Bacharel em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Ceará (2009), mestre (2012) e doutor (2016) em Sociologia pelo Programa de Pós-Graduação em Sociologia da UFC. Apresentando interesse pela Sociologia Política e Ciência Política. Pesquisador do Laboratório de Estudos sobre Política, Eleições e Mídia (Lepem-UFC), atua como palestrante e analista político, colaborando com movimentos sociais, associações e imprensa
O Brasil poderá recolocar o Sul Global no centro da agenda climática mundial - não apenas como vítima das desigualdades ambientais, mas como articulador de um novo paradigma
Foto: Pablo PORCIUNCULA/AFP
France's President Emmanuel Macron and Brazil's President Luiz Inacio Lula da Silva wave after a bilateral meeting within the framework of the COP30 UN climate conference in Belem, Para State, Brazil on November 6, 2025. (Photo by Pablo PORCIUNCULA / AFP)
A COP30, que se inicia em Belém, é mais do que um evento global sobre o clima. É um espelho das contradições do nosso tempo. A emergência climática deixou de ser previsão científica e tornou-se parte da experiência cotidiana. Ondas de calor recordes, enchentes urbanas, colapsos hídricos e queimadas fora de controle tornaram-se parte de uma nova normalidade.
A mudança climática é cada vez mais uma realidade que reorganiza economias, políticas e modos de vida. Mesmo diante desse cenário, o negacionismo climático persiste, agora articulado em torno de projetos políticos de extrema direita. Esse movimento, reproduzido em vários países, demonstrou que o negacionismo não é ignorância, mas cálculo político: a defesa de um modelo econômico predatório e excludente travestido de soberania nacional. A COP30, ao ser realizada em território brasileiro, representa uma inflexão simbólica nesse cenário.
O Brasil chega a Belém com a responsabilidade de se afirmar como contraponto ao trumpismo climático, reafirmando a centralidade da Amazônia e da cooperação internacional como pilares de uma nova governança ambiental. O discurso recente do presidente Lula na ONU e no G20 reforça essa disposição: enfrentar a desigualdade ambiental, promover a transição energéticae recolocar o Sul Global como protagonista das soluções planetárias.
É nesse ambiente que emerge a ideia do "consenso de Belém", conceito que propõe um novo pacto civilizatório capaz de articular crescimento econômico, justiça social e sustentabilidade. Diferentemente dos acordos anteriores, marcados por compromissos genéricos e pela ausência de mecanismos de equidade, o consenso de Belém sugere uma virada ética e política: o reconhecimento de que o combate à crise climática depende de uma redistribuição global de poder, renda e tecnologia.
Belém, nesse sentido, pode se tornar o símbolo de um novo horizonte de cooperação entre Norte e Sul, Estado e sociedade, ciência e cultura. A Amazônia, centro geográfico e político da COP30, traduz o dilema global. Nela se concentram as maiores potencialidades de mitigação e os riscos mais graves de colapso.
Liderar esse processo implica coerência interna: combater o desmatamento, regular o uso do solo, valorizar o conhecimento das comunidades tradicionais e incluir os territórios amazônicos nas decisões que os afetam.
Se conseguir liderar o consenso de Belém, o Brasil poderá recolocar o Sul Global no centro da agenda climática mundial - não apenas como vítima das desigualdades ambientais, mas como articulador de um novo paradigma. Essa talvez seja a contribuição mais duradoura que Belém poderá oferecer ao mundo: provar que o futuro ainda pode ser construído a partir da floresta.
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