho e da soberania do povo cearense.
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